A Grécia está de luto. Entre a terra queimada, casas destruídas e carros incendiados, bombeiros, voluntários e familiares procuram os seus familiares e amigos, cujo contacto perderam desde o início do incêndio. As autoridades contabilizam mais de duas centenas de desaparecidos. Agonia, tristeza e desespero são os sentimentos dos familiares. Ontem, o número de mortos subiu para 81, quando um dos hospitalizados, um homem de 84 anos, não resistiu às queimaduras. É a última vítima, mas toda a gente receia que não seja a última – e o mais provável é não o ser. No hospital deram entrada 71 adultos, com dez em estado crítico, e dez crianças, sendo que nenhuma em estado crítico.
O desespero de Yiannis Philippopoulos, pai de duas meninas gémeas de nove anos, tornou-se na imagem dos sentimentos dos familiares. “Fomos aos hospitais, à polícia e aos bombeiros, com estes a dizerem que o último local seria a morgue”, explicou Philippopoulos à Skai TV. Sem respostas, viu na televisão duas meninas muito parecidas com as suas filhas, mas ao contatar as autoridades percebeu que não era mais que um engano. Eram as filhas de outro homem, que também se encontrava no barco. As filhas continuam desaparecidas.
Os relatos do avanço das chamas e do pânico vivido não param. “Pegámos nos nossos carros e fomos em direção ao mar para escapar, mas muitas pessoas não escaparam”, explica Agni Gantona, residente de Mati, uma das localidades que desapareceram por completo. “Entrámos na água e ficámos lá por horas até os barcos nos virem resgatar. Estavam entre 250 a 300 na praia”, disse, acrescentando que “algumas pessoas estavam queimadas, outras à beira de desmaiarem por causa do fumo e das chamas”.
O choque ainda não passou, mas as perguntas já começaram a surgir. Como pôde acontecer? A resposta imediata foi a de fogo posto por o incêndio ter deflagrado simultaneamente em 15 pontos diferentes na tarde de segunda-feira. O fogo posto por motivações imobiliárias está longe de ser raro na Grécia. A maioria dos fogos postos pretendem desocupar áreas de floresta para se avançar com a construção. Foi o que aconteceu na tragédia de 2007, quando morreram 84 pessoas.
A procuradora do Supremo Tribunal grego, Xeni Dmitriou, ordenou uma investigação às causas do incêndio depois do porta-voz do governo, Dimitris Tzanakopoulos, ter dado a entender que se podia tratar de fogo posto.
Enquanto as autoridades judiciais avançam com investigações ao sucedido, o governo grego tem-se focado no apoiio às populações afetadas, aprovando uma verba de 20 milhões de euros para ajudar no imediato os afetados pelo incêndio. Entretanto, as ações de solidariedade têm-se espalhado um pouco por todo o país, com voluntários a recolherem comida, cobertores e roupa para os doarem às vítimas.