PSD. JSD impõe delação premiada na agenda até ao final do ano

PSD. JSD impõe delação premiada na agenda até ao final do ano


Acordos com prevaricadores na lista de medidas da jota dividem PSD. Inversão do ónus da prova para criminalizar enriquecimento ilícito não avança para já 


A JSD vai colocar na agenda um pacote de medidas de combate à corrupção a partir de setembro. O objetivo é garantir, até ao final do ano, que propostas como a delação premiada se transformem em iniciativas legislativas. E, se o PSD não tem obrigação de as acolher, terá de se pronunciar sobre as iniciativas.

Uma das inovações do pacote de medidas que a JSD coloca em cima da mesa é a chamada delação premiada, um tema que não é pacífico no PSD e terá, seguramente, resistências da vice-presidente social-democrata, Elina Fraga, ex-bastonária da Ordem dos Advogados e uma das vozes mais críticas da ideia, defendida pela ex-ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz. Mais, a porta-voz do conselho estratégico do PSD para a área da Justiça, Mónica Quintela, está alinhada com Elina Fraga, no que toca à delação premiada, um acordo de colaboração para infratores que denunciem crimes, por exemplo, contra o património

“Tem perversidades que são muito perigosas. Não se pode premiar alguém que também cometeu um delito e que está a acusar outros exclusivamente para se eximir ao tratamento da justiça” declarou Mónica Quintela, citada pelo “Expresso”.

Mas a JSD tem autonomia para apresentar as propostas e terá entregue as mesmas ao presidente do PSD, Rui Rio, antes mesmo de se deslocar a Belém para divulgar a Marcelo Rebelo de Sousa o trabalho do gabinete de estudos com o título “Reforçar a transparência e combater a corrupção em Portugal”. A conversa com Rui Rio, apurou o i, correu bem. 

Apesar das divergências prévias,  o trabalho do gabinete de estudos da JSD poderá ser aproveitado como contributo para a reforma da justiça que os sociais-democratas estão a preparar. 

No fim do debate, a líder da JSD,  reconhece que nem todas as propostas “darão em iniciativas legislativas, até porque algumas necessitariam de uma revisão constitucional”, frisou ao i Margarida Balseiro Lopes. Questionada se se está a referir à inversão do ónus da prova para criminalizar o enriquecimento ilícito, a também deputada é lacónica: “Naturalmente”.

De facto, as tentativas para fazer aprovar a criminalização do enriquecimento ilícito esbarram no Tribunal Constitucional. Por isso, a JSD prefere a cautela. Entre os sociais-democratas, o tema também cria algumas divisões e dúvidas pelo receio de novo chumbo constitucional, o que representaria mais uma derrota  para o partido. Que não conseguiu fazer vingar a medida na última legislatura.

Margarida Balseiro Lopes começa por explicar ao i que a ideia da corrupção “não é exclusiva da classe política”. Além disso, os políticos “acabam por ser mais escrutinados”. Contudo, parte das propostas da jota refere-se a titulares de cargos públicos porque impõe deveres adicionais de declaração de património e rendimentos, tanto de titulares de cargos públicos como de políticos.  Paralelamente, a JSD ainda propõe um prazo de dez anos de proibição automática para titulares de políticos condenados por crimes como tráfico de influência, favorecimento, peculato, entre outros crimes. O texto da JSD, com 51 páginas, inclui também medidas sobre o registo do histórico na internet dos lobistas, “um sistema de denúncia governamental de sinais exteriores de riqueza”, mas também iniciativas do lado da prevenção e formação, como a revisão curricular nas escolas para incluir matérias sobre a participação política

Sobre calendários para entrega de projetos, a também deputada sublinha que as iniciativas  não se fazem “em quinze dias ou um mês”, mas não demorarão a ver o luz do dia, “como a comissão da transparência”, um recado pouco velado ao andamento dos trabalhos e prorrogação de prazos do tempo de vida da comissão.