Arsenal. Contra os canhões marchar, marchar!

Arsenal. Contra os canhões marchar, marchar!


O Sporting volta a encontrar a equipa que o eliminou em 1969, na Taça das Feiras. Fundado em 1886, o Arsenal mudou de nome com frequência. E foi o clube que deu ao mundo o WM, criado pelo técnico Herbert Chapman


Pela segunda vez na história, Sporting e Arsenal vão encontrar-se num confronto europeu oficial. A primeira vez foi no distante ano de 1969, para a Taça das Cidades com Feira, mais tarde Taça UEFA e agora Liga Europa. No fundo, uma repetição.

Não correu bem ao leão esse episódio que aqui recordo. No dia 29 de Outubro, em Alvalade, o empate (0-0) não deixava grandes expectativas para a segunda mão. E, no entanto, enquanto o Sporting era líder do campeonato nacional, o Arsenal vivia uma fase de descrédito, arrastando-se pelo 15.º lugar da liga inglesa.

Ora, batatas! Serviu de muito essa comparação… Os factos desmentiram a anunciada mediocridade britânica. Fernando Vaz, o treinador dos lisboetas, arriscou dentro do possível e os leões estiveram à beirinha do triunfo quando Peres resolveu marcar um penalti em habilidade, com muito jeito, sim senhor, mas fraquinho, fraquinho, permitindo a defesa de Barnett.

As contínuas movimentações de Marinho, Morais, Nelson e Lourenço na frente de ataque não baralharam a dura defesa arsenalista. Robertson, Storey e Neill dominaram as alturas e souberam precaver-se contra a maior qualidade técnica dos portugueses. O resultado podia ter algo de frustrante mas era aceitável. Ao fim e ao cabo, o equilíbrio fora a nota dominante. Mas não iria repetir-se em Londres.

Muito se queixaram os jogadores sportinguistas do frio que sofreram nas margens do Tamisa no dia 26 de Novembro. Ah! Mas lamúrias leva-as o vento. Se, sobre a relva endurecida, a estragégia leonina foi dando os seus frutos na manutenção de um equilíbrio confortável, os erros defensivos minaram por completo qualquer tipo de esperança que pudessem acalentar. Alexandre Baptista, o grande defesa-central da Selecção Nacional em 1966, sofreu a bom sofrer. Primeiro foi demasiado lento a acorrer a um sprint de Radfort que surgiu na frente de Damas para fazer o 1-0; em seguida, não desfez a tempo um centro largo que viria a dar o 2-0. Era o fim. Marinho ainda foi autor de um remate espectacular de força que abanou a barra dos ingleses, mas o 3-0 não tardou e com ele a queda abrupta da qualidade do jogo. Para compensar, Dinis exibiu-se em grande e mostrou que vinha aí mais uma pérola negra para o futebol português.

 

História O tempo passou e o Arsenal volta a surgir no caminho do Sporting. Já não há Highbury, trocado pelo magnífico Emirates, nem o velhinho Alvalade, agora com uma nova versão.

Fundado em 1886, o Arsenal é dos nomes maiores do futebol britânico, embora em termos de conquistas internacionais fique muito longe do Liverpool ou do Manchester United, por exemplo. Aliás, só por uma única vez conseguiu atingir a final da Liga dos Campeões, algo que marca de forma indelével uma certa falta de excelência europeia. Ainda assim, um pouco melhor do que o Sporting. Já em troféus, estão quase iguais: ambos conquistaram a desaparecida Taça dos Vencedores de Taças, mas os “gunners”, como são conhecidos por via do canhão que se destaca no emblema, desempatam com o triunfo na Taça das Feiras de 1969/70, precisamente essa época em que deixaram os leões pelo caminho.

Mas, vamos dar uma saltada ao tal ano de 1886. Um grupo de trabalhadores do Royal Arsenal, de Wolwich, no sudoeste de Londres, avançou para a criação de um clube de futebol que começou por chamar-se Dial Square, adoptando o nome da praça principal do complexo onde estava instalada a fábrica de material de guerra. Chefiados por David Danskin, o primeiro capitão da equipa, esses rapazes eram um bocado indefinidos, se assim se pode dizer. Eu explico: nos tempos que se seguiram o clube foi mudando de nomenclatura quase com a mesma frequência com que o nevoeiro tomba sobre as águas do Tamisa. Não tardou a ser o Royal Arsenal e, pouco depois, o Wolwich Arsenal. É verdade que o Arsenal mantinha-se firme, mas percebia-se que os seus dirigentes não atinavam verdadeiramente com uma decisão definitiva.

Quando atingiu a primeira divisão, em 1904, o Arsenal era Wolwich e jogava no Manor Ground, em Plumstead, no bairro de Greenwich. Em 1913, transferiu-se para o norte de Londres e para o histórico Highbury Park onde viveu os anos mais belos da sua existência. Não tardou a deixar cair o Wolwich e a ficar Arsenal, assim mesmo, só com Football Club a amparar.

Em 1925, um homem chamado Herbert Champman chegou a Highbury para mudar o rumo do futebol mundial. Foi ele que implantou na equipa o sistema de WM que viria, nos anos que se seguiram, a ser adoptado por toda a parte, com registo especial em Lisboa onde traçou uma era no Sporting dos Cinco Violinos construído por Cândido de Oliveira, um entusiasta tão ferrenho da táctica de Chapman que chegou mesmo a escrever um livro sobre a forma como ela deveria ser utilizada perante as características de vários jogadores.

O WM fez do Arsenal uma equipa vitoriosa: campeã em 1930-31, 1932-33, 1934-35, 1935-36 e 1937-38, e vencedora da Taça de Inglaterra em 1929-30 e 1935-36. E Chapman, que morreu de pneumonia em 1934, entrou pelos portões dourados da história do futebol. Fizera uma revolução que não deixara ninguém indiferente.