“Olha a bolinha!”, “Há bolas quentinhas!”: estas são duas das várias versões que pode ouvir em qualquer praia portuguesa. Os pregões adaptam-se ao contexto local e à própria personalidade do vendedor. Mas uma coisa é certa: a bola-de-berlim – com ou sem creme – é a rainha do verão dos portugueses, uma verdadeira campeã de vendas que agrada a miúdos e graúdos.
Nas praias, os preços variam entre 1,20 e 1,50 euros, mas há quem arrisque cobrar preços mais altos. A maior parte dos vendedores têm contratos com panificadoras que asseguram a produção e vendem a preços baixos pelas grandes quantidades que são encomendadas, aumentando assim as suas margens de lucro. Mas se, em Lisboa, as bolas saem da panificadora a custar cerca de 0,50 cêntimos, no Algarve, onde o sucesso ainda é maior, os preços chegam a ser inferiores, o que dá muitas vezes, margem de manobra para registarem um lucro na ordem dos 300%.
O certo é que este negócio também é visto pelos vendedores como uma verdadeira oportunidade de ouro. A explicação é simples: muitos dos comerciantes que se dedicam a esta atividade no verão vendem castanhas no inverno e, por isso, nesta altura do ano estão sem trabalhar. Por outro lado, é vista por muitos como um emprego garantido durante três meses, principalmente pelos mais jovens, que conseguem desta forma amealhar algum dinheiro.
A verdade é que este negócio veio substituir a venda de gelados que predominava no areal português há uns 15 anos e que tem vindo a perder cada vez mais terreno. E tem inovado nos últimos anos. Primeiro apareceram as bolas-de-berlim de alfarroba, agora é a vez da beterraba e da spirulina – uma microalga que já foi considerada um superalimento. Aliás, estas duas representam a verdadeira inovação deste verão na ementa de bolas produzidas numa fábrica em Moncarapacho, Olhão. As bolas com massa feita à base de spirulina têm inicialmente uma cor azulada, mas no final da confeção ficam com um tom acastanhado. Os benefícios deste superalimento para a saúde são muitos: é anti-inflamatório, antialergénico, desintoxicante e antibacteriano. Além disso, é o aliado ideal para quem quer aumentar a massa muscular ou perder peso.
Para já, estas novidades só estão presentes nas praias algarvias mas, consoante o sucesso, quem sabe se poderão conquistar outras praias do país. Também os recheios são cada vez mais diversos.
“Queríamos procurar um produto que fosse mais saudável e, em conjugação com uma marca de farinhas, pedimos que ajustassem um produto feito à base de spirulina”, contou Carlos Cipriano, que há dez anos tem uma fábrica no Sítio do Laranjeiro, aberta apenas nos meses de verão para produzir e vender bolas-de-berlim.
Da fábrica Bolinhas do Carlos saem diariamente, no verão, bolas com quatro variedades de massa: normal, alfarroba, beterraba (ou “red velvet”) e spirulina. Quanto aos recheios possíveis, há mais de uma dezena de sabores: desde o tradicional creme de pasteleiro ao mirtilo, maçã, limão, maracujá, quivi, coco, morango e vários tipos de chocolate, incluindo chocolate branco.
Apesar da ementa variada e inovadora – em 2014, a empresa lançou também a bola-de-berlim de alfarroba -, a verdade é que a bola tradicional, sem creme ou com creme de pasteleiro, continua a ser a mais procurada nas praias algarvias, sobretudo pelos portugueses, já que os estrangeiros não são tão adeptos desta iguaria.
Quanto à massa de spirulina, lançada este ano, ainda é cedo para medir a sua aceitação junto dos consumidores, mas o responsável por esta inovação acredita que é um produto com potencial e que pode conquistar os públicos mais saudáveis ou que apreciem produtos inovadores.
Com menos adeptos Muito comum nas praias do Norte e que foi aparecendo um pouco por todo o país foi a venda de bolacha americana nos areais das praias. Mas o pregão “olha a bolacha americana” conquista bem menos os paladares dos visitantes.
Também a venda de sumos, fruta e saladas de fruta tem sido outra das novidades destes últimos verões e, ao contrário do que acontece com as bolachas americanas, estes produtos têm registado uma maior procura, principalmente por aqueles que procuram uma alimentação saudável. Já os preços, por norma, variam entre 1,5 e 2 euros, consoante a fruta.
Nesta altura do ano e porque a ideia é fornecer sempre fruta da época, as caixas com um peso de 200 gramas oferecem melão, melancia, laranjas, uvas e cerejas, e ainda é possível encontrar a versão “caixas tropicais” com manga, abacaxi e quivi.