Este ano, no que toca a incêndios, não é muito diferente de anos anteriores. Estamos na sua época e eles propagam-se por todo o lado. A principal diferença é que este ano temos assistido a alterações climatéricas anormais que levam o descontrolo dos fogos a diferentes cantos da Europa.
Por regra, os países mais atingidos são Portugal, Espanha e Grécia, e desculpem mas o problema não é apenas das condições climatéricas adversas.
França e Itália, em tempos, também já foram fustigadas severamente, mas com exceção do caso sueco, este ano, raramente se ouve falar de grandes fogos nos restantes países europeus. E das duas uma: ou não são notícia por não terem expressão, ou não chegam a ter expressão porque são combatidos a tempo e horas e, por isso, não se tornam notícia.
Podemos também ter uma abordagem mais factual e menos fatalista de que por cá é que corre sempre tudo mal.
O combate aos incêndios tem de ser visto de forma integrada e tem, necessariamente, de ter uma resposta global. Entenda-se global como europeia. Num projeto de coesão e de partilha como é o da União Europeia não faz sentido assistirmos aos episódios ridículos (mas, claro, solidários e humanos) dos países a deslocarem os seus meios próprios de um território para o outro para auxiliar as corporações locais no combate cada vez que há um incêndio maior e descontrolado.
Foi assim na Suécia, com o apoio de Portugal e outros países, como é assim em Espanha, Grécia e Portugal. Desculpem-me, mas não faz sentido.
A União Europeia gasta milhares de milhões na recuperação dos estragos causados pelos incêndios e outras calamidades, cuja responsabilidade do combate recai, em primeiro lugar, nas corporações de bombeiros. Talvez fosse mais sensato investir esses milhares de milhões na prevenção e na criação de unidades comuns de corporações profissionais e bem equipadas.
Não falo pelos outros países, mas aqui em Portugal é triste ver homens e mulheres a arriscarem as vidas numa “profissão” de part time. É igualmente triste ver a escassez de meios e falta de capacidade de coordenação e comando durante o combate aos fogos. Porque é disso que se trata: não temos nem corporações profissionais e treinadas adequadamente, nem equipamento adequado e suficiente para lidar com estas e outras catástrofes.
A Europa tenta há anos criar um corpo militar próprio sem sucesso. Talvez apostar na criação de um exército da paz fosse mais exequível.
Se há algo que é cada vez mais claro é que o número de catástrofes naturais (sejam incêndios, cheias, tempestades ou terramotos) tem aumentado e elas são cada vez mais violentas. Por que razão não se cria um corpo profissional e especializado de bombeiros nos diferentes países da União? Porque não se criam centros de comando, em locais estratégicos da Europa, altamente especializados e fortemente equipados, prontos a intervir em diferentes pontos da Europa?
Não seria mais rentável ter, por exemplo, três centros de comando a norte, centro e sul da Europa, com equipas especializadas de bombeiros e fortes dispositivos de meios aéreos e terrestres que rapidamente se pudessem deslocar e ajudar as corporações locais?
Estou certo de que os custos de manutenção de um exército da paz europeu seriam bem mais baixos que os custos de reparação dos danos causados por estas catástrofes.
Estou certo também de que Portugal deveria tomar a dianteira desta iniciativa e propor, já num próximo Conselho da União Europeia, que se avaliasse a possibilidade de criar um exército de soldados da paz na Europa. Poupavam-se recursos, dignificava-se uma profissão que é das mais nobres que conheço e, sobretudo, poupavam-se vidas.
Escreve à quinta-feira