Há um ano, no dia 23 de agosto de 2017, os angolanos escolhiam o novo presidente de Angola, depois de José Eduardo dos Santos ter estado no poder durante quase 40 anos. Os resultados finais das eleições mostraram que João Lourenço foi o vencedor, com 61% dos votos alcançados pelo MPLA.
O novo presidente tomou posse a 26 de setembro e, de uma forma mais rápida do que se imaginava, tomou medidas para afastar a família Dos Santos das estruturas do Estado angolano.
Em novembro do ano passado, João Lourenço exonerou Isabel dos Santos, filha do antigo chefe de Estado, do cargo de presidente do conselho de administração da Sonangol. O governante nunca esclareceu os motivos do afastamento da empresária ou da nomeação de Carlos Saturnino para a substituir, curiosamente um quadro da petrolífera que em dezembro de 2016 tinha sido exonerado pela filha de José Eduardo dos Santos.
No mesmo dia da exoneração de Isabel dos Santos, o ministro angolano da Comunicação Social, João Melo – invocando ordens do presidente – determinou o fim dos contratos de gestão do segundo canal da Televisão Pública da Angola (TPA) pela empresa Semba Comunicação. Empresa essa que pertence aos dois filhos de José Eduardo dos Santos, Welwiltshea “Tchizé” e José Paulino.
José Filomeno dos Santos foi o quarto filho de José Eduardo dos Santos a ser afastado do poder. Em janeiro deste ano, o presidente angolano exonerou a administração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) que era presidida por José Filomeno dos Santos.
As exonerações dos filhos do antigo presidente das estruturas do Estado angolano fazem parte de uma longa série de “decapitações” em empresas e organismos públicos que João Lourenço já realizou neste mandato. As mudanças valeram-lhe a alcunha de “exonerador implacável”.
Nas remodelações estão incluídos o Banco Nacional de Angola e também as estratégicas Empresa Nacional de Diamantes de Angola (Endiama) e Empresa de Comercialização de Diamantes (Sodiam), no âmbito de uma reestruturação do setor empresarial público.
Os cargos militares também não escaparam às exonerações do presidente angolano. O general António José Maria, tido como do círculo mais próximo e fiel do ex-presidente, viu João Lourenço exonerá-lo da liderança do Serviço de Inteligência (Informação) e de Segurança Militar, cargo que ocupava desde 2009. O mesmo aconteceu com o comissário-geral Ambrósio de Lemos, comandante-geral da Polícia Nacional de Angola desde 2006 e tio da ex-primeira-dama, Ana Paula dos Santos.
Nas funções do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA), a mais sonante exoneração é do general-de-exército (o mais alto posto da hierarquia militar angolana) Geraldo Sachipengo Nunda do cargo de Chefe do Estado-Maior General das FAA.
Considerado um dos maiores empresários do país, o tenente-general Leopoldino Fragoso do Nascimento também foi exonerado de funções nas casas de Segurança e Militar do Presidente da República.
Numa conferência de impresa em janeiro deste ano, no Palácio Presidencial, em Luanda, João Lourenço reconheceu que fez muitas exonerações no arranque do mandato. “Exoneração é um ato de governação normal. É evidente que houve muitas exonerações, mas houve tantas quantas necessárias”, respondeu o governante aos jornalistas, na primeira iniciativa do género realizada na presidência angolana em mais de 40 anos.
Sobre o afastamento da família Dos Santos dos cargos públicos, João Lourenço recusou a ideia de que houve “perseguição política”.