A moral e a política


Apanhada pela surpresa de um caso que só acontecia aos outros, Catarina Martins revelou a sua fragilidade


"Quando uma, a moral, é invocada
a propósito da outra, a política,
é quase sempre mau sinal”
António Barreto

O caso Robles, que marcou a semana política, trouxe à ribalta, e em definitivo, o fim da “virgindade” de um grupo político, o Bloco de Esquerda: a sua suposta diferença, enquanto guardião exclusivo da moral e dos bons costumes na política.

Afinal, bem pregava “soror” Catarina, com o seu estudado sorriso sempre afivelado. As supostas virtudes exclusivas dos militantes do Bloco, a sua entrega total à mais nobre causa pública, nem sempre coincidiam com a prática de alguns. 

Horror dos horrores. No Bloco, também havia gente com a mais despudorada veia capitalista. 

Enfim. Apanhada pela surpresa de um caso que só acontecia aos outros, Catarina Martins revelou a sua fragilidade e, mais importante, a sua argumentação tão igual aos outros: primeiro, a negação; depois, o ataque à comunicação social; e, por fim, novamente com o seu sorrisinho artístico, a admissão de “erros de análise”, mantendo – “com todo o respeito pelo trabalho dos jornalistas” – acusações de falsidade de notícias publicadas.

O caso será esquecido pela voragem dos dias e recordado sempre que o debate político entrar na prática comum do “tiro ao alvo”.

Mais interessante, no entanto, a propósito deste caso, que coloca mais um prego no caixão da credibilidade da classe política, é regressar aos clássicos, numa tentativa, mais uma, de continuar a relevar a nobreza da ação política.

Numa palestra que proferiu em Munique, em janeiro de 1919, sobre “A política como vocação”, Max Weber, economista e sociólogo alemão, considerado o fundador da sociologia moderna, afirmava:

“Quem faz política aspira ao poder; ao poder como meio ao serviço de outros fins – ideais ou egoístas -, ou ao ‘poder pelo poder’, para gozar do sentimento de prestígio que ele confere.”

 Max Weber define dois tipos de ética na prática política: a da convicção – “a intenção é que prevalece” – e a da responsabilidade – “a ação política produz consequências”.

E conclui: “ Vive ‘da’ política como profissão quem dela procura fazer uma fonte duradoira de proventos; vive ‘para’ a política aquele em que isso não acontece.” 

Vale a pena reler a palestra de Max Weber, quase a completar um século e, em tantos aspetos, completamente atual. 

 

Jornalista


A moral e a política


Apanhada pela surpresa de um caso que só acontecia aos outros, Catarina Martins revelou a sua fragilidade


"Quando uma, a moral, é invocada
a propósito da outra, a política,
é quase sempre mau sinal”
António Barreto

O caso Robles, que marcou a semana política, trouxe à ribalta, e em definitivo, o fim da “virgindade” de um grupo político, o Bloco de Esquerda: a sua suposta diferença, enquanto guardião exclusivo da moral e dos bons costumes na política.

Afinal, bem pregava “soror” Catarina, com o seu estudado sorriso sempre afivelado. As supostas virtudes exclusivas dos militantes do Bloco, a sua entrega total à mais nobre causa pública, nem sempre coincidiam com a prática de alguns. 

Horror dos horrores. No Bloco, também havia gente com a mais despudorada veia capitalista. 

Enfim. Apanhada pela surpresa de um caso que só acontecia aos outros, Catarina Martins revelou a sua fragilidade e, mais importante, a sua argumentação tão igual aos outros: primeiro, a negação; depois, o ataque à comunicação social; e, por fim, novamente com o seu sorrisinho artístico, a admissão de “erros de análise”, mantendo – “com todo o respeito pelo trabalho dos jornalistas” – acusações de falsidade de notícias publicadas.

O caso será esquecido pela voragem dos dias e recordado sempre que o debate político entrar na prática comum do “tiro ao alvo”.

Mais interessante, no entanto, a propósito deste caso, que coloca mais um prego no caixão da credibilidade da classe política, é regressar aos clássicos, numa tentativa, mais uma, de continuar a relevar a nobreza da ação política.

Numa palestra que proferiu em Munique, em janeiro de 1919, sobre “A política como vocação”, Max Weber, economista e sociólogo alemão, considerado o fundador da sociologia moderna, afirmava:

“Quem faz política aspira ao poder; ao poder como meio ao serviço de outros fins – ideais ou egoístas -, ou ao ‘poder pelo poder’, para gozar do sentimento de prestígio que ele confere.”

 Max Weber define dois tipos de ética na prática política: a da convicção – “a intenção é que prevalece” – e a da responsabilidade – “a ação política produz consequências”.

E conclui: “ Vive ‘da’ política como profissão quem dela procura fazer uma fonte duradoira de proventos; vive ‘para’ a política aquele em que isso não acontece.” 

Vale a pena reler a palestra de Max Weber, quase a completar um século e, em tantos aspetos, completamente atual. 

 

Jornalista