Aqui podia morar o tal outro mundo que é possível


Não viver no modelo de sociedade que se deseja não implica que se abdique de tentar construir  diariamente soluções que se lhe aproximem. Não basta fazer política dentro das instituições, importa fazer


A venda de um prédio em Alfama do qual o vereador Ricardo Robles é coproprietário com a irmã gerou uma polémica de enormes proporções e impactos. Havendo inúmeros casos de eleitos e dirigentes de partidos à direita que fazem operações financeiras de igual (ou mais rocambolesco) nível especulativo, é raro ser detetado alguém, à esquerda, a fazê–lo numa operação que nem um mercado louco caucionou. Mas, convenhamos, além da paródia, ódio ou ataque de caráter, a direita tem pouco para acrescentar a esta discussão. Nas suas conceções políticas, o que Robles se propunha fazer é a solução natural. O que a direita defende é que o seu direito de propriedade e venda em mercado livre devem prevalecer sobre o bem comum.

À esquerda, a tentativa de justificação do caso pela via de se tratar de uma matéria do foro privado remete para uma área cinzenta. Até que ponto é que as escolhas políticas devem divergir da prática pessoal ou profissional? Esta discussão interessa fazer. Não do ponto de vista moral, mas do ponto de vista prático.

É preciso e possível desenvolver modelos de vida alternativos. Modelos de construção de cidade, de relações de trabalho e entre pessoas, de criação de riqueza. Modelos que subvertam o que está institucionalizado como a única opção, que criem trabalho com direitos, que socializem riqueza, que solidifiquem relações e territórios. Não viver no modelo de sociedade que se deseja não implica que se abdique de tentar construir diariamente soluções que se lhe aproximem. Não basta fazer política dentro das instituições, ensaiar processos de resistência ou participar em fóruns críticos, importa fazer. Viver a transformar a vida. Se não deixamos aos nossos descendentes o património acumulado que desejaríamos, tentamos deixar, pelo menos, os caminhos que trilhámos, tal como Che Guevara explica na sua famosa carta a Fidel e a Cuba.

A solução passa por colocar a pergunta certa: de que forma é que o proprietário de um edifício no centro de uma cidade em plena ebulição especulativa pode construir outro modelo de negócio, de construção de cidade ou de trabalho? É esta a resposta que importa dar. Tudo o resto é repetir modelos de vitimização que outros já esgotaram.

Escreve às segundas


Aqui podia morar o tal outro mundo que é possível


Não viver no modelo de sociedade que se deseja não implica que se abdique de tentar construir  diariamente soluções que se lhe aproximem. Não basta fazer política dentro das instituições, importa fazer


A venda de um prédio em Alfama do qual o vereador Ricardo Robles é coproprietário com a irmã gerou uma polémica de enormes proporções e impactos. Havendo inúmeros casos de eleitos e dirigentes de partidos à direita que fazem operações financeiras de igual (ou mais rocambolesco) nível especulativo, é raro ser detetado alguém, à esquerda, a fazê–lo numa operação que nem um mercado louco caucionou. Mas, convenhamos, além da paródia, ódio ou ataque de caráter, a direita tem pouco para acrescentar a esta discussão. Nas suas conceções políticas, o que Robles se propunha fazer é a solução natural. O que a direita defende é que o seu direito de propriedade e venda em mercado livre devem prevalecer sobre o bem comum.

À esquerda, a tentativa de justificação do caso pela via de se tratar de uma matéria do foro privado remete para uma área cinzenta. Até que ponto é que as escolhas políticas devem divergir da prática pessoal ou profissional? Esta discussão interessa fazer. Não do ponto de vista moral, mas do ponto de vista prático.

É preciso e possível desenvolver modelos de vida alternativos. Modelos de construção de cidade, de relações de trabalho e entre pessoas, de criação de riqueza. Modelos que subvertam o que está institucionalizado como a única opção, que criem trabalho com direitos, que socializem riqueza, que solidifiquem relações e territórios. Não viver no modelo de sociedade que se deseja não implica que se abdique de tentar construir diariamente soluções que se lhe aproximem. Não basta fazer política dentro das instituições, ensaiar processos de resistência ou participar em fóruns críticos, importa fazer. Viver a transformar a vida. Se não deixamos aos nossos descendentes o património acumulado que desejaríamos, tentamos deixar, pelo menos, os caminhos que trilhámos, tal como Che Guevara explica na sua famosa carta a Fidel e a Cuba.

A solução passa por colocar a pergunta certa: de que forma é que o proprietário de um edifício no centro de uma cidade em plena ebulição especulativa pode construir outro modelo de negócio, de construção de cidade ou de trabalho? É esta a resposta que importa dar. Tudo o resto é repetir modelos de vitimização que outros já esgotaram.

Escreve às segundas