Rock & God!


Não sou crente, mas respeito os lugares de culto e não gostaria de ver um espetáculo de Marylin Manson na Basílica da Estrela. Há limites para tudo na vida


O nosso querido País, tem tando de bom como de mau. É francamente progressista em certas matérias, mas mantém alguns traços retrogradas e bafientos. Desafia o mundo com rasgos de inovação e irreverência, assim como o espanta com atitudes medievais.

Mas estamos melhor! Muito melhor! Transportar o episódio de Tomar (em rigor da Aldeia de Cem Soldos) do festival Bons Sons para umas décadas atrás era um “Deus nos acuda!” 

A sensação que fica é que existe gente que ficou parada no tempo, mas que ao mesmo tempo reclama, com propriedade, apoio e investimento fora dos grandes centros urbanos. E a verdade é que investimento não tem necessariamente de ser em autoestradas, pontes, complexos industriais, centros de empresas ou infraestruturas em geral. São importantes? São! Mas como já aqui referi em tempos, a grande mais valia do nosso País, e o que o diferencia dos outros, é o contraste entre a sofisticação e a simplicidade. Entre o urbano e o rural. O serviço personalizado em contraponto com o serviço de massas.

Pessoalmente aflige-me a ideia de um País virado para os grandes complexos turísticos em detrimento dos pequenos e alternativos turismos rurais. Assim como não concebo a ideia de um país só com eventos como o NOS Alive ou o Rock in Rio Lisboa.

Iniciativas como o Músicas do Mundo em Sines, ou o Bons Sons em Tomar, são necessárias e complementam o que distingue o nosso País dos demais.

Por isto e por acreditar que a diversidade cultural, assim como a dispersão geográfica dos movimentos culturais, são sempre um benefício para o País fiquei surpreendido com o ruído (não é mais do que ruído) em torno do espetáculo na Igreja de São Sebastião, em Cem Soldos.

Fui tentar perceber o motivo da indignação.

Desde logo, a primeira evidência positiva que encontrei foi o facto de o festival se realizar numa pequena aldeia do concelho de Tomar. Existe até uma tese de mestrado de Sónia Maria Rodrigues Costa, que disserta precisamente sobre “Viver a Aldeia: o Festival Bons Sons e as Formas de Readequação e Reinvenção do Local”. E é precisamente isto que me parece essencial – reinventar o País! E sobretudo reinventar aldeias que aos poucos se vão entregando ao abandono e à desertificação.

Enchemos a boca para falar do flagelo da desertificação do interior e inventamos medidas e isenções fiscais que, como por magia, solucionassem o problema, quando a origem do mesmo é não haver nada que prenda as gentes! Iniciativas como esta, em zonas mais isoladas, atraem pessoas, visitantes e promovem o desenvolvimento local. 

Cem Toldos já tem Airbnb e, pelo menos, de dois em dois anos, engalana-se para receber os visitantes do Festival Bons Sons. Se recuarmos 14 anos e nos lembrarmos o que o Euro2004 trouxe para Portugal e cujo resultado estamos agora, ainda, a sentir, talvez se compreenda que é capaz de não ser tão má ideia o que se está a fazer em Cem Toldos.

Mas o cerne da questão não é o festival em si, mas o facto de um músico – Afonso Dorido, o Homem em Catarse – ter atuado na Igreja local.

Dei o benefício da dúvida! Não sou crente, mas compreendo e respeito os lugares de culto e não gostaria de ver um espetáculo de Marilyn Manson na Basílica da Estrela! Há limites como em tudo na vida!

Fui ver quem seria este abominável Homem da Catarse, para criar tamanha indignação nos fiéis de Cristo! Conclusão: não entendo! Vejam, ou melhor, ouçam no YouTube! Afonso Dorido, exalta na sua música as raízes da música portuguesa, com toques de modernismo elétrico! Nada ofensivo, nada extravagante e, sobretudo, nada desapropriado! Antes pelo contrário, considero uma homenagem à cultura musical nacional.

Convido-vos aliás, antes de fazerem juízos de valor e assimilarem apenas a informação passada nos telejornais, a visitar o site do festival – http://www.bonssons.com/. Vejam os vídeos também, onde se percebe a harmonia entre juventude e os habitantes de Cem Toldos, bem como a importância que o evento tem para uma aldeia que, sem o festival, era apenas mais uma no Portugal profundo.

Parabéns aos organizadores dos Bom Sons! Mais houvessem por este país fora!

O resultado que esta celeuma teve para já, e para mim, é que daqui a dois anos vou marcar presença na aldeia de Cem Toldos! E espero que incentive alguns de vós e que possamos ouvir um concerto na Igreja de São Sebastião. 

 

Escreve à quinta-feira


Rock & God!


