Declaro por minha honra que não matei Kennedy!


Todos os estudos mostram que a residência alternada é benéfica para as crianças.Mas acaba com as pensões de alimentos, que muitas mães veem como um abono de família


Não estava em Dallas em 1963 e aproveito para declarar também que nunca matei judeus, nem na Inquisição nem no Holocausto, e, portanto, o que expresso aqui é, como me ensinou o dr. Mário Soares, o “direito à indignação”.

Começo a estar saturado do movimento “misandrófilo” que lança suspeitas constantes, perenes e, sobretudo, indecentes sobre os homens. Está na moda. É in, mas é inqualificável.

Há desigualdades de direitos de género que prejudicam essencialmente as mulheres? Sim! Há casos de violência doméstica que afetam principalmente as mulheres? Sim. Os homens detêm mais lugares de poder e de administração que as mulheres? Sim… mas elas também, há mais de duas décadas, entram em maioria esmagadora (mais de 70%) na universidade, o que pressupõe que os recém-licenciados (e menos “recém”) sejam sobretudo mulheres. Fala-se do impacte disto? Poucochinho… e será que o jornalismo feito por uma mulher é diferente do jornalismo feito por um homem? Sim? E como? E a medicina? E o direito, a engenharia, a economia, a política… seja o que for? É diferente, disso tenho a certeza, mas não vou emitir um único juízo de valor sobre o assunto.

Vem isto a propósito de, ao ler a petição das não sei quantas associações, ter ficado banzo. Não sei se pelo conteúdo ou por ver certas associações associarem-se (passe o pleonasmo) a esta petição.

Não pretendo, todavia, perder demasiado tempo com isto, mesmo que fique perplexo ao pensar como é que mulheres juristas que subscrevem uma posição tão “definitiva e taxativa” poderão, a partir de agora, ser “isentas e cegas” (como deve ser a justiça) quando tiverem um caso para julgar.

Quero voltar à vaca fria (que, com esta canícula, até apetece) e escrever algo sobre a responsabilidade parental repartida e a vivência partilhada.

Há muitos anos que venho defendendo essa regra. Responsabilidade parental partilhada, vivência alternada, duas moradas fiscais e divisão de despesas, sistema este que apenas deve ser excecionado se algum dos progenitores abdicar dos seus direitos (e não, como alguns querem, se impuser a sua vontade) ou o tribunal encontrar razões para limitar o exercício da responsabilidade parental (como aconteceria com ou sem divórcio). É tão lógico e tão cientificamente provado que não entendo esta petição, até porque não têm qualquer base científica e, como referi, assusta-me ver magistradas a assinarem petições destas porque me faz desconfiar que os tribunais portugueses são ainda, infelizmente, enviesados contra os pais.

Não vejo motivos para esta gente toda estar preocupada nem compreendo as suas razões. Os casos que pretensamente põem estas pessoas em polvorosa já estão contemplados na lei e tanto dizem respeito a homens como a mulheres. Fico perplexo, porque se um tribunal confirmar que alguém é abusador ou violento, ou incapaz da parentalidade, seja homem ou mulher (porque tem de haver igualdade de direitos e deveres), então, essa pessoa ficará de fora. Mas… suspeitar, à partida, de todos os homens? De todos os pais? Termos, nós, pais, de fazer prova de que temos “o cadastro limpo”? Pôr o ónus apenas sobre os homens quando se sabe que há um enorme número de mães abusadoras, manipuladoras e narcisistas que exercem violência psicológica (e, por vezes, também física) sobre as crianças, que são frívolas e negligentes? É intolerável a todos os níveis. Como intransigente defensor da igualdade dos direitos de género e dos direitos das crianças, tudo isto me deixa a um tempo furioso, a outro triste, por ver que há quem queira voltar à “guerra dos sexos” ou que, por motivos que talvez algum psicanalista melhor explique, se quer vingar dos homens, porventura através de mecanismos projetivos, vendo em cada homem um predador ou um mau pai. Gostaria de perguntar à Rita Ferro Rodrigues, da Capazes, que usa e se orgulha (com razão) do apelido que tem, o que achava de viver com o pai Eduardo apenas de 15 em 15 dias…

Os homens são tão capazes de cuidar e educar crianças como as mulheres. Não é preciso recuar ao filme “Kramer contra Kramer”. Têm uma enorme componente maternal, assim como as mulheres têm uma componente paternal. É esse triângulo pai-mãe-filho que dá coesão e estruturação à vida da criança. Se os deixarem e se os ensinarem, os homens sabem ser mães, dar mimo, dar afeto, etc.

Todos os estudos mostram que a residência alternada é benéfica para as crianças e não causa, por si, nenhuma instabilidade. Este argumento, o da instabilidade, é uma treta, uma mentira descarada. Desde que haja condições logísticas em termos de proximidade geográfica e manutenção do resto da vida da criança (família alargada, escola, loja onde compra cromos ou local onde corta o cabelo, etc.), é a melhor solução, e há diversos esquemas para lá da semana sim, semana não, como o esquema que “inventei” e que já sugeri a centenas de pais, de 2-2-5-5, e que funciona muito bem.

Claro que a residência alternada fará com que acabem as pensões de alimentos e há muitas mães que veem nisso um excelente abono de família, para lá da posse da criança – ora, já nem os cães têm dono, quanto mais as crianças! As mães não são mais mães do que os pais são pais, a criança precisa igualmente dos dois e o direito parental é o mesmo. A bem da criança e a bem dos pais.

Outro argumento é que, em caso de conflito entre os pais, a residência alternada não seria uma boa solução. Mentira. Pode detestar-se o ex mas ser-se boa mãe e bom pai. Se as pessoas não se podem ver, então que arranjem formas de comunicação indiferente (SMS, mails, etc.) e se remetam apenas ao essencial. Qual seria a solução do ponto de vista do superior interesse da criança: ficar só com a mãe? O pai passar a um “progenitor”? Um “dador de esperma”? Um “porco cobridor”? E porquê o pai? Então o legislador e os juízes passariam a decidir que a criança ficaria sempre com o pai e “visitava” a mãe de 15 em 15 dias – o verdadeiro “poder paternal”? Ah, pois!

Homens e mulheres devem ter os mesmos direitos e os mesmos deveres. É essa a base da igualdade de género e do feminismo. Tenho-me batido por isso a vida toda, pelo que me ofende que me olhem com suspeição (a mim e à esmagadora maioria dos homens) e pugnem por uma legislação que coloca a mulher como uma santa e o homem como um demónio. Desculpem, minhas senhoras e senhores da Capazes, Associação de Mulheres Juristas, APAV ou quem seja. Não me chamo Harvey Weinstein nem Marc Dutroux! Nem assassinei o presidente Kennedy!

 

Pediatra

Escreve à terça-feira