Aperto no crédito pode ter consequências nas vendas de imóveis

Aperto no crédito pode ter consequências nas vendas de imóveis


Mas mediadoras admitem que já adotaram várias medidas, como a qualificação do cliente


Numa altura em que o crédito à habitação está a dar fortes sinais de recuperação, os bancos portugueses tencionam avançar com “critérios de concessão mais restritivos”. Pelo menos é esta a intenção manifestada por cinco bancos que responderam ao inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, conduzido pelo Banco de Portugal.

E os números falam por si: os bancos emprestaram em maio 815 milhões de euros para a compra de casa, um montante que elevou para 3784 milhões de euros o total concedido nos primeiros cinco meses do ano – o que representa o valor mais elevado desde o arranque de 2010. Já no crédito ao consumo, o crescimento é ainda maior, com o financiamento neste segmento a atingir em maio o valor mais elevado de sempre: 670 milhões de euros.

Para Carla Maia Santos, senior broker da XTB, estas restrições podem pôr um travão à bolha imobiliária. “Estas novas restrições levarão a uma diminuição da procura de imóveis para compra, podendo limitar a subida do preço das casas, com a diminuição da sua procura. No entanto, o mercado de arrendamento encontrará mais procura. Haverá uma transferência da procura de imóveis da compra para o arrendamento. Quem ganha são os proprietários já existentes”, diz ao i.

Mas as alterações não parecem preocupar as mediadoras, uma vez que admitem que já adotaram várias medidas, nomeadamente a qualificação do cliente e a análise da solvabilidade.

“Haverá sempre um período de adaptabilidade, mas no caso do nosso grupo já praticávamos várias medidas sempre com a preocupação de que o cliente demonstrasse capacidade para fazer face sem sobressaltos ao serviço com dívidas, representando assim uma continuidade no nosso trabalho”, diz ao i o presidente da Remax Portugal, Manuel Alvarez.

Também a Century 21 diz que cerca de 60% das transações de venda são efetuadas com recurso ao crédito à habitação, para um financiamento inferior a 70% do valor do imóvel. “Estes dados levam-nos a acreditar que há bastante espaço para uma evolução positiva da concessão de crédito à habitação, permitindo que mais famílias possam aceder a uma habitação ajustada às suas necessidades, com recurso a financiamento”, garante o CEO da mediadora ao i.

Ricardo Sousa acredita que estas medidas poderão ter reflexos nos segmentos médio e médio baixo, onde prevê que os valores subam em consequência do aumento da procura e porque são segmentos que só agora começam a registar uma maior dinâmica. Nos restantes segmentos prevê uma estabilização de valores.

Já Manuel Alvarez garante que o preço resulta sempre da oferta e da procura, representando cenários diferentes nas diversas zonas geográficas do país: “Nos últimos anos não têm existido projetos de construção nova nas grandes metrópoles e litoral. Acreditamos que a oferta do novo produto e recente terá mais influência no preço do que propriamente as recomendações para o setor imobiliário.”

A Remax fechou o primeiro semestre com um volume de negócios na ordem dos 2 mil milhões, o correspondente a 60,6% do total movimentado no ano passado. Nos primeiros seis meses de 2018, a mediadora transacionou 29 882 imóveis, sendo o valor gerado por estes 27,6% superior ao montante movimentado em igual período do ano passado, altura em que a imobiliária comercializou 1,6 mil milhões de euros.

Já o volume de negócios da Century 21 Portugal aumentou cerca de 34% para os 462,1 milhões de euros. Por sua vez, o indicador correspondente ao volume de negócios total em que a rede esteve envolvida – considerando a partilha de transações com outros operadores – atingiu os 770 milhões. Entre janeiro e junho realizou 5688 transações de venda de imóveis e o valor médio aumentou 11% para os 135,4 mil euros quando comparado com a média nacional de 121,6 mil euros registada no período homólogo do ano anterior. S. P. P.