Cem Soldos? “A aldeia que faz o Bons Sons acontecer”, resposta rápida e que dirá tudo, ou quase, sobre o propósito com que nasceu este festival, lá atrás, em 2006, numa aldeia de Tomar. Ou um deles, porque havia outro. “Quando dissemos que íamos fazer um festival de música portuguesa, ninguém percebia”, recorda Luís Ferreira, que há 12 anos transformou, com os amigos do Sport Club Operário de Cem Soldos, o arraial de verão da aldeia num festival a que chamaram Bons Sons. “Tínhamos que explicar e, no fim, continuavam a pensar que íamos fazer um festival de música pimba. Como no cinema, havia uma série de clichés que matavam à partida qualquer projeto que pudesse existir.”
Mas o Bons Sons fez-se, continuou, foi crescendo e hoje a história já é outra. “Desde 2006 que o Bons Sons pretende ser uma plataforma de música portuguesa e, à medida que ela cresceu nos últimos anos, o festival foi acompanhando esse ritmo. Sabemos que tivemos esse papel de mostrar que havia aqui uma oportunidade, e felizmente outros festivais ajudaram a criar este novo roteiro.” A partir da próxima quinta-feira, dia de pré-abertura com Os Zhérois (22h) e Cover de Bruxelas DJ Crew (23h), na receção ao campista, Cem Soldos volta a ser tomada (a deixar-se tomar) por mais uma edição de Bons Sons. Sem palcos principais ou secundários, sem concertos simultâneos, como de costume, ao longo de quatro dias (mais esse primeiro) com a música portuguesa ao centro.
desbravar novos caminhos De Sara Tavares, Salvador Sobral, Paus, Cais Sodré Funk Connection, Linda Martini, Dead Combo, Slow J ou Lena D’Água com Primeira Dama a tudo o que houver para descobrir de desconhecido. “Muitas pessoas vêm ao festival pelos nomes mais mediáticos sabendo já que 50% do cartaz nao conhecem. Mas vêm justamenet à procura disso.” Surpreendemo-nos quando Luís Ferreira nota que ao longo das dez primeiras edições nunca um nome foi repetido no cartaz, mas era manifesto isso. “Queríamos mostrar que havia música suficiente para isso.”
O que une todos os projetos que compõem o cartaz é o facto de todos eles serem “projetos a desbravar novos caminhos – ou pela apropriação de outros movimentos culturais para criar novas estéticas para a nossa música ou pela criação de novos caminhos para o nosso cancioneiro, a repensar e arejar o que consideramos mais tradicional”. Isso e a aldeia de Cem Soldos, claro.
Para Luís Ferreira, que foi diretor artístico da Experimentadesign e é atualmente diretor e programador dos Centro Cultural de Ílhavo, o mais importante do que vem acontecendo de há 12 anos para cá está no que em Cem Soldos mudou desde a primeira edição do Bons Sons. Durante o festival, na aldeia cada um encontra a sua função – e são 400 os voluntários que todos os anos fazem o Bons Sons acontecer. “As pessoas encontram um papel, desde os miúdos que fazem as visitas guiadas às senhoras mais velhas que fazem o merchandising do festival. Foi a comunidade que o quis fazer e é ela que o produz. A escola já tem o dobro dos alunos, por exemplo, e há vários projetos dinamizados pela associação local que vieram deste pensamento comunitário que o Bons Sons revitalizou e mantém.”
A revolução segundo Zeca Afonso A par dos vários palcos, por onde atuam ainda nomes tão diversos como Selma Uamusse, Mazgani, Lince, S. Pedro, Sean Rilley & The Slowriders, Peltzer, Colorau Som Sistema, Rodrigo Amado, Luís Severo, Moonshiners ou FOQUE + GODOT, a fechar, a partir das 2h, o último dia do festival, no palco Aguardela, a esta edição haverá um novo, para lá dos oito que nos últimos anos já se espalhavam por toda a aldeia: Zeca Afonso, dedicado à nova música e por isso reservado a Linda Martini, Paus, Zeca Medeiros, Peltzer, Mirror People, 1000 Russos, Slow J e The Lemon Lovers. E Zeca Afonso porque já ele dizia, como cita Luís Ferreira: “A revolução cultural não é poder ir tocar a todos os lados. É ir a todos os lados e ouvir a música que é feita lá.”