África. Mulheres gastam 40 mil milhões de horas por ano a ir buscar água

África. Mulheres gastam 40 mil milhões de horas por ano a ir buscar água


A fundadora e presidente da ONG FACE Africa diz que se trata de uma questão de género e que esta tarefa impõe barreiras na educação das mulheres


A fundadora e presidente da ONG FACE Africa, Saran Kaba Jones, defende que o acesso à água é uma questão de género, visto que as mulheres dedicam a esta tarefa mais de 40 mil milhões de horas por ano. Jones esteve em Portugal para o primeiro EurAfrican Forum.

Jones ainda vê muitas barreiras na educação da população africana, explica em entrevista à Agência Lusa. Uma das suas maiores preocupações, para além do saneamento e de água potável, é o ensino – principal objetivo da organização que foi fundada em 2008. "Sou apaixonada pela educação e achei que educar as crianças seria uma forma de as ajudar a ter um futuro", revelou.

No entanto, uma das tais barreiras que se impõe à educação é o acesso à agua potável. Jones diz que estes dois fatores estão relacionados, observando que as crianças tendem a faltar mais às aulas quando adoecem devido à ingestão de água não-potável. A presidente da FACE Africa aponta também o facto de serem as raparigas a irem buscar água e serem obrigadas a percorrer grandes distâncias, para o conseguirem.

"O transporte de água é uma tarefa quase exclusivamente feminina em África. As mulheres e as raparigas gastam 40 mil milhões de horas todos os anos, percorrendo longas distâncias para ir buscar água. Por isso muitas raparigas não vão à escola. Estão ocupadas com esta e outras tarefas domésticas e não conseguem ser produtivas", afirma a diretora da FACE Africa. "A água está relacionada com todas estas áreas, seja a saúde, a produtividade, o desenvolvimento económico, a educação ou a igualdade de género. Este é um problema feminino, por isso, quando se resolve o problema da água, estamos também a dar diretamente mais poder às mulheres."

Jones acredita que a solução está na instalação de sistemas de água nas aldeias, que sejam de tecnologia pouco sofisticada e de baixo custo: “ É mais tempo que as mulheres e as raparigas têm disponível para ir a escola e estudar, dedicarem-se à agricultura e ao comércio ou outras atividades produtivas".

Para além da construção destes, é preciso "garantir que são parte do processo” o que implica ensina “a construir o sistema e a mantê-lo para que quando ficar pronto o sintam como seu e saibam fazer alguma reparação, se for necessária".