Sado. Porto de Setúbal nega que dragagens levem à erosão das praias

Sado. Porto de Setúbal nega que dragagens levem à erosão das praias


Projeto de requalificação do Porto de Setúbal prevê dragagens para retirar seis milhões de metros cúbicos de areia do Sado. Ambientalistas dizem que praias da Arrábida estão em risco e ameaçam recorrer à Justiça


Ao contrário do que dizem as associações ambientalistas, a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) nega que exista “qualquer relação” entre as dragagens no rio Sado e o desaparecimento das praias na Arrábida. E adianta que o perigo para o habitat do Sado – incluindo para os golfinhos – são os barcos de recreio e não o maior tráfego de navios.

Ao i, a APSS diz que desde 2004 tem vindo a monitorizar a areia que tem vindo a ser retirada no Sado e que não é “razoável estabelecer qualquer relação causa-efeito entre as dragagens realizadas e a erosão verificada nas praias”. 

Em causa está a polémica criada com o plano apresentado pelo governo para a requalificação e alargamento do Porto de Setúbal – o quatro maior do país – de forma a que seja possível receber navios de maior dimensão. Para que isso aconteça, dentro de dois meses está previsto que comecem a ser realizadas dragagens para retirar seis milhões de metros cúbicos de areia. 

De acordo com as associações ambientalistas a obra teve luz verde da Associação Portuguesa do Ambiente (APA) sem que tivessem sido conhecidos os estudos de impacto nas correntes e na costa. Por isso, ao “DN”, o Clube da Arrábida já fez saber que vai avançar para a Justiça para tentar travar a obra. 

Também a Câmara de Setúbal já se juntou ao coro de críticas e na semana passada o executivo da autarquia aprovou, por unanimidade, uma recomendação apresentada pelo PSD que exige à APSS que sejam tomadas as “necessárias ações de minimização e compensação de forma a mitigar ou anular os efeitos” das dragagens, avançou o “Setúbal Mais”.  

 

A redução das praias

Além do Clube da Arrábida também a Quercus diz que o desassoreamento vai ter consequências “irreversíveis”, sobretudo para a vida marinha no estuário e vai levar ao desaparecimento das praias da Arrábida. 

Já em 2017 o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG)  alertava para a redução acentuada das praias da Arrábida. Como exemplo, o LNEG referia que o Portinho da Arrábida (uma das mais conhecidas) estava reduzida a um terço do que era há cem anos. O estudo referia que a praia que tinha 1.767 metros de comprimento tem agora 665 metros e a área passou de 105 mil metros quadrados para 45 mil. 

No entanto, a APSS garante que “mais de metade” das areias que serão retiradas nas futuras dragagens vão ser depositadas junto à baía de Tróia e que, posteriormente, através de transporte sedimentar, vão “realimentar as praias de Tróia assim como a Figueirinha, Galapos, Galapinhos e Portinho da Arrábida”.

 

Golfinhos em risco

Sobre o equilíbrio do habitat do Sado, onde existem golfinhos roazes, a APSS entende que “não é a movimentação de navios comerciais, que mantêm rotas definidas e velocidades reduzidas” que vai ter impacto sobre a vida marinha no estuário. A APSS diz que também monitoriza o habitat do Sado e defende que o maior risco vem, sim, dos barcos de recreio que navegam no rio. “Urge disciplinar e sensibilizar a náutica de recreio e da atividade de observação dos golfinhos, para os comportamentos adequados de preservação da espécie”, lê-se na nota enviada ao i pela Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra.            

    

O alargamento do porto

A requalificação do Porto de Setúbal foi anunciada em janeiro de 2017 pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e está em curso um concurso público internacional. 

O projeto conta com um investimento de 25,2 milhões de euros e vai permitir aumentar em 60% a carga portuária em Setúbal.

Com a dragagem de seis milhões de metro cúbicos de areia o rio vai ficar mais profundo em cerca de 15 metros e o canal de circulação será alargado em até 300 metro, permitindo que dois navios se cruzem. 

A requalificação vai ser acompanhada por um aumento da circulação ferroviária até ao Porto de Setúbal passando de nove para 15 comboios em circulação.