Ainda não aconteceu, mas a situação começa a ser irreversível. A demissão de Ricardo Robles do cargo de vereador do Bloco de Esquerda só pode estar por horas… ou por dias. Na realidade, Robles está na prática “demitido” de dizer o que quer que seja contra o alojamento local, a especulação imobiliária, a gentrificação do centro histórico – tudo assuntos “core” do seu programa eleitoral – sem provocar uma enorme gargalhada na sua oposição e uma profunda consternação no seu eleitorado.
O argumento de que não realizou “qualquer mais-valia” com o prédio de Alfama, em que Robles se escudou na conferência de imprensa de sexta–feira, é penoso. Se o edifício esteve à venda por 5,7 milhões durante seis meses, a transação não aconteceu porque Robles desistiu de fazer “mais-valias” ou simplesmente porque, apesar de tantos vistos gold – tão criticados pelo Bloco de Esquerda –, não apareceu ninguém com dinheiro suficiente para permitir aos irmãos Robles encaixar uma mais-valia de 4 milhões à conta da especulação imobiliária? Ou não aceitaram vender por menos?
O anúncio da venda do prédio feito pela imobiliária Christie’s, especializada em investidores de luxo (os tais vistos gold, etc.), é muito claro quando afirma que o edifício é ideal para alojamento local – o que é mais ou menos óbvio, tendo em conta que está dividido em frações de 25 m2, 30 m2… Não é a demissão de Robles que vai resolver de um momento para o outro a perda de credibilidade que este processo causou. Mas é o mínimo que pode acontecer.
P.S. Vou deixar de trabalhar no i, nove anos depois de ter participado na fundação deste jornal. Queria agradecer a quem o fundou e a quem trabalha diariamente para que ele continue vivo, imaginativo, criativo e dinâmico.
Um obrigada especial a Mário Ramires, diretor e proprietário. Um abraço amigo a Vítor Rainho, José Cabrita Saraiva e Francisco Alves, meus colegas de direção, e uma vénia a todo este grupo de pessoas fora de série que fazem este jornal todos os dias. Aos leitores, um obrigada enorme. Ficam bem entregues.