No domingo, mais de 200 anos de história brasileira foram reduzidos a cinzas, depois de um incêndio de grandes dimensões ter destruído o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Michel Temer, presidente do Brasil, classificou o dia como “trágico para a museologia” do país, acrescentando que se tratou de “um dia triste para todos os brasileiros”.
Contudo, este episódio não foi o único evento trágico registado na história recente do património cultural daquele país, que na última década parece estar condenado a ser destruído pelas chamas.
É o caso do Teatro Cultura Artística, localizado em São Paulo, que em 2008 viu parte do seu espaço ser atingido por um incêndio. Inaugurado em 1950, o espaço ficou ao encargo da Sociedade de Cultura Artística. Com o passar dos anos, o edifício começou a sofrer alguns danos graves – como a queda de parte do telhado em 1955 -, obrigando a sociedade a procurar investimentos para reconstruir o teatro. O espaço acabou por ser fechado em 1970, para ser restaurado e abriu sete anos depois.
Mas foi em 2008, já depois de terem sido feitas obras de intervenção, que aconteceu a maior tragédia da história do teatro: um incêndio destruiu as salas de espetáculos. No entanto, as fachadas, o mosaico ‘Alegoria das Artes’ de Di Cavalcanti, e o acervo de documentos históricos foram poupados pelas chamas.
E os incêndio não param por aqui. Dois anos depois de o Teatro Cultura Artística ter sido destruído, o Instituto Butantan – um centro de pesquisa biológica responsável pela produção de soros e vacinas, localizado em São Paulo – também foi atingido pelas chamas, que destruíram um dos maiores acervos de cobras tropicais do mundo com 85 mil exemplares. Perdeu-se material recolhido ao longo de 100 anos.
Em 2013, ainda o Brasil estava a recuperar do fogo que deflagrou no Instituto Butantan, o Memorial da América Latina – um centro cultural, político e de lazer que foi inaugurado em 1989, em São Paulo – foi palco de uma nova tragédia: o auditório Simón Bolívar foi atingido por um incêndio, com a obra de tapeçaria de Tomie Ohtake a sair como a mais prejudicada desta tragédia.
Um ano depois, o Brasil voltou a ser notícia, mas não pelas melhores razões. Um espaço centenário do Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios foi também reduzido a cinzas. As chamas consumiram réplicas feitas em gesso de esculturas clássicas, vindas da Europa e que estiveram expostas no centro entre 1980 e 2014. O espaço só renasceu das cinzas este ano e tem atualmente uma exposição permanente sobre a história do próprio liceu e ainda uma exposição temporária sobre o design brasileiro e sustentabilidade.
O incêndio no Museu da Língua Portuguesa Em 2015 foi a vez do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, ser devastado pelas chamas. Todo o material que se encontrava em exposição bem como parte da Estação da Luz – uma das mais importantes estações ferroviárias da cidade.
O projeto deste museu começou a ser desenvolvido em 2002, mas só foi dado como concluído em 2006, ano em que o museu foi oficialmente inaugurado.
O museu possui um vasto conteúdo sobre a história da língua portuguesa e as suas variações bem como um enfoque na literatura brasileira.
Apesar de as instalações terem sido totalmente destruídas pelas chamas, não houve grandes prejuízos para o acervo. Isto, porque neste caso tratava-se de um acervo digital, tendo sido possível recuperar cópias de segurança. No entanto, a nível arquitetónico os danos foram enormes.
Um ano depois desta tragédia foi assinado um acordo para serem feitas obras de restauro. As obras realizadas na cobertura, na fachada e nas esquadrias do Museu ficaram concluídas em julho deste ano. As obras dentro do edifício começarão em setembro deste ano, prevendo-se que fiquem concluídas no segundo semestre de 2019.
Há dois anos, os brasileiros viram o seu património cultural novamente reduzido. A Cinemateca Brasileira – que tem um dos maiores acervos de filmes na América Latina – perdeu cerca de mil filmes num incêndio. Situada em São Paulo, tem cerca de 200 mil filmes e um arquivo recheado de livros, revistas, fotografias e cartazes.
Num passado menos recente outros incêndios já tinham sido fatais para a cultura e o património do Brasil. Um desses casos foi o da Biblioteca Pública do Estado da Bahia – a biblioteca mais antiga no país, que guardava inúmeros documentos preciosos e livros raros. Em 1912 ficou com o seu acervo destruído devido a um incêndio que deflagrou depois de o governo federal ter ordenando um bombardeamento sobre Salvador.