A produção nacional chegou mais contida este ano a Vila do Conde, depois de uma edição dominada pelo cinema português, com “Farpões Baldios”, filme de estreia de Marta Mateus, como grande vencedor da competição internacional. Nesta 26.ª edição podia não haver nomes como João Pedro Rodrigues, João Salaviza ou Gabriel Abrantes em competição (“Russa”, de Salaviza e Ricardo Alves Jr., foi exibido fora de competição na sessão Panorama Nacional, ao lado de “Anjo”, de Miguel Nunes, e “Diamantino”, que Gabriel Abrantes correalizou com Daniel Schmidt, fez na secção Da Curta à Longa a abertura do festival). Havia Sandro Aguilar na montagem e na produção, ao lado de Luís Urbano, de “Sara F.”, de Miguel Fonseca. A par de “3 Dias Depois”, de Marco Amaral, um dos não premiados que mais se destacaram de entre os filmes apresentados a concurso na Competição Nacional.
Se à saída de uma das sessões da competição dedicada à produção nacional Nadav Lapid, realizador em foco com uma retrospetiva e membro do júri desta edição, comentava em conversa com o i a qualidade dos novos talentos do cinema nacional, estava aí a pista para os filmes portugueses vencedores deste 26.º Curtas Vila do Conde, que terminou ontem com a cerimónia da entrega de prémios.
O grande vencedor da Competição Nacional foi “Onde O Verão Vai (Episódios da Juventude)”, filme de escola de David Pinheiro Vicente, que tinha já tido a sua estreia internacional em Berlim. Uma produção da Escola Superior de Teatro e Cinema para a história de uma viagem de um grupo de amigos em direção à floresta a beber inspiração das primeiras obras de Asghar Farhadi. O prémio de melhor realização, na edição passada entregue a Gabriel Abrantes por “Os Humores Artificiais”, foi para Ana Moreira pelo seu primeiro filme na realização: “Aquaparque”. Uma produção da C.R.I.M. que, entre as várias competições, foi a curta selecionada deste Curtas Vila do Conde para os European Film Awards.
Contrariando a última edição, em que o grande prémio da Competição Internacional foi entregue a um filme português, “La Chute”, de Boris Labbé, foi este ano o melhor filme. Animação francesa de 14 minutos para o momento em que a ordem natural do mundo é suspensa e hão de emergir os reinos do inferno e do paraíso, num quadro que se assemelharia a um Bosch em tons de preto e branco em movimento.
Ainda na Competição Internacional, o prémio de Melhor Ficção foi para “Fry Day”, da norte-americana Laura Moss. E o de Melhor Documentário para “Madness”, de João Viana, cuja longa-espelho, “Our Madness”, tinha já sido premiada no IndieLisboa. Além do realizador israelita Nadav Lapid, o júri era ainda composto pelo crítico e programador britânico Laurence Boyce, Aurélie Chesné, consultora de programação de curtas na France Télévisions, e Nadav Lapid, realizador israelita em foco nesta edição do Curtas.
Os prémios do público foram, em ambas as competições, para filmes de animação. Na internacional, distinguido foi “Ce Magnifique Gâteau!”, coprodução belga, francesa e holandesa de Emma de Swaef e Marc James Roels com 44 minutos de duração. Na nacional, sem grande surpresa, “Entre Sombras”, segunda animação da dupla Alice Eça Guimarães e Mónica Santos, que a audiência de Vila do Conde havia já distinguido em 2015 pela sua primeira curta, “Amélia e Duarte”. Desta vez, a história conta-se a partir da funcionária de um banco onde são depositados corações, numa animação com recurso à fotografia protagonizada por Gilberto Oliveira e Sara Costa, com a voz de Margarida Vila-Nova.
“Amor, Avenidas Novas”, curta-metragem de Duarte Coimbra já distinguida no último IndieLisboa, foi a grande vencedora do Take One!, com Ana Oliveira e André Puertas a receberem o prémio de melhor realização nesta categoria que o Curtas dedica aos novos talentos, com “A Ver o Mar”. A produção norte-americana “Another Movie”, de Morgan Fisher, foi a vencedora da Competição Experimental, cujo júri era composto pela curadora de cinema radicada em Londres Maria Plácidos Cruz e, da Alemanha, o crítico Wolfgang Lehmann e o produtor e curador Peter Zorn.