O bolívar forte, que entrou em circulação em 2008, deixou hoje oficialmente de existir, substituído pelo bolívar soberano, a nova moeda da Venezuela, primeira medida de um plano económico do governo que já mereceu críticas por parte da oposição.
O governo de Nicolás Maduro decidiu decretar feriado para hoje, de maneira a minorar o impacto da implementação do novo plano, mas a oposição já marcou uma jornada de protesto por tempo indeterminado a partir de amanhã e muitos críticos garantem que a decisão de retirar cinco zeros à moeda é apenas cosmético e de simplificação, não atacando as verdadeiras causas da inflação que poderá chegar a um milhão por cento este ano, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O bolívar soberano tem menos cinco zeros, mas não vai aumentar o poder de compra dos venezuelanos. O salário mínimo passa de cinco milhões de bolívares fortes para 50 bolívares soberanos e um frango continua a custar mais do que isso, sejam os seis milhões de antes ou os 60 de agora.
Na sexta, Maduro anunciou que outra das medidas do seu plano inclui o aumento do salário mínimo para 1600 bolívares soberanos (isto é, 35 vezes mais que agora), de forma a poder recuperar o poder de compra dos mais pobres. O presidente disse que é uma das medidas do seu programa de recuperação totalmente venezuelano e sem a participação do FMI.
Outra das medidas é aumentar substancialmente o preço do combustível, atualmente o mais barato do mundo, colocando-o a níveis internacionais – na Venezuela, atestar o carro custa 700 vezes menos que na vizinha Colômbia. A partir de 1 de setembro, o preço sobe e descem os subsídios que faziam com que a gasolina saísse quase à borla.
O plano inclui ainda a flexibilização do câmbio da moeda venezuelana, controlado desde 2003. O bolívar passará a estar ligado à criptomoeda petro, criada por causa das sanções financeiras dos Estados Unidos, e que vale mais ou menos um barril de petróleo venezuelano, atualmente cotado a cerca de 60 dólares.
No anúncio do plano económico na sexta-feira, Maduro pediu às empresas e comerciantes que não começassem a subir os preços, mas a verdade é que estes dispararam logo no mesmo dia, ainda estava quente o discurso.
Conflitos nos países vizinhos A crise económica promoveu um êxodo de venezuelanos para os países vizinhos, calculando a ONU que pelo menos 2,3 milhões de pessoas deixaram o país nos últimos tempos. Uma pressão que está a provocar conflitos nas nações vizinhas, que tentam agora limitar a entrada de imigrantes.
No Brasil, o governo de Roraima pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal a suspensão temporária da entrada de imigrantes em território brasileiro para conter o “eventual derramamento de sangue entre brasileiros e venezuelanos”.
No sábado, moradores da cidade fronteiriça de Paracaíma queimaram um bairro da lata e agrediram imigrantes em protesto por um alegado assalto e agressão a um taxista, levando 1200 venezuelanos a fugir de regresso ao seu país.
O governo estadual quer uma “quota para refugiados”, estabelecido por um plano federal de apoio à sua integração, e uma barreira sanitária – exigindo boletim de vacinas. O executivo federal decidiu no domingo reforçar o contingente militar em Roraima com mais 120 soldados.