A guerra comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia subiu de tom nas últimas semanas, mas a reunião entre o presidente Donald Trump e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, parece ter acalmado os ânimos e enterrado – temporariamente – o machado de guerra. Pelo menos é essa a expetativa.
Com Juncker a seu lado no Rose Garden da Casa Branca, Trump anunciou, na quarta-feira, que Washington e Bruxelas irão trabalhar em conjunto para eliminar as tarifas alfandegárias para todos os bens não automóveis, para aumentar a cooperação nas compras energéticas e para reformar a Organização Mundial do Comércio. A cooperação “irá abrir os mercados para os agricultores e trabalhadores, aumentar o investimento e resultar numa maior prosperidade tanto para os Estados Unidos como para a União Europeia”, explicou Trump. “Se nos unirmos, podemos melhorar o nosso planeta, torná-lo mais seguro e próspero”, acrescentou o chefe de Estado norte-americano. Por seu lado, Juncker disse que Washington e Bruxelas são “parceiros, aliados e não inimigos”, referindo-se às declarações em que Trump classificou a União Europeia como “inimiga” dos Estados Unidos.
Ao contrário da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron, Juncker parece ter sido mais bem sucedido no seu encontro com Trump e saiu de lá com um acordo. “Quando fui convidado pelo presidente para ir à Casa Branca, apenas tinha uma intenção”, explicou Juncker na conferência de imprensa. “Tinha a intenção de fazer um acordo hoje. E fizémos um bom acordo. O encontro foi bom e construtivo”, acrescentou o presidente da Comissão Europeia.
Em troca de Trump “reavaliar” as tarifas sobre alumínio e aço europeus, Juncker prometeu-lhe que os Estados-membros da União Europeia iriam aumentar as compras de soja e construir mais terminais para importar mais gás natural liquefeito norte-americano. Além das promessas, os dois líderes decidiram criar um grupo de trabalho executivo com assessores dos dois lados para delinearem formas das promessas se concretizarem.
“As negociações foram mais fáceis por nos termos dado surpreendentemente bem”, disse Juncker ao “Brussels Playbook”, acrescentando que o presidente norte-americano “gostou” que o presidente da Comissão o “tenha desafiado em duas reuniões do G7” – marcadas por fortes frições entre Trump e os seus homólogos europeus. “Não gosta de quem não vai direto ao assunto”, acrescentou Juncker, como se estivesse a dar dicas sobre como lidar com Trump aos outros líderes europeus.
Ainda que Juncker e Trump tenham acordado trabalhar para terminar as tarifas, Trump não anunciou o cancelamento das tarifas sobre o aço e alumínio europeus. O presidente norte-americano limitou-se a dizer que Washington e Bruxelas “iriam resolver a situação das tarifas do aço e alumínio e as medidas retaliatórias” da União Europeia. Por agora, Juncker saiu do encontro satisfeito por ter ganho tempo ao obter o compromisso de Trump em não aumentar mais as tarifas enquanto as negociações estiverem a decorrer. Numa das frases do texto pode ler-se que os dois lados se comprometem a “não ir contra o espírito do acordo, exceto se alguma das partes terminar as negociações”.
Entretanto, o Departamento do Comércio norte-americano continua a analisar o aumento das tarifas sobre automóveis importados com o argumento de que representam uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos. Os europeus também não se deixaram desarmar, com a comissária europeia do comércio, Cecilia Malmström, a dizer que, caso o encontro fosse um falhanço, a UE já tinha uma segunda ronda de retaliação de tarifas delineada.
As relações entre Washington e Bruxelas tornaram-se crescentemente tensas nos últimos meses. Trump decidiu aumentar as tarifas sobre o aço e alumínio europeus, com a União Europeia a ripostar com a imposição de tarifas no valor de 2,821 mil milhões de euros a diversos produtos norte-americanos, como jeans, barcos e até a bebida bourbon.