Estava, como sempre esteve, no meio da sala que é como quem diz no meio da cena política. Pedro Santana Lopes, o elefante da política nacional, mesmo quando andava por aí, esteve sempre presente. Não deixa de ser extraordinário que a sua atual sacudidela deixe a loja da política nacional de pantanas ou, pelo menos, tenha abanado algumas prateleiras.
Devo confessar que tenho admiração pela personagem política de Pedro Santana Lopes, não o conheço pessoalmente e como tal só poderia mesmo fazer juízos pela sua pertinência e determinação política.
Habituou-nos a um estilo próprio que oscilou entre o menino guerreio e o enfant terrible. Da mais recente aventura política – Aliança, ao passado de glamour, dos cruzeiros da Kapital, não há como ignorar a figura Santana Lopes. Goste-se ou não, Santana Lopes faz parte da história da democracia portuguesa.
Foi primeiro-ministro por osmose e, conscientemente ou não, desencadeou um terramoto que assinalou a única, até à data, dissolução parlamentar da história da nossa democracia.
Incompreendido, odiado, julgado e condenado em todo o espectro político, Pedro Santana Lopes, assemelha-se a um super-herói da Marvel, que tem como superpoder a reabilitação e regeneração política.
Recordo-me claramente das sentenças de morte de 2005, após a dissolução do Parlamento e o fraco resultado que obteve nas eleições legislativas contra Sócrates. Pois bem, estava morto e enterrado e a verdade é que depois disso voltou a disputar, várias vezes, a liderança do PSD (ou do PPD-PSD como tanto gosta de frisar) e deixou o aviso em 2011, um ano após a vitória do outro Pedro (o Passos Coelho) – abriu a porta à criação de um novo partido, porque estava “farto de algumas coisas” que se estavam a passar no PSD.
Pois bem, sete anos volvidos aí está Pedro Santana Lopes a materializar o seu aviso. Lança a plataforma de recolha de assinatura para a criação de um novo Partido – Aliança!
O mote é o espelho da sua imagem. Na página de recolha de assinaturas pode ler-se: “Entre Portugueses, entre territórios, entre forças políticas democráticas, entre pessoas de diferentes condições económicas, raças, etnias, religiões, nacionalidades, orientações sexuais, opções de vida e ideologias” – uma espécie de carta constituinte em versão concentrada que dá para tudo e para todos, mas que não compromete ninguém, nem exclui ninguém.
A verdade é que Pedro Santana Lopes esteve sempre entre todos! Bem no meio da sala sem se dar muito por ele! E, agora que se mexe, agita e muito as elites políticas.
Propõe-se a unir e construir, respeitando a diferença e as diferenças! E independentemente do sucesso que possa vir a ter, ou não, uma coisa é certa: rasgou a cartilha opaca e imutável dos partidos políticos e apresenta uma versão concertada de movimento cívico com contornos partidários.
Independentemente das suas convicções e das razões que intimamente o levaram a tomar esta atitude, a visão estratégica é clara e demonstra uma sensibilidade política invulgar. Leu e percebeu os sinais mais recentes que os portugueses deram sobre a vida política nacional, que se materializaram em sucessivas candidaturas independentes e cívicas (afastadas do espectro partidário) e, por isso, lança este modelo híbrido.
Santana Lopes volta a marcar pontos e arrisca fazer muito estragos ou, pelo menos, se singrar, a revolucionar o panorama político nacional.
A Aliança, pelos contornos e momento da nossa cidadania, não será um PRD, nem um fenómeno Marinho Pinto. Já foi uma pedrada no charco! Resta saber até onde irão as ondas de choque.
Escreve à quinta-feira