A zona das Caldas de Monchique é conhecida pela qualidade da sua água. No entanto, nos últimos dias tem sido notícia pelas chamas que lavram há quase uma semana no concelho. No domingo, o fogo ameaçou mesmo Caldas de Monchique, obrigando à evacuação da zona. A Sociedade da Água de Monchique – é uma das principais empresas do concelho – escapou por pouco às chamas.
No total emprega 32 pessoas e, por ano, fatura 10 milhões de euros. Mas os prejuízos com os incêndios já estão a fazer-se sentir. Ao i, Henrique Prucha, diretor comercial e de marketing da empresa, explicou que a produção está parada desde sexta-feira e que a fábrica teve de ser evacuada no domingo, sem dar previsões de quando a produção poderá ser retomada.
A cada dia que a empresa está parada há “uma quebra de cerca de 60 mil euros, para além dos custos indiretos ainda não quantificados”, revelou o responsável. De momento, a fábrica está sem eletricidade e o responsável prevê que “as acessibilidades rodoviárias (atualmente cortadas) estejam muito degradadas devido ao calor intenso”: “Temos equipas a meia força porque os nossos colaboradores (moradores locais) precisaram de tempo para lidar com todos os problemas junto das suas famílias e dos seus pertences.”
Quanto à recuperação depois de as chamas serem extintas, Henrique Prucha revelou que será difícil voltar à normalidade ainda antes do final do verão, uma vez que a procura é muito superior à capacidade de produção que têm neste momento.
Sobre a qualidade da água, Henrique Prucha garantiu ao i que, apesar das chamas violentas que fustigam o concelho desde sexta-feira, esta não foi afetada: “Não existem riscos de contaminação devido à circulação extremamente profunda a que [a água] se encontra. Estima-se que o lençol freático se encontra a 900 metros de profundidade e, portanto, está protegido de toda e qualquer contaminação.” O responsável lembrou ainda que os fogos de 1966, 1983, 1990, 2003 e 2018 não “provocaram alterações na composição físico-química da água, que mantêm valores analíticos genuinamente estáveis”.
Luís Andrade, responsável do grupo da água da Quercus, disse ao i que, para já, é cedo para falar na alteração da qualidade: “Neste momento é precipitado estarmos a dizer que as águas de Monchique estão contaminadas.”
A água de Monchique é conhecida pela sua alcalinidade e por ser rica em sais minerais. Com um sabor mais adocicado do que o habitual devido ao pH alcalino que tem (9,5), a água já ultrapassou fronteiras e conquistou vários países do mundo, sendo vendida como um produto gourmet em Singapura, Macau e Hong Kong, por exemplo.
De acordo com o especialista da Quercus, em termos gerais, os incêndios provocam alterações no regime hídrico através de duas vertentes: a desflorestação – quando chove, as cinzas são arrastadas e ficam nas linhas de água, podendo contaminá-la – e a erosão – não havendo um “coberto florestal”, a chuva acaba por erodir os solos.
População algarvia sem água Entre segunda e terça-feira, Monchique esteve sem água; no entanto, a situação já foi normalizada. Ao i, Teresa Fernandes, porta-voz das Águas do Algarve, garantiu que apesar de existirem muitas cinzas, não há qualquer afetação na qualidade da água das barragens e que não se prevê que esta fique contaminada.