O novo líder do Partido Popular espanhol garantiu ontem, numa iniciativa partidária em Ávila, que o seu partido vai apresentar uma proposta de reforma legislativa, uma “lei da concórdia” para evitar aquilo que diz ser a “a reescrita sectária da história” que está a ser levada a cabo pelo governo socialista de Pedro Sánchez.
Reivindicando para si e o seu partido a “transição” – a passagem da ditadura à democracia sem que as contas do período autoritário fossem saldadas -, Casado considerou “irresponsável e desnecessária” a lei da memória histórica promovida pelo PSOE.
Para Casado, aquilo que os socialistas estão a fazer é trazer de novo para o presente o tema da guerra civil “novamente” – “ridícula cartada da esquerda radical para justificar o sectarismo e dissimular a incompetência”.
O líder do PP considera que a “transição” derrotaram “definitivamente o confronto civil” e trouxeram para a sociedade a “grandeza moral, sentido da história, reconciliação e concórdia”.
O facto é que o Estado espanhol nunca tratou o tema das mais de 2000 valas comuns e das mais de 100 mil vítimas do franquismo, ainda hoje consideradas “desaparecidas”. Só os Khmer Vermelhos no Camboja fizeram “desaparecer” mais gente.
No dia 24, o governo aprovou um decreto-lei para proceder à exumação do cadáver de Francisco Franco do Vale dos Caídos, esse monumento à grandiosidade da ditadura feita com trabalho escravo de presos políticos e que é ele próprio uma enorme vala comum. Os cadáveres de dez mil opositores republicanos estão ali sepultados, bem como 27 mil combatentes franquistas.
O diploma aprovado altera a lei da memória histórica e classifica o Vale dos Caídos – situado a 40 km de Madrid – como um “local de evocação, recordação e homenagem às vítimas” da Guerra Cilvi espanhola (1936-39). Para isso, declara “de urgente e excecional interesse público” a exumação e transladação dos restos mortais de Franco.