Há um conjunto de sinais internacionais e nacionais que preanunciam uma crise económica, como as que ciclicamente têm ocorrido. Os seus contornos não serão iguais aos da de 2008 que durou até 2015 e cujos efeitos ainda perduram. No entanto, a probabilidade desta crise acontecer e também ser devastadora é grande. Certos especialistas dizem esperar que ela não resulte propriamente do crash financeiro de instituições bancárias. Apontam mais para um colapso resultante dos efeitos económicos e financeiros, enquanto reflexos consequentes de tensões políticas e guerras comerciais de toda a ordem que perturbarão a estabilidade relativa em que vamos estando.
Parece evidente que um dos núcleos do próximo problema será resultante do isolacionismo que Trump está a impor aos Estados Unidos, obrigando outros a medidas de retaliação económica e política com proporções imprevisíveis, o que evidentemente terá efeitos reflexos nos países mais pequenos.
Para além dos problemas comerciais, há que considerar que, por todo lado, se multiplicam focos de tensão entre países, regiões e culturas, aumentando a miséria e expondo-a cada vez mais, o que potencia os ódios. Esse movimento gera uma revolta legítima nos mais desprotegidos, sejam eles de zonas pobres e distantes ou membros do quarto mundo existente nas sociedades avançadas. É óbvia, por outro lado, a circunstância das clivagens culturais, étnicas, religiosas e políticas não diminuírem. Apesar de hoje não haver guerras abertas, há uma violência sistemática e inaudita da qual pouco se fala, como a que acontece nas sociedades da América Latina, para citar um exemplo menos conhecido.
Aparentemente os países asiáticos, sob a égide da China, serão aqueles onde uma crise poderá ter efeitos menos graves em termos sociais e económicos. Isto apesar de Pequim ser objetivamente o maior investidor mundial, o que torna inevitável que receba de volta um efeito negativo de uma perturbação substancial.
Ninguém hoje é capaz de determinar a forma e o momento em que a próxima crise vai acontecer, mas cresce a convicção de que ela é inevitável. Nesse contexto provável, é evidente que Portugal sofreria os efeitos de uma desestabilização, dada a sua enorme exposição ao exterior. É verdade que o país está hoje mais preparado do que há 10 anos, mas também é certo que continuamos a não ter empresas, bancos, indústrias ou recursos naturais que nos permitam enfrentar um problema internacional grave. Continuamos frágeis, com uma dívida externa gigantesca e uma sociedade civil que está novamente a contrair empréstimos sistemáticos alimentados no estrangeiro, até porque a banca nacional não existe ou está falida. Acresce que o nosso mercado principal e mais próximo, a Espanha, apresenta grandes fragilidades políticas, o que limita o crescimento.
Dir-se-á que o que ficou escrito até aqui é uma visão pessimista. A intenção não é essa. Pelo contrário, pretende ser um alerta e a projeção de uma probabilidade que não se deseja de todo, mas que é preciso admitir.
Se a crise ocorrer, deveremos possuir mecanismos para a combater. Mas há que admitir que dificilmente ela deixaria intacta a atual base de sustentação do governo Costa, a que chamamos geringonça, se o problema se desse na sua vigência. Se tal acontecesse, as divergências entre os parceiros tenderiam a agravar-se irremediavelmente, o que não acontece quando se está num ciclo de algum crescimento como o atual. Há, portanto, que ter plena consciência de que a conjuntura internacional e nacional será um fator pelo menos tão essencial para o futuro do governo português pós-legislativas, como o resultante do voto popular. É a economia, pois então…
2) Será que o próximo orçamento está fechado? A avaliar pelo que disse Marques Mendes na SIC, está. Sendo assim, o PCP e o Bloco estão descartados. O ex-líder do PSD anunciou aumentos de pensões e descida de impostos. Num momento em que está tudo fora e para férias, verifica-se que as comunicações estão a funcionar em pleno, a menos que o comentador tenha entrado em delírio por causa de um golpe de calor, o que é improvável. Veremos com o tempo se a fonte era pura ou estava inquinada. Cenários e gestos generosos fazem habitualmente parte dos anos eleitorais, que acabamos por pagar mais tarde. Basta recordar Sócrates, Teixeira dos Santos e os aumentos de 3,7% dados à Função Pública que, meses depois, sofreu um corte de 5%.
3) Aliança. O melhor do partido de Santana Lopes é o nome. Dá para tudo. É um produto genérico. Uma espécie de antibiótico de largo espectro. Fala em personalismo e coisas do género, enquanto proclama coisas irrealistas como uma reforma da Segurança Social no sentido da privatização. Na realidade mais parece um limiano institucionalizado, destinado a ajudar a direita ou até a esquerda, se esta for a da direita do PS com os seus interesses, tipo Vitorino.
Jornalista