Quem já não os tem, sabe bem a falta que fazem, mas os que têm a sorte de os ter, dar-lhes-á, certamente, o valor que merecem. Afinal, quem não gosta dos mimos dos avós? Hoje, o dia é deles. Começou por ser uma homenagem a Santa Ana e São Joaquim – os pais da Virgem Maria e avós de Jesus Cristo –, mas hoje é celebrado por todos os netos que querem trocar os papéis e mimar os seus ‘velhotes’. Mas será que são todos… Velhotes?
O i procurou mulheres que foram avós com idade para (ainda) serem mães. Estamos a falar de pessoas que celebraram a chegada do primeiro neto com menos de 45 anos. Carla Cardoso é um desses casos: tinha apenas 40 anos quando soube que ia ser avó pela primeira vez. Pode parecer esquisito ver uma mulher tão nova com um neto, mas os olhares estranhos não incomodam esta ‘alfacinha’.
“Fui avó com 40 anos e não vejo isso como algo estranho, mas sim como uma alegria”, começa por dizer, adiantando que ser avó na casa dos 40 tem vários benefícios, tanto na sua vida, como na do neto. “Sou uma pessoa muito energética por norma. É claro que ser avó nova tem os seus benefícios. Temos mais paciência e muito mais tempo”, diz Carla, agora com 44 anos.
Mas nem tudo são rosas: Carla ainda trabalha e diz que o facto de ser gerente de uma empresa acaba por atrapalhar um bocadinho esta relação: é só aos fins de semana que tem mais disponibilidade para poder aproveitar o tempo com a neta.
“O tempo acaba por ser escasso. Muitas vezes, só tenho o sábado para estar com ela”, conta ao i.
Carla admite que, para compensar o tempo em falta, acaba por dar mais mimos à pequena Madalena: “Muitas vezes, [nós, os avós] acabamos por fazer todas as vontades. Algumas que não fazíamos aos nossos filhos. Como diz o ditado ‘os pais educam e os avós deseducam’. Voltamos a ter crianças novamente para nos dar que fazer e muita alegria.”
E a relação com a neta? “É excelente! Embora só a veja uma vez por semana, isso faz com que a nossa relação seja ainda mais forte… E o colinho da avó é sempre delicioso”.
Uma nova experiência Há quem ainda tenha dificuldade em descrever este papel, de tão recente que é. Constância Guilherme, de Mértola, foi avó de Vicente há apenas quatro meses. Nada que assuste esta avó de 45 anos: garante que a experiência tem sido muito positiva e, tal como Carla, não sente que os outros a encarem de forma diferente por ter assumido este papel tão nova.
“Apesar de comentarem que sou uma avó jovem ou que fui avó muito cedo, nunca senti que isso fosse um problema. De facto, ser avó na casa dos 40 é algo mais incomum, mas sinto-me muito bem com isso”, contou ao i.
Ainda é cedo para se aventurar em brincadeiras com Vicente, mas Constância já antevê os benefícios de ser uma avó cheia de energia: “O meu neto ainda é muito pequeno para poder sentir os benefícios de ter uma avó mais jovem, mas acho que um dia vou conseguir ter brincadeiras que seriam impossíveis para uma pessoa com mais idade, pois [a falta de ] capacidades físicas e psicológicas não o permitem”, explica.
Esta avó diz que ser nova traz várias vantagens, nomeadamente poder acompanhar o percurso do neto quase como se este fosse um filho. “Sinto sobretudo que vou poder vê-lo crescer por mais tempo e isso deixa-me feliz – imaginar que farei parte do percurso, crescimento e formação dele. Além disso, espero também que ele possa ver em mim alguém em quem confiar: às vezes há uma tendência dos mais jovens a achar que os mais velhos não os compreendem”.
A verdade é que Constância já olha para Vicente como se fosse o seu filho. Já tinha sido mãe muito nova – com 17 anos – e agora começa uma nova fase também mais cedo do que a maioria. Mas a alegria que sente com a chegada de um novo membro faz com que nem olhe para os números: “É inexplicável. É como se fosse um filho. Quero que ele cresça, não demasiado depressa, mas o suficiente para o poder ouvir chamar-me avó”, conta, deslumbrada com esta nova fase da sua vida.
“Ainda há pouco ele nasceu e já vai ser pai?!” Mas se para algumas mulheres ser avó cedo não foi problema, para Fátima Moreira foi “um choque”. Começou esta nova fase aos 43 anos, sem saber ‘ao que ia’.
“Fui avó com 43 anos de idade e adoro. Mas para ser muito sincera, o choque inicial fez com que tivesse uma sensação de passagem supersónica do tempo”, começa por revelar ao i. Fátima ainda se lembra do que pensou na altura: “’Esperem lá, ainda há tão pouco tempo ele estava a nascer e já vai ser pai?’”. Não estava preparada para o que aí vinha, mas teve de se habituar rapidamente (ou melhor, em nove meses…) à ideia.
Fátima confessa que foi complicado aceitar a vinda do neto, mas que, no fundo, só queria que tudo corresse bem. No dia em que a criança nasceu, a sensação foi de uma felicidade enorme. “Chorei e só pedi a Deus que o guiasse nesse caminho e que me ensinasse a fazer sempre o melhor para ele ser feliz”. Mas acabou por ser ao contrário: “Na verdade ele é que me faz muito feliz com a sua vivacidade inteligente… e dá-me sempre a volta com uma grande pinta”, brinca esta avó babada.
“É maravilhoso ser avó nova” “Vou poder acompanhá-lo mais tempo, com mais paciência e mais energia do que os outros avós”. Elisabete tinha 43 anos quando foi avó de Martim. Ficou em choque quando recebeu a notícia: tinha sido mãe nova, aos 23 anos, mas não estava à espera que a sua filha a ‘ultrapassasse’, chegando a esta nova fase da vida aos 20. Agora, não imagina a sua vida de outra forma – a relação com o neto é “de uma cumplicidade inexplicável”.
Esta sintrense não sente que as outras pessoas a ‘olhem de lado’, mas, mesmo que assim fosse, era-lhe completamente indiferente: “Não senti que houvesse grande preconceito em relação à minha idade enquanto avó. Senti, sim, que é maravilhoso ser avó nova – isso dá-me a oportunidade de estar ao lado dele durante a infância, a adolescência e a idade adulta, com muito mais vivacidade que os outros avós”, contou ao i.
Contrariar as estatísticas De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, as mulheres têm adiado a fase da maternidade para cada vez mais tarde: em 2000, as mulheres costumavam ter o primeiro filho, em média, aos 26,5 anos. Em 2015, este número já tinha subido para os 30,2 anos.
Com base nestes números é possível perceber que casos como estes – em que mães e avós entram nesta aventura mais cedo do que a maioria – são uma raridade, mas isso não faz destas mulheres melhores ou piores cuidadoras do que as restantes. “Os anos não importam. Seja qual for a idade, a energia ou a disponibilidade, as avós são sempre especiais”, remata Elisabete, que respondeu às nossas perguntas a correr para ir brincar com o neto.