Quando se iniciou o resgate internacional, em 2011, foram várias as empresas portuguesas alvo de compra por grupos estrangeiros. PT, EDP e Galp, debilitadas por anos de má gestão, e que as golden shares protegiam e escondiam, tornaram-se um alvo fácil para multinacionais poderosas vindas da China ou da França.
São muitos os que ainda lamentam a venda destas empresas, culpando o governo de então por não as ter protegido. Diz-se que eram campeãs nacionais, esquecendo- -se que, se o eram, não precisavam da ajuda que tantos exigiam. Porque, se o eram, a sua excelência bastaria. E não bastou porque não existia. Porque era um logro, uma fantasia.
Um país não é soberano porque tem empresas campeãs nacionais com lucros que se devem ao acesso ao mercado facilitado pelo Estado. A soberania, hoje, passa por um Estado com uma dívida pública diminuta, empresas privadas capitalizadas, um bom índice de poupança, uma taxa de natalidade capaz de repor e aumentar a sua população e um Estado capaz de proteger e de, no quadro de uma aliança militar como é o caso da NATO, projetar as suas forças armadas em qualquer ponto do globo.
Passados sete anos, o país ainda discute a venda destas empresas, não se dando conta da outra venda que está a ter lugar. Refiro-me ao imobiliário. Por várias razões – instabilidade no Magrebe, as low-costs, liberalização do turismo e do alojamento local, benefícios fiscais concedidos a estrangeiros já reformados –, são cada vez mais os que passam férias em Portugal ou decidem mesmo viver cá a título definitivo.
O resultado tem sido a subida do custo das casas, atingindo valores que a grande maioria dos portugueses não suporta. Porque, à semelhança do que sucedeu com as empresas portuguesas, os melhores bairros de Lisboa e do Porto, os melhores locais do país vão ser comprados por estrangeiros. Goste-se ou não, é um facto. Para alguns, é um problema. Para as cidades que têm sido finalmente recuperadas, uma solução. O que quero salientar, no entanto, é que mais que proibir o quer que seja se deve perceber o porquê. E tal como as referidas empresas que foram mal geridas e sacrificadas em prol de interesses políticos, o que sucede com as habitações em Portugal, a serem vendidas a preços muito acima do valor que um português pode comportar, explica-se pelo facto de o país ter sido mal governado nas últimas décadas. Não se poupou, não há capital, não há crianças, não se produz o suficiente, o futuro não é risonho e, por essa razão, o país está em saldos.
Advogado
Escreve à quinta-feira