O enorme desperdício de plástico tem estado a preocupar, agora mais do que nunca, a sociedade. Numa altura em que os governantes tentam adotar medidas para reduzir o uso deste material – com a Comissão Europeia a apresentar medidas para reduzir a poluição nos oceanos, com a eliminação do uso de cotonetes, palhinhas, talheres, pratos e outros objetos de plástico descartável até 2025 – surgiu uma nova utilização para os plásticos: reaproveitar este material para construir estradas.
Em 2015, uma empresa holandesa decidiu criar um projeto, chamado PlasticRoad, que em vez de usar os materiais habituais para construir estradas, como cimento ou alcatrão, usa plástico. A empresa está a desenvolver uma ciclovia, que deverá estar pronta para testar em setembro deste ano.
No entanto, as chamadas ‘estradas de plástico’ já podem ser encontradas no Reino Unido, Canadá, Austrália ou Nova Zelândia. Uma empresa escocesa arranjou uma maneira de misturar plástico com o asfalto das estradas, tendo sido bem sucedida. Atualmente, cada tonelada de asfalto contém 20 mil garrafas de plástico ou cerca de 70 mil sacos. Toby McCartney, um dos responsáveis da empresa, disse à “CNN” que esta substância apesar de ser mais barata também torna as estradas 60% mais fortes do que as normais.
A ideia, segundo contou Toby McCartney, veio da Índia, quando um dia reparou que os buracos da estrada eram tapados com plásticos usados, que depois eram derretidos e alisados solucionando o problema.
Realidade em Portugal? Para já esta realidade ainda não está a ser aplicada em Portugal, mas segundo explicou ao i Mariana Milagaia, colaboradora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus, poderá ser implementada “se houver uma política de incentivo que alavanque a investigação e a recetividade do mercado”. Esta solução tem algumas vantagens, nomeadamente ao nível da resistência e flexibilidade, “adiando a formação de fissuras e buracos”, esclareceu. “Isto representa uma vantagem económica na medida em que aumenta a durabilidade do tapete reduzindo os investimentos em manutenção nas estradas”, completou.
Mariana Milagaia considera que esta é uma solução “aparentemente vantajosa e segura”. No entanto, em Portugal, ainda é necessário investigar as “propriedades dos materiais reciclados e o seu desempenho quando misturado com o betume”.
A medida parece ser uma boa alternativa ao desperdício, mas de acordo com a responsável, não ajuda a reduzir a exploração petrolífera: “As atuais misturas betuminosas têm como aglomerante o betume que é de origem petrolífera. Mesmo que o plástico integre a mistura, só eventualmente reduz a quantidade de agregados utilizados, que são materiais rochosos. Esta solução só reduziria o uso de betume se passasse a funcionar como tal”.
Já Rui Derkemeier, colaborador da Zero na parte dos resíduos, diz por outro lado que esta solução não “é uma mais valia em termos de aproveitamento” do plástico. Este componente tem mais valor se for utilizado para fazer novas garrafas ou novos sacos de plástico: “Se nós com sacos plásticos fizermos outros sacos estamos a poupar no petróleo, estamos a valorizar muito mais esse resíduo em termos económicos e a dar uma utilização mais racional em termos ambientais do que estar a fazer pavimentos para estradas”.
Para já, Rui Derkemeier não acredita que este seja o caminho certo para Portugal, referindo que em vez das garrafas ou sacos plásticos, se deve apostar na reutilização de pneus reciclados para fazer estradas.
A responsável da Quercus concorda: este método é uma “solução económica e ambientalmente favorável”, que também ajuda a reduzir “substancialmente o ruído do tráfego”.
Plástico também pode originar calçado O plástico apanhado nas praias pode ter mais usos do que imagina, podendo ser utilizado para fazer calçado.
A ideia partiu de dois amigos do Minho – Adriana Mano e António Barros – que sempre sonharam em limpar o mar, deixando-o livre de plásticos. A partir daí, arregaçaram mangas e criaram o Zouri: um projeto que dá vida a calçado amigo do ambiente.
Segundo Adriana Mano, a ideia foi ganhando força durante as idas à praia em Esposende com António Barros. Juntos apanhavam os plásticos e falavam sobre o constante problema da poluição nas praias. Uma coisa levou à outra e a partir daí começaram a pensar em alternativas para combater o desperdício de plástico e reduzir a poluição das praias.
Para cada par de calçado, são utilizadas cerca de dez garrafas de plástico.
Para além de só usar os plásticos recolhidos, o projeto também não utiliza qualquer produto de origem animal. Cortiça, borracha e até mesmo um material feito de folhas de ananás são alguns dos materiais que integram este tipo de calçado sustentável.