Sousa Cintra saiu do Sporting com uma imagem desgastada. É um problema crónico do Sporting: a dificuldade do clube em ganhar campeonatos leva a que os presidentes saiam em geral pela porta pequena. Ainda por cima, Cintra ficou ligado a actos de gestão desastrosos, como o despedimento de Bobby Robson – que iria para o FC Porto, onde seria campeão.
Nestas circunstâncias, o seu regresso a Alvalade, e os resultados conseguidos, têm sido a grande surpresa deste verão. Sousa Cintra está a fazer tubo bem feito: fala pouco, é objectivo, não diz mal do antecessor, esforça-se em emendar o que aquele destruiu – já tendo conseguido resgatar o melhor jogador da equipa, Bruno Fernandes, e o principal goleador, Bas Dost – e contratou o treinador certo para esta fase: José Peseiro.
Já disse o que pensava de Peseiro: não é um homem fadado para fazer campeões, mas é um técnico honesto, sabedor, sereno, capaz de devolver a tranquilidade à equipa e – muito importante – não estragar o trabalho feito por Jorge Jesus.
Qualquer outro treinador podia teimar em impor a sua marca, desfazendo o que Jesus construiu. Ora Peseiro é suficientemente inteligente para não cometer esse erro.
Voltando a Sousa Cintra, tem outra vantagem: já não precisa do futebol para nada. Está a desempenhar estas funções por amor ao clube. E isso dá-lhe uma tranquilidade que noutras circunstâncias não teria.
É um homem que já fez tudo na vida, que somou êxitos e fracassos, que ganhou e perdeu muito dinheiro, e que chegado a esta altura ganhou uma maturidade que lhe permite encarar os problemas sem stresse. Ele sabe que esgotada esta comissão de serviço volta à sua vida, e portanto não está a lutar por nada que não sejam os interesses do Sporting. E isso dá-lhe uma autoridade acrescida.
Quanto aos candidatos, penso que o mais bem situado é Frederico Varandas. É jovem, tem experiência de gestão (na área clínica), conhece o Sporting por dentro, contactou com técnicos competentes (como Leonardo Jardim, Marco Silva ou Jorge Jesus), é respeitado e adorado pelos jogadores.
É um homem que pode constituir uma boa ponte entre o passado e o futuro. Continuar um passado que teve coisas boas e más – valorizando as boas e eliminando as más.
Além disso, Frederico Varandas tem o apoio de figuras respeitáveis do clube, como o advogado Rogério Alves (e de outras menos respeitáveis, mas isso acontece com todos).
Com esta liderança transitória de Sousa Cintra, e a possível vitória de Frederico Varandas, o Sporting parece estar no bom caminho. Nessa medida, o melhor para o clube seria Bruno de Carvalho não se candidatar. Afastar-se da corrida. Só que isso não está na sua natureza. Como sucede com o escorpião, a natureza de Bruno de Carvalho leva-o a picar, mesmo que isso signifique o seu suicídio.