GNR. Militares acusam comando-geral de mentir ao negar falta de homens

GNR. Militares acusam comando-geral de mentir ao negar falta de homens


A GNR tentou desmentir que existam postos com falta de pessoal. “É perverso que se tente camuflar a realidade”, diz a APG 


A Associação dos Profissionais da Guarda (APG), que anteontem denunciou que há postos da GNR sem guardas suficientes para assegurarem simples patrulhas, acusa o comando--geral de mentir. 

A seguir à notícia do i que contava como a transferência, em maio, de mais de meio milhar de militares para o combate aos incêndios deixou os postos territoriais desfalcados, a GNR enviou um esclarecimento às redações, rejeitando dificuldades nos patrulhamentos. “No período de 1 de janeiro a 31 de julho, a GNR registou, em comparação com igual período de 2017, idêntico número de patrulhas”, garantia o comando-geral, chegando mesmo a falar num “aumento no número de militares nas patrulhas”. 

Mas a APG, a maior associação do setor, garante que o comunicado “não corresponde, em rigor, à realidade no terreno”. “Ficámos surpreendidos com semelhantes afirmações por parte da instituição, que desmentem categoricamente aquilo que os profissionais da GNR veem e sentem diariamente no terreno”, diz a direção, acusando o atual comandante-geral, Botelho Miguel, de não estar preocupado com a falta de homens, ao contrário de anteriores responsáveis da GNR. “É perverso que se tente camuflar a realidade, pois em causa está todo o esforço e sacrifício de quem diariamente está na linha da frente e a falta de efetivos com funções operacionais é uma realidade que tem vindo a preocupar sucessivos responsáveis da instituição. É de lamentar que presentemente não suceda o mesmo”, escreve a APG num comunicado divulgado ontem.  

A recente saída de mais de 500 militares, a maioria de postos territoriais, para o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), que atua no combate a incêndios, deixou a GNR desfalcada e há postos que já não conseguem ter efetivo suficiente (pelo menos dois guardas de serviço ao mesmo tempo) para assegurar patrulhamentos. Segundo a APG, a solução tem passado, “um pouco por todo o país”, pelo agrupamento de postos: efetivos de zonas vizinhas juntam–se e fazem escalas conjuntas, para que haja militares disponíveis a todas as horas do dia. 

Entretanto, e para colmatar as saídas para o GIPS, o Ministério da Administração Interna abriu, em fevereiro deste ano, um concurso para 600 novos guardas. A formação dos novos elementos deveria ter demorado nove meses, mas durou apenas três e os guardas já estão no terreno. Mas, sendo estagiários, não podem usar arma, mandar parar carros ou conduzir veículos da GNR. Ainda assim, no esclarecimento sobre a notícia do i enviado às redações, a GNR sublinhou que foram recrutados 600 novos militares para colmatar as saídas para o GIPS. Para a APG, este argumento não é transparente. “Naturalmente que, para já, não passam de instruendos e não é transparente que sejam contabilizados como consistindo já no reforço de efetivo existente”, diz a associação.

A APG recorda que a falta de homens não é deste ano, porque na última década têm sido admitidos para a GNR cerca de 200 a 300 elementos por ano, ao passo que, também anualmente, saem para a reforma cerca de 700. A associação aponta ainda outro fator que está a prejudicar o efetivo: “uma gestão de recursos humanos deficiente”. E exemplifica com o facto de os militares continuarem a ser empurrados para tarefas administrativas “que poderiam ser executadas por civis”. O i pediu um comentário à GNR sobre o comunicado da APG e o gabinete de imprensa disse apenas “reiterar a factualidade constante no esclarecimento” emitido anteontem.