Plástico – embora se tenha tornado o material das sociedades modernas por excelência, a palavra tem raízes muito antigas: plastikós em grego significava “aquilo que pode ser moldado”.
Curiosamente, o primeiro impulso para a invenção deste material sintético partiu de um jogo. Nos primórdios, o bilhar chegava a ser jogado com bolas de madeira, de osso de vaca ou até de barro, mas o marfim acabou por revelar-se a matéria-prima ideal (há uma referência a isso de um aristocrata inglês ainda no século XVI). A partir de uma presa de elefante podiam fazer-se até oito bolas perfeitamente esféricas e regulares, duradouras e resistentes – não se partiam nem sequer lascavam quando chocavam entre si com violência.
Levado pelos marinheiros ingleses para o outro lado do Atlântico, o bilhar evoluiu para o snooker, que usava muito mais bolas. Este tornou-se imensamente popular entre os operários do Novo Mundo – mas o preço do marfim começou a ameaçar torná-lo um luxo reservado aos ricos. Assim, em meados do século XIX, uma empresa de Nova Iorque chegou a colocar um anúncio no “New York Times” em que oferecia uma generosa recompensa de dez mil dólares para quem apresentasse um material sintético alternativo.
John Wesley Hyatt conseguiu corresponder ao desafio. No seu barracão – mas com o financiamento de investidores – desenvolveu um modelo de bola feita de nitrato de celulose e revestida a colódio, que patenteou em 1869. Parecia funcionar às mil maravilhas – até o som das bolas a entrechocar-se era semelhante ao feito pelas de marfim. Só havia um problema: o material era altamente inflamável. “Houve queixas acerca da explosão das bolas revestidas a colódio produzidas por Hyatt”, conta Mark Miodownik no livro “A Vida Secreta dos Materiais” (ed. Bizâncio). O proprietário de um saloon terá mesmo comentado que “de cada vez que as bolas colidem, todos os homens na sala sacam da pistola”.
Ainda assim, essas bolas de bilhar abriram o caminho ao material inovador. “O negócio da celuloide explodiu nos anos 1870 e o material foi moldado numa enorme variedade de formas, cores e texturas, muito parecido com materiais muito mais caros, como o marfim, o ébano, a casca de tartaruga e a madrepérola, e as formas primitivas do plástico foram usadas principalmente para esse fim”, continua Miodownik. “Como era de produção relativamente barata, permitia a obtenção de grandes lucros com a venda de todo o tipo de pentes, colares e pérolas de plástico à classe média em expansão, que estava sedenta da opulência material dos ricos, mas não tinha dinheiro para ela”.
Hoje, aquilo a que chamamos plástico assume uma multidão de variantes: o tereftalato de polietileno, que é usado para as garrafas de plástico PET; o poliestireno, muito presente nos eletrodomésticos; o cloreto de polivinila, mais conhecido por PVC, usado em tubagens e em caixilharias como substituto do alumínio; o teflon, popular nos utensílios de cozinha; o polietileno, de que são feitas a película aderente, as luvas descartáveis e os sacos de lixo; ou o polipropileno, que valeu a Karl Ziegler e Giulio Natta o Nobel de Química em 1963, de todos o mais comum e mais versátil. Se olhar à sua volta, provavelmente vai encontrá-lo, seja sob a forma de um assento, de um interruptor, de um brinquedo, de um comando de TV ou de um caixote do lixo. Vinil, nylon e silicone são outras das metamorfoses deste material camaleónico.
E Mark Miodownik chama ainda a atenção para uma invenção que damos hoje por adquirida. Em 1884, quinze anos depois de Hyatt ter descoberto a fórmula vencedora das suas bolas de bilhar, um empreendedor de Nova Iorque patenteava o rolo de película de celuloide. Logo de seguida, em 1888, aperfeiçoou um modelo de máquina fotográfica de baixo custo e fundou a sua empresa. Chamou-lhe Eastman Kodak.
“A invenção do rolo de película, tornada possível pelo uso do plástico de celuloide, conduziu diretamente à tecnologia da imagem em movimento”, nota Miodownik no seu livro. A conclusão a extrair é muito simples: sem o plástico, possivelmente o cinema nunca teria existido.