Primavera de Praga. Soviéticos quase entravam em guerra com soldados alemães e americanos

Primavera de Praga. Soviéticos quase entravam em guerra com soldados alemães e americanos


John Guillermin filmava “A Ponte de Remagen” e as tropas do Pacto de Varsóvia confundiram os atores e figurantes com exércitos de verdade


Desde março de 1968 que Davle, uma cidade da região da Boémia, na então Checoslováquia, estava transformada num cenário de cinema. O realizador John Guillermin filmava “A Ponte de Remagen”, película de guerra sobre a decisão do exército nazi de fazer explodir a última ponte sobre o Reno quando parte do seu exército ainda estava do lado de lá.

O filme, escrito por Richard Yates e William Roberts e protagonizado por George Segal, Robert Vaughn e Ben Gazzara, transformou a cidade checa na cidade alemã de Remagen em março de 1945, momento em que o exército nazi em fuga procura retardar a sua derrota.

Os produtores da United Artists haviam aproveitado os ares de abertura da Primavera de Praga para filmar em cenários que se mantinham muito parecidos com os da Alemanha do final da ii Guerra Mundial. A escolha permitia ainda abaratar custos, tendo em conta a profusão de excelentes técnicos de cinema – a cinematografia checoslovaca era, no final dos anos 1960, uma das mais importantes da Europa.

Quando as tropas do Pacto de Varsóvia invadiram o país para travar a abertura levada a cabo por Alexandre Dubcek, a informação de que havia soldados alemães e americanos na zona de Davle colocou os comandantes de sobreaviso e a possibilidade de confronto com esses exércitos inimigos esteve quase a acontecer.

A produção apostara no realismo da reconstrução e isso quase provocou um confronto entre os soldados invasores e os exércitos de fingir feitos de figurantes checos e de atores estrangeiros.

A equipa de filmagem e os atores tiveram de fugir muito rapidamente, todos metidos em táxis a caminho de Praga para deixarem rapidamente o país, deixando para trás os tanques Sherman e Tiger e outros veículos usados no filme – algo que a propaganda soviética haveria de aproveitar muito bem, ao usar os adereços como uma das razões para a invasão, mostrando aos soviéticos como ela era totalmente justificada porque a pouco mais de 20 quilómetros de Praga havia tanques americanos e alemães.

A equipa de filmagens americana haveria de ser autorizada a regressar a Davle no outono de 1968, por um breve período, só para registar imagens essenciais, não para completar a obra. A produção passou as filmagens para Itália e Alemanha Ocidental, onde se completaria o que faltava do guião.

“A Ponte de Remagen” estreou-se como previsto em 1969. A história é a de soldados americanos desesperadamente à procura de uma forma de cruzar o rio Reno para lançar uma grande ofensiva no centro da Alemanha e de soldados alemães que procuram defender desesperadamente esse último ponto que trava o avanço das tropas inimigas, chegando ao ponto de decidir que só fazendo explodir a ligação, sacrificando os soldados alemães que ainda estão para trás, poderão travar essa ofensiva.