O PSD vai abster-se na votação do pacote laboral do governo, que teve o acordo da concertação social. A salvífica abstenção permite ao executivo cumprir o que acordou com os parceiros sociais nas costas dos seus parceiros políticos.
O partido de Rui Rio faz o que era esperado: de resto, também seria difícil ao PSD explicar politicamente um chumbo de um acordo de concertação social, ainda mais quando já não está em vigor a regra de Passos Coelho de impedir que o PSD viesse socorrer o governo perante a falta de acordo entre os partidos da geringonça. E, no entanto, o que aconteceu no Conselho de Concertação Social foi um dos atos de maior desprezo pelos partidos que apoiam o governo feitos por este executivo.
Se é verdade que tanto PCP e Bloco de Esquerda se comprometeram a aceitar a condição do PS para o cumprimento estrito das regras europeias, também era claro que as matérias laborais faziam parte do contexto da assinatura dos acordos de novembro de 2015. Aliás, no parlamento havia grupos de trabalho entre o PS e a sua esquerda para debater mudanças. O facto de António Costa e Vieira da Silva terem decidido aprovar um acordo nas costas também do Partido Socialista demonstra um grau de autossuficiência típico de uma maioria absoluta. E, por enquanto, ela não existe.
O debate do Estado da Nação da passada sexta-feira foi feito num tom mais pacificador entre o governo e os partidos que o apoiam, um sinal de que todas as partes se empenharam em recuar na agressão mútua que tinha marcado os últimos tempos e que já fazia surgir dúvidas sobre a possibilidade de aprovação do Orçamento. A menos que alguma coisa nova aconteça, todos os partidos parecem empenhados em fazer aprovar o Orçamento ou, pelo menos, em não ficar responsáveis pela sua reprovação.
Mas que ninguém se iluda: está em curso um divórcio para a próxima legislatura, já antevisto por Augusto Santos Silva. Aprovar este Orçamento apenas significa poupar a família a um divórcio em véspera de Natal.