Botellón cria lixeiras a céu aberto no Algarve, alertam ambientalistas

Botellón cria lixeiras a céu aberto no Algarve, alertam ambientalistas


Antes de entrarem nas discotecas, os jovens consomem álcool no exterior para pouparem dinheiro e deixam dezenas de garrafas na rua


Os parques de estacionamento de vários espaços de diversão noturna no Algarve estão transformados, por estes dias, “numa lixeira a céu aberto”. A denúncia vem do Movimento Cívico e Ambientalista Não Lixes, que diz ter conhecimento de vários locais, em particular em Albufeira e Vilamoura, onde os jovens praticam o fenómeno do botellón – termo espanhol que descreve a ingestão de grandes quantidades de álcool na via pública antes de entrarem nas discotecas, deixando no exterior garrafas espalhadas pelo chão, em vez de as colocarem nos caixotes do lixo.

“Visitei por várias vezes o parque de estacionamento, por exemplo, da discoteca Bliss [que encerrou a temporada 2018 no último sábado] e o que vi foram carros e carros cheios de álcool – não um nem dois, mas mais de 80% dos carros estacionados – para consumirem antes de entrarem. Nada contra isso, o problema é que depois deixam as garrafas e o lixo na rua, espalhado pelo parque de estacionamento. Parecia que tinha passado por lá um desfile da Queima das Fitas”, lamenta ao i Fernando Jorge Paiva, ambientalista à frente do movimento.

Segundo o responsável, que diz mesmo ter questionado alguns jovens sobre o seu comportamento, na base do problema está, por um lado, “o elevado preço da entrada nas discotecas, entre 25 e 35 euros” e, por outro, “a necessidade de mais contentores de lixo de 800 litros nos parques de estacionamento”, algo que para Fernando Jorge Paiva não passa de uma desculpa. “A partir das 5h30, um grupo de 10 funcionários procede à limpeza do parque de estacionamento”, nota. O problema parece não incomodar apenas o movimento: junto ao parque de estacionamento, um cartaz com fundo vermelho e letras garrafais brancas ali colocado há poucos dias lembra que “o spot para beber não é aqui”.

De resto, o ambientalista alerta para o facto de este não ser um problema que se cinge apenas àquele local. “É algo muito maior e que acontece em muitos sítios e é isso também que queremos denunciar. Posso divertir-me? Posso. Posso beber o álcool que quiser? Também posso. Agora, não posso é deixar no sítio onde estive uma lixeira a céu aberto porque depois alguém vem limpar com o dinheiro de todos nós, da autarquia. Não faz sentido”, conclui.

moradores queixam-se Já no início deste mês, o i tinha noticiado a existência, no município de Albufeira, de diversas queixas por parte dos moradores e turistas em relação ao serviço de recolha do lixo e da limpeza pública, com denúncias que dão conta de vários contentores danificados e da acumulação de lixo na via pública.

O i teve mesmo acesso a documentação de uma queixa em particular, segundo a qual existem “enormes deficiências que põem em causa a saúde pública e a imagem do município”, especificando que abundam “contentores cheios, com resíduos fora dos mesmos, espalhados no chão”.

Questionado pelo i, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira reconheceu o problema: existem, de facto, “situações anómalas” na recolha de lixo no município e já chegaram queixas à autarquia, mas “a situação não é tão grave como se possa pensar”, disse na altura José Carlos Rolo. “O lixo doméstico é recolhido todos os dias a não ser que haja alguma avaria dos equipamentos ou algum problema de maior. Agora, evidentemente que há muita gente, por isso há muita deposição de lixo e os contentores enchem-se rapidamente”, acrescentou.

A recolha do lixo em Albufeira é assegurada pela empresa Ecoambiente, que na ocasião não quis comentar o problema.