De regresso à I Divisão, ao comando do seu Nacional da Madeira, Francisco Costa foi uma das figuras fundamentais da seleção nacional nas campanhas de 2004 e 2006. Cabe-lhe pôr um ponto final nesta série de entrevistas com antigos internacionais que foram sendo publicadas nestas páginas ao longo deste Mundial. Até porque também ele viveu na Rússia e jogou em Moscovo, no Dínamo. Esta é uma cidade que fez parte da sua vida.
Lembras-te de uma conferência de imprensa, aqui em Moscovo, agosto de 2005? Perguntaram-te o segredo daquela seleção e respondeste: “A amizade.” Até eu, a teu lado, fiquei mudo.
Lembro-me perfeitamente! Muita gente ficava admirada com a cumplicidade do grupo de trabalho e isso só podia vir da amizade que todos sentíamos uns pelos outros. Um respeito mútuo, independentemente dos clubes que representávamos. Acima de tudo estava a seleção portuguesa, o nosso país.
Foi no dia em que morreu o pai do Ronaldo. Eram tempos especiais, não eram?
Sim, estar na seleção é sempre especial e nesse dia fatídico para o Cristiano, provavelmente, a dor dele não diminuiu, mas encontrou o conforto, o carinho e a amizade para lhe dar forças e seguir em frente. Eu não sei o que custa, pois ainda tenho o meu pai vivo, mas acredito que deve ser uma sensação terrível perder alguém que tanto amamos.
Estás contente por veres um Mundial realizado na Rússia?
Estou! A Rússia evoluiu bastante e o Mundial tem decorrido muito bem, contrariando as expetativas de muitas pessoas no mundo inteiro.
O que significa ainda a Rússia para ti?
Foi um local de trabalho que adorei conhecer: a cultura, as pessoas e o modo de vida. Enfim, foi um prazer viver em Moscovo.
Quando cá chegaste para jogar no Dínamo de Moscovo era muito diferente de agora, não era?
Sim, cheguei de um grande clube europeu titulado e deparei-me com situações que não pensava viver. Mas a escolha de ir para esse clube foi minha e, portanto, embora tenha custado um pouco, tinha (nem sempre o fiz) de me adaptar e aceitar a forma de funcionar do clube.
De que te recordas mais desses dias?
Recordo-me de muitas coisas. Fico-me com alguns tópicos: as conversas com alguns jogadores russos em minha casa após os treinos (não sei como comunicávamos, mas éramos amigos); a ostentação do luxo de Moscovo; o controlo policial nas estradas (ainda bem que não tinha carro, tinha motorista); a gastronomia; os monumentos (as mulheres também o eram) (risos) que simbolizavam a cultura russa em Moscovo.
Foi uma desilusão para ti?
Não, foi uma aprendizagem!
Moscovo é fascinante, não é?
Muito! É tão fascinante quanto perigosa e era isso que me seduzia: o perigo diário que hoje percebo que não via quando lá estava, todo o conforto e lifestyle que a cidade proporcionava. Considero–a, excluindo o meu país que amo, a minha segunda cidade de eleição depois de Monte Carlo.
Serias capaz de voltar a viver aqui?
Depende do momento e do contexto em que estivesse inserido.
Tens saudades desse tempo?
Algumas, sim. Assisti a situações do dia–a-dia que só tinha visto em filme e pensei não existirem. Mas existem e eu gostei.
Tens voltado à Rússia?
Sim. Embora hoje já não, pois sou treinador. Mas nos anos em não estive a treinar fazia o torneio de seleções de ex- -internacionais, que decorre no mês de fevereiro. Coincidência ou não, era sempre no dia dos namorados. (risos)
Jogaste muitos anos com o Ronaldo na seleção nacional. Pensaste que este iria ser o Mundial dele?
Jogadores como o Ronaldo, com a categoria que tem, aspiram sempre a ganhar o Mundial. Mas nunca dependeria apenas dele.
Que memórias guardas do teu tempo de seleção?
As melhores! E a forma mais firme de explicá-lo é dizer-te que, se tivesse de responder a esta pergunta por escrito, estaria aqui dias a fio. Foi um privilégio e um prazer representar a minha seleção e ter ao meu lado tantos grandes jogadores que me fizeram também evoluir no jogo e no dia-a-dia. Maravilhoso!