Ao longo das últimas décadas, Portugal, com a sua política pública de financiamento de projetos de investigação científica e tecnológica, contribuiu para o desenvolvimento e a acumulação de conhecimento fundamental das ciências do mar, inclusive em descobertas de novas soluções e produtos de aplicação para a vida em sociedade, transformando e melhorando-a.
Apesar de os dados estatísticos serem escassos e/ou até mesmo quase inexistentes, em particular para as ciências do mar, os poucos que existem indicam um desinvestimento nos últimos anos. Mas, por outro lado, não são conhecidos estudos que demonstrem e nos informem se os custos com esta política pública de apoio à investigação permitiram alcançar resultados positivos, isto é, assegurar um retorno económico e social.
No entanto, entre os diversos atores económicos, sociais e culturais do mar, é comum o reconhecimento dos resultados obtidos pelos nossos centros de I&D, laboratórios, universidades e investigadores associados à atividade de mar como sendo de elevada qualidade e capacidade inovadora, e com muitas soluções e descobertas de grande aplicabilidade.
Esta realidade, sentida e falada, não tem uma expressão em quantidade e qualidade na atividade económica portuguesa, atribuindo-se muitas vezes esta situação à incapacidade de investigadores e gestores de centros, de laboratórios e universidades e de empresas e empresários para se associarem e articularem em projetos comuns – no que, em parte, até há alguma razão.
Mas na verdade, em minha opinião, os motivos fundamentais são a crescente procura de produtos e serviços ligados à economia do mar no plano internacional, um certo desinvestimento na área da investigação em Portugal e a não existência de uma ação estratégica de política pública de apoio à aceleração e incubação no setor do mar. Tudo isto tem determinado que muitos projetos de investigação científica e tecnológica na fase de pré-validação económica sejam aproveitados, através de contratos-programa e apoio na sua aceleração e incubação, por centros de I&D e empresas estrangeiras.
Pelo que importa e urge adequar soluções de políticas públicas do mar no sentido de criar um modelo mais eficaz para melhorar a articulação entre universidades, centros de investigação, laboratórios e a atividade económica, bem como apoiar e incrementar programas de aceleração para o mar, criar e dotar locais de incubação em diversos pontos do país para o desenvolvimento das novas soluções e produtos que vão emergindo.
Não menos importante é gerar a dinâmica certa entre “uns (investigadores) e outros (empresários)”, sendo essencial fazer com que todos os atores se apercebam das vantagens de estabelecer parcerias duradouras e estruturadas para maximizar o proveito que se pode retirar destes processos criativos, inovadores e empreendedores.
É, pois, deste modo que certamente se reúnem as condições para assegurar toda a cadeia de valor e garantir os fatores adequados e necessários, de grande produtividade, competitividade e flexibilidade, para estabelecer bases duradouras para obter um crescimento económico sustentável do mar português.
Gestor e analista de políticas públicas
Escreve quinzenalmente à sexta-feira