Não sou crente, mas respeito os lugares de culto e não gostaria de ver um espetáculo de Marylin Manson na Basílica da Estrela. Há limites para tudo na vida


O nosso querido País, tem tando de bom como de mau. É francamente progressista em certas matérias, mas mantém alguns traços retrogradas e bafientos. Desafia o mundo com rasgos de inovação e irreverência, assim como o espanta com atitudes medievais.

Mas estamos melhor! Muito melhor! Transportar o episódio de Tomar (em rigor da Aldeia de Cem Soldos) do festival Bons Sons para umas décadas atrás era um “Deus nos acuda!” 

A sensação que fica é que existe gente que ficou parada no tempo, mas que ao mesmo tempo reclama, com propriedade, apoio e investimento fora dos grandes centros urbanos. E a verdade é que investimento não tem necessariamente de ser em autoestradas, pontes, complexos industriais, centros de empresas ou infraestruturas em geral. São importantes? São! Mas como já aqui referi em tempos, a grande mais valia do nosso País, e o que o diferencia dos outros, é o contraste entre a sofisticação e a simplicidade. Entre o urbano e o rural. O serviço personalizado em contraponto com o serviço de massas.

Pessoalmente aflige-me a ideia de um País virado para os grandes complexos turísticos em detrimento dos pequenos e alternativos turismos rurais. Assim como não concebo a ideia de um país só com eventos como o NOS Alive ou o Rock in Rio Lisboa.

Iniciativas como o Músicas do Mundo em Sines, ou o Bons Sons em Tomar, são necessárias e complementam o que distingue o nosso País dos demais.

Por isto e por acreditar que a diversidade cultural, assim como a dispersão geográfica dos movimentos culturais, são sempre um benefício para o País fiquei surpreendido com o ruído (não é mais do que ruído) em torno do espetáculo na Igreja de São Sebastião, em Cem Soldos.

Fui tentar perceber o motivo da indignação.

Desde logo, a primeira evidência positiva que encontrei foi o facto de o festival se realizar numa pequena aldeia do concelho de Tomar. Existe até uma tese de mestrado de Sónia Maria Rodrigues Costa, que disserta precisamente sobre “Viver a Aldeia: o Festival Bons Sons e as Formas de Readequação e Reinvenção do Local”. E é precisamente isto que me parece essencial – reinventar o País! E sobretudo reinventar aldeias que aos poucos se vão entregando ao abandono e à desertificação.

Enchemos a boca para falar do flagelo da desertificação do interior e inventamos medidas e isenções fiscais que, como por magia, solucionassem o problema, quando a origem do mesmo é não haver nada que prenda as gentes! Iniciativas como esta, em zonas mais isoladas, atraem pessoas, visitantes e promovem o desenvolvimento local. 

Cem Toldos já tem Airbnb e, pelo menos, de dois em dois anos, engalana-se para receber os visitantes do Festival Bons Sons. Se recuarmos 14 anos e nos lembrarmos o que o Euro2004 trouxe para Portugal e cujo resultado estamos agora, ainda, a sentir, talvez se compreenda que é capaz de não ser tão má ideia o que se está a fazer em Cem Toldos.

Mas o cerne da questão não é o festival em si, mas o facto de um músico – Afonso Dorido, o Homem em Catarse – ter atuado na Igreja local.

Dei o benefício da dúvida! Não sou crente, mas compreendo e respeito os lugares de culto e não gostaria de ver um espetáculo de Marilyn Manson na Basílica da Estrela! Há limites como em tudo na vida!

Fui ver quem seria este abominável Homem da Catarse, para criar tamanha indignação nos fiéis de Cristo! Conclusão: não entendo! Vejam, ou melhor, ouçam no YouTube! Afonso Dorido, exalta na sua música as raízes da música portuguesa, com toques de modernismo elétrico! Nada ofensivo, nada extravagante e, sobretudo, nada desapropriado! Antes pelo contrário, considero uma homenagem à cultura musical nacional.

Convido-vos aliás, antes de fazerem juízos de valor e assimilarem apenas a informação passada nos telejornais, a visitar o site do festival – http://www.bonssons.com/. Vejam os vídeos também, onde se percebe a harmonia entre juventude e os habitantes de Cem Toldos, bem como a importância que o evento tem para uma aldeia que, sem o festival, era apenas mais uma no Portugal profundo.

Parabéns aos organizadores dos Bom Sons! Mais houvessem por este país fora!

O resultado que esta celeuma teve para já, e para mim, é que daqui a dois anos vou marcar presença na aldeia de Cem Toldos! E espero que incentive alguns de vós e que possamos ouvir um concerto na Igreja de São Sebastião. 

 

Escreve à quinta-feira