Bob Woodward tem novo livro: “Fear: Trump in The White House”. Sai a 11 de setembro e excertos da obra de 448 páginas foram divulgados ontem. Mais uma vez, o retrato da Casa Branca de Donald Trump não é dos mais brilhantes. E, como sempre, o presidente já veio atacar o autor no Twitter: “Tantas mentiras e fontes falsas”, escreveu.
As passagens libertadas pela editora para aguçar o apetite da imprensa e aumentar as encomendas do livro mostram uma administração disfuncional, onde Trump exerce como um tirano paranoico que liga pouco aos conselhos dos seus mais próximos e onde, no meio de tantas entradas e saídas, os que ficam se perguntam porque continuam a ficar e os que partem respiram de alívio por finalmente se livrarem do calvário.
Trump publicou, entretanto, no Twitter depoimentos do chefe do gabinete, general John Kelly, e do secretário da Defesa, John Mattis, a negar que alguma vez tenham dito o que a obra de Woodward diz que disseram. A que juntou duas afirmações sobre o livro “chato & falso” e “completa ficção”. Algo a que o veterano e respeitado jornalista – que com Carl Bernstein divulgou o escândalo Watergate que levou à demissão do presidente Richard Nixon – limitou-se a responder, através do “Washington Post”, “mantenho o que relatei”.
E o que relata Woodward? Os insultos com que Trump brinda Jeff Sessions, o seu procurador-geral; os insultos que o seu chefe de gabinete e o seu secretário de defesa lhe dedicam. Alguns deles não são novos, como o facto do general Kelly lhe ter chamado “idiota”, tal como a NBC News avançara em abril e Woodward agora confirma.
O mal-estar entre Trump e Sessions também não é novo. Ainda na segunda-feira, o presidente escreveu no Twitter dois tweets que alguns interpretaram como tentativa de interferência do poder executivo na justiça, dando a entender que Sessions devia ter interferido para travar as investigações de dois “congressistas republicanos muito populares” a pouco tempo das eleições intercalares.
Woodward avança no livro que Trump chamou “atrasado mental” e “estúpido sulista” a Sessions, além de “traidor” por se ter recusado a liderar a investigação à interferência russa nas eleições presidenciais de 2016.
O presidente também chamou “traidor” a Gary Cohn, o conselheiro económico, quando este tentou demitir-se depois de Trump ter considerado que nos incidentes em Charlottesville – em que uma pessoa foi assassinada – “ambos os lados” tinham culpas.
“Não é segredo nenhum que servir na presidência de Trump nem sempre é divertido; chamei-lhe a administração onde o orgulho vai para morrer. Mas cada vez mais o retrato pintado pelos jornalistas como Woordward é que está próxima do relacionamento entre sequestrador-sequestrado”, escreve Aaron Blake no “Washington Post”.
“Não faz sentido tentar convencê-lo de seja o que for. Passou-se. Estamos na Cidade dos Malucos. Nem sequer sei porque é que cada um de nós ainda aqui está. Este é o pior emprego que alguma tive”, terá dito o general Kelly, citado no livro.
Como refere Steve Kiggins, no “USA Today”, aquilo que o livro de Bob Woodward mostra é uma “Ala Oeste em estado de disfunção, se calhar até de degradação”, onde as pessoas que lá trabalham não confiam no presidente, “cada vez mais um tirano paranoico com o nível de maturidade de um aluno da escola primária”.