Na altura em que escrevo esta crónica, um violentíssimo incêndio destrói a serra algarvia há já sete dias.
A boa notícia, no meio desta catástrofe, é a de que, até este momento, não houve vítimas humanas.
Tudo o resto são péssimas notícias, apesar da tentativa generalizada das autoridades – Proteção Civil e governo – de se centrarem na ausência de vítimas humanas para valorizarem o seu papel nesta desgraça.
Em junho deste ano, quando parecia que o verão não queria aparecer, o primeiro-ministro esteve exatamente na Fóia, viu uma equipa de sapadores a limpar terreno e concluiu:
“Esta tarde pudemos ver três fases muito importantes da preparação que, em todo o país, está a ser feita para podermos viver este verão de 2018 com maior tranquilidade e maior confiança.”
Todos esperamos que, logo que possível, António Costa vá até Monchique explicar às populações, a quem prometeu “tranquilidade e confiança”, o que falhou.
Na mesma ocasião foi referido um estudo, que já tinha sido divulgado em maio, realizado pelo Centro de Estudos Florestais, e que apontava Monchique como a zona de maior risco de incêndio.
Ao sexto dia, António Costa fez a primeira declaração sobre o incêndio, afirmando que “Monchique foi a exceção do sucesso do combate aos incêndios deste ano”.
Pois bem, depois de apagado o fogo e feita a contabilidade das perdas e danos, é obrigatório apurar responsabilidades, começando por esclarecer que intervenção de fundo se fez na serra algarvia como prevenção para a hipótese de incêndio.
Confrontado com a proposta apresentada, em fevereiro deste ano, pela Associação dos Produtores Florestais do Barlavento Algarvio, que apontava medidas de intervenção urgentes na serra algarvia, o secretário de Estado das Florestas limitou-se a dizer que o projeto tinha “irregularidades”.
Será de concluir que a associação apresentou tal projeto devido à inexistência de qualquer projeto de intervenção na serra algarvia? Se sim, como é que isso pode ser explicado?
A serra algarvia continua hoje a arder, a acreditar nas próprias previsões do primeiro-ministro.
Recordo-me do título de um livro de António Lobo Antunes e aplico-o literalmente:
“Que farei quando tudo arde?”
Jornalista