Professora catedrática (actualmente jubilada) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde fundou e coordena o Gabinete de Estudos de Simbologia, Yvette K. Centeno (n. 1940, Lisboa) é autora de uma obra vasta que abrange a poesia, a ficção narrativa, o teatro, o ensaio, a tradução. Shakespeare, Goethe, Stendhal, Brecht, Celan e Fassbinder contam-se entre os autores traduzidos.
As várias facetas criativas em que essa obra se reparte – e a autora se (re)une – são dicções de uma singularíssima voz seduzida por culturas e saberes que a sua escrita sabe atar: da velha alquimia à visão cabalística, da cultura judaico-cristã à mística árabe, das sabedorias orientais à filosofia hermética ocidental.
Do Longe e do Perto. Quase Diário (2011), um livro integrador de diversos géneros e materiais, falar-nos-ia suficientemente da sua escrita exigente, pronta a acolher todo aquele que aceite momentos de paragem.
A relação que mantem com as palavras («A palavra: / libertação ou / cerco?») passa por verbos como, ‘medir’, ‘pesar’, ‘examinar’, ‘ponderar’, ‘articular’, gestos que, como a escritora reconhece, se revelam insuficientes para atingir o âmago das coisas, para tocar o rosto inteiro do real, sempre desfigurado ou transfigurado, fugidio ou pelo menos inapreensível, sempre mantido à incómoda distância do intocável.
Autora de uma poesia de clareza densa, apostada na busca incessante da palavra e no fogo que ela transporta, potenciador de experiências que podemos situar no campo de uma pura espiritualidade, Yvette Centeno fez a sua estreia na poesia em 1961, com Opus 1, a que se seguiu O Barco na Cidade (1965). Outros títulos de uma produção poética conduzida de modo discreto, distanciada, por vezes, dos mecanismos convencionais de afirmação literária: Irreflexões (1974), Perto da Terra (1983), A Oriente (1998), Canções do Rio Profundo (2002), Outonais (2011), livro em boa parte composto por poemas escritos entre 2005 e 2011 e publicado numa editora online.
Em 1962, a autora de O Pensamento Esotérico de Fernando Pessoa (1990), estreia-se na ficção com o romance Quem, se eu gritar?. Não Só Quem Nos Odeia (1966) e As Palavras, Que Pena (1972) vieram concluir um tríptico sobre a (im)possibilidade do amor, entretanto reeditado sob o título Três Histórias de Amor (1994).
Na década de 80, Yvette Centeno prossegue o seu trabalho ficcional, seduzido pelo experimentalismo, marcado pela prática da fragmentação do discurso como expressão de uma inapreensível manifestação do sentido coeso, com a publicação de No Jardim das Nogueiras (1982), Os Jardins de Eva (1988) e Matriz (1988), um livro que expressamente recusava a estrutura convencional da narrativa e que a autora define como «ficção sem descrições, sem personagens-tipo, sem fio regular, sem desenvolvimento».
O teatro tem merecido a Yvette Centeno uma atenção constante, desde os tempos da juventude. Foi Co-fundadora do CITAC, um dos mais importantes grupos de teatro universitário, de Coimbra. Desde então, para além da escrita para teatro, inaugurada com Teatro Aberto (1974), acompanha a actividade teatral do país, tendo sido convidada para o Conselho de Teatro (1987) e nomeada directora do I Festival Internacional de Teatro (Lisboa, 1991). Foi directora do Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1994 e o ano 2000.
Paralelamente, a autora de As Três Cidras do Amor (1991) tem desempenhado variados cargos como consultora e comissária em várias iniciativas governamentais e de âmbito cultural, nomeadamente na Comissão de Qualidade do Cinema; na Comissão Executiva da XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura; na Comissão para as Comemorações do Cinquentenário da morte de Fernando Pessoa (em Londres); no Grupo de peritos da Comissão das Comunidades Europeias para a tradução de obras literárias contemporâneas; no Conselho Cultural da Fundação Culturgest.