Santana Lopes. O que se sabe sobre o novo partido

Santana Lopes. O que se sabe sobre o novo partido


O novo partido de Santana Lopes vai chamar-se Aliança. E assume-se como “personalista, liberalista” e “europeísta, mas sem dogmas”


Depois de deixar o PSD, Santana Lopes vai mesmo formar um partido e já tem nome: Aliança. O antigo militante do PSD optou  por não escolher nenhuma sigla e deixou as alusões ao seu nome de parte para “evitar rótulos e preconceitos ideológicos infundados”, referiu ao Expresso. Para o símbolo foi escolhida a cor azul. E um dos slogans é “unir respeitando a diferença e as diferenças”.

“Personalista, liberalista e solidário. Europeísta, mas sem dogmas, sem seguir qualquer cartilha e que contesta a receita macroeconómica de Bruxelas. Conservador e não sujugável à agenda da extrema-esquerda”. São estes os princípios fundadores do futuro partido de Santana Lopes, que se inspirou nos projetos de Emmanuel Macron em França e dos Ciudadanos em Espanha.

Em janeiro, o antigo primeiro-ministro candidatou-se à liderança dos sociais-democratas e saiu derrotado, com Rui Rio a conseguir 46% dos votos. Agora, refere que com a Aliança quer “garantir representação política” para poder “participar no processo de decisão, seja no governo seja na oposição”.

Segundo o Expresso, na declaração de princípios do novo partido é dito que “Portugal precisa de reforçar a sua atitude perante a União [Europeia]”. Já na política interna, um “imperativo absoluto” é o combate à desertificação e ao abandono do território.

 No que diz respeito ao setor da saúde, o partido de Santana Lopes reconhece que é importante estimular “o investimento em seguros de saúde eficazes”. E que o governo deve acompanhar os portugueses nesse esforço com “deduções fiscais efetivas”. 

Por outro lado, na economia, a Aliança pretende que sejam elaborados Orçamentos do Estado “equilibrados” e que haja um “controlo da despesa pública rigoroso”. Para isso, defende “políticas de consolidação da dívida pública que não limitem a margem de manobra orçamento” e uma “forte redução  da carga fiscal”.

Criticando a atitude do líder do PSD, Rui Rio, de ter dado liberdade de voto aos deputados sociais-democratas na despenalização da eutanásia, o novo partido respeita a ”liberdade religiosa” e valoriza “a dimensão espiritual da pessoa”. “Rejeitamos as visões utilitaristas e egoóstas da vida humana”, pode ler-se na declaração de princípios.
Com o objetivo de aproximar os eleitos e os eleitores, a Aliança propõe ainda a “criação do Senado, com a representação das diferentes regiões do país”.

Recolha de assinaturas arranca hoje

Pedro Santana Lopes fez uma publicação na sua página de Facebook onde anuncia que a recolha de assinaturas começa hoje, tendo como objetivo a formalização do novo partido.

“Segunda-feira começa a subscrição para a constituição da Aliança. Estará disponível online. A assinatura serve para viabilizar o nascimento da nova força política. Não implica a inscrição como militante”, escreveu.

O partido não terá para já um site oficial, mas será lançada uma página da Aliança na internet, onde vai ser possível ler a declaração de princípios. Além disso, vai permitir descarregar e imprimir o formulário para a recolha de assinaturas, uma vez que as subscrições para os partidos não podem ser feitas online, tendo de ser assinadas presencialmente.

Recorde-se que para um partido ser formalizado a lei exige a entrega de 7500 assinaturas no Tribunal Constitucional. Depois, é necessário criar comissões instaladoras em todos os distritos e nas regiões autónomas, e, ao fim de 60 dias, é obrigatória a realização de um congresso fundador. O calendário começa a apertar – com as europeias em maio e as legislativas em outubro – e, por isso, Santana Lopes terá de organizar um congresso antes do final do ano.

Santana não será candidato às europeias

O antigo militante do PSD afirmou ao Público que não vai integrar a lista para as próximas eleições europeias. “Não serei cabeça de lista, nem estarei nessa lista”, assegurou.

Santana Lopes tem como objetivo concentrar todas as suas forças nas legislativas e pretende apostar noutros protagonistas para a corrida aos lugares no Parlamento Europeu, até porque não quer que a Aliança seja um partido de um homem só. 

Quando revelou ao Expresso o nome, o símbolo e os princípios fundadores do novo partido, Santana optou por não falar sobre os outros membros da Aliança. Mas afirmou que há pessoas do PSD, do CDS e muitas outras que nunca se aventuraram na vida política com vontade de fazer parte do futuro partido. 

Iniciativa liberal fala em cópia de ideias

Ontem, o recém-formado partido Iniciativa Liberal (IL) acusou o antigo militante do PSD de ter copiado ideias do seu programa partidário. “Santana Lopes, por coincidência ou não, parece que foi copiar muitos temas do programa da Iniciativa Liberal, como a liberalização da segurança social ou da saúde — quando ainda há poucas semanas dizia que queria mais Estado na saúde”, defende Miguel Ferreira da Silva, presidente do IL, através de um comunicado.

No mesmo documento, o  partido liberal questiona Santana Lopes sobre qual o motivo para nunca ter feito nada para mudar a orientação do PSD no sentido dos movimentos e partidos liberais europeus, nos quais diz que se inspira. 

Miguel Ferreira da Silva afirma ainda que o antigo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai “dar cabo do liberalismo sem pensar que está a condenar o país a mais umas décadas de estatismo”, tudo por causa de um “acerto de contas” com o presidente do PSD, Rui Rio, que quer derrotar.

Sublinhando que o liberalismo económico e social já é defendido pela IL, Miguel Ferreira da Silva considera que, se Pedro Santana Lopes quisesse mesmo renovação, devia apoiar quem representa essa renovação e não “criar outro partido” com a mesma orientação.