1. A política portuguesa está cheia de improbabilidades. Nunca ninguém pensou, por exemplo, que Fernando Nobre, o presidente da AMI, algum dia pudesse disputar o Palácio de Belém e a seguir ser candidato a presidente da Assembleia da República e número dois do PSD na lista de deputados por Lisboa. Muito menos se adivinhava que, por exemplo, Assunção Esteves seria presidente do parlamento (por onde andará agora?). Nos últimos dias surgiu inopinadamente numa revista semanal a tese do eventual interesse de Passos Coelho em regressar rapidamente à política para disputar o poder e governar numa situação normal, e não excecional. A suposta notícia foi plantada para testar uma hipótese fora de ordem. É a típica criação de um facto político – ou seja, deitar o barro à parede. Mas, na verdade, o passado demonstra não haver impossíveis políticos, tanto cá como no mundo. Daí este apalpar de terreno quanto a um revivalismo passista. Pela lógica das coisas, Rio deveria ir tranquilo até às europeias e, a seguir, logo se veria. Pela parte dele, sair antes das legislativas é coisa impensável, como expressou em entrevista à TVI24. Mas, em boa verdade, não é matéria que dependa do atual líder, passando, sim, pelo sentimento geral do PSD em função dos seus resultados. Até aqui, a única alternativa objetiva e credível a Rio tem sido Luís Montenegro que, coerentemente, tem feito oposição substancial ao PS e à geringonça nos espaços mediáticos que mantém, depois de se afastar da vida parlamentar. Montenegro tem-se limitado a mostrar pontualmente que há que contar com ele para o futuro, como reafirmou na entrevista que, antes de férias, deu à SIC Notícias e que mexeu com o partido.
2. Pela boca morre o peixe, lá diz o povo na sua milenar sabedoria. Não vale a pena, portanto, perder muito tempo com o caso Ricardo Robles. Sob um manto moralista da esquerda-caviar a que se aludiu neste espaço há oito dias a respeito do Bloco de Esquerda, Robles desenvolveu sub-repticiamente um negócio imobiliário digno de qualquer pato-bravo e depois veio sonsamente dizer que não fez nada de mal. Ora fez. E fez exatamente o que a lei Cristas e a troika facilitaram: despejou, especulou e, inclusivamente, terá levado ao fecho de um café que estava no prédio, com o despedimento de empregados. Não há mal em ser de esquerda ou de direita humanista e ser rico, desde que se utilize uma lisura de processos e não se especule ou explore, abusando de terceiros. É tão simples como isso. Depois da denúncia, e apesar das patetas, patéticas e pífias defesas de Mariana Mortágua e de Catarina Martins, o jovem e experiente político demitiu-se das funções de vereador, depois de oito anos em funções autárquicas, o que já lhe dava uma óbvia veterania. Lá teve um mínimo de vergonha na cara ou alguém lhe impôs a decisão, nem que fosse em memória de gente séria como João Semedo, uma referência moral e ética. Esperemos agora que o Ministério Público da dra. Joana, sempre tão ativo quando se trata de políticos de outros partidos, veja o que se passou e como foram possíveis tantas tramitações e autorizações na Câmara de Lisboa para reconstruir um prédio em Alfama. A propósito deste caso, seria interessante saber em que pé ficou o da compra da casa de Fernando Medina, na melhor zona de Lisboa, a uma grande empresa de construção.
3. Desde sempre um crítico dos abusos e excessos do regime de José Eduardo dos Santos, o jornalista Nicolau Santos, atual presidente da Lusa e cronista da Antena 1, esteve em Angola recentemente e contactou as novas autoridades locais. Veio de lá entusiasmado com as mudanças que viu e, pelo que disse na rádio, convicto de que não são apenas movimentos de fachada e uma mera mudança de protagonistas. O seu depoimento tem um valor efetivo muito maior que o de gente que diz agora o contrário do que afirmava há uns anos, em constantes exercícios de bajulação de quem está no poder. Obviamente que não se pode tomar a nuvem por Juno e pensar que, de hoje para amanhã, Angola se transforme numa democracia do tipo europeu. Seja como for, os passos dados parecem ir no bom sentido, havendo que respeitar o papel histórico de José Eduardo dos Santos, o que é diferente de manter a totalidade do poder económico da sua família.
4. O NOS Alive é um acontecimento cimeiro no panorama musical português e europeu que decorreu mais uma vez em Algés, com grande adesão de público. Temos todos de nos orgulhar disso. Mas há que exigir aos seus responsáveis que, terminada a festa, procedam logo à reposição do local tal como o encontraram. Ora, nada disso acontece. Fica por ali material e uma confusão durante dias a fio, com desprezo por quem frequenta a zona, sejam residentes ou turistas, desprestigiando o festival, a NOS e a câmara de Oeiras, e beneficiando a organização do evento. Tanta polícia municipal, tanto funcionário a controlar parquímetros e, depois, aquela bandalheira à vista de todos. Haja respeito, equidade e responsabilidade ecológica no terreno, e não só da boca para fora.
Jornalista