Mochileiros. “Os novos 65 são os  45 de há uns anos”

Mochileiros. “Os novos 65 são os 45 de há uns anos”


Não precisam de muita bagagem. Basta-lhes a vontade de continuar a ser ativos para viajar pelo mundo com o dinheiro da reforma. Em Portugal, existem cada vez mais empresas que se dedicam ao turismo sénior


É quinta-feira e para muitos não passa de mais um dia na rotina. Mas para Iracema Genecco os dias já não são apenas o acumular do cansaço do trabalho. Aliás, a reformada conta que agora apenas coleciona viagens e que, a cada novo destino, sente que fica com mais energia para continuar a explorar o mundo. O sonho de Iracema, brasileira que mora atualmente em Madrid, é mudar-se para Lisboa, mas enquanto não o consegue concretizar, afirma que não a satisfaz ficar parada muito tempo no mesmo sítio, até porque não tem problemas em viajar sozinha.

Aos 67 anos, diz que nunca é tarde para descobrir o que antes não teve oportunidade de conhecer. Falou com o i quando os ponteiros do relógio apontavam para as 14h: estava na fila de embarque, no aeroporto de Barajas, Madrid,  apenas com uma mochila às costas. Destino: Berlim.

Conta que leu muitos livros, estudou culturas e que viveu durante muito tempo à espera destes dias. Só conseguiu começar a explorar o mundo aos 60 anos: “Antes não tinha dinheiro, com uma filha tive trabalhar muito”.

A idade que há uns anos poderia ser impeditivo hoje não o é e quem se dedica ao setor das viagens sénior diz mesmo que os novos 65 são os 45 de antigamente.

Maria Joaquina Silva é portuguesa e também precisou de chegar à reforma para tirar proveito máximo das viagens. Afirma que apesar de ter começado a viajar sozinha desde cedo – quando o pai foi trabalhar para longe da terra natal –, apenas agora está a descobrir o que realmente significa não estar presa a lado nenhum.

Aos 71 anos, Maria Silva declara com orgulho que ganhou o gosto ao seu “principal desporto” com as deslocações regulares no país para ir ver o pai. 

“A cada viagem que faço é um novo mundo que se abre”, exclama, confessando que até hoje a Rota dos Cátaros, no Sul de França, foi a sua preferida.

Iracema e Maria são de países diferentes e nunca se terão cruzado pelo mundo, mas une-as a vontade de não parar: “São experiências que ficam para sempre na memória”. 

António Vilela Fonseca tem 78 anos e também já perdeu a conta às viagens que fez. Só agora, depois de deixar o trabalho, teve a oportunidade de conhecer o Canadá, a China, Singapura, uma parte do Japão e o Vietname. A cada “mundo” que conhece traz memórias do que viu e das surpresas que teve. E ri-se da sorte que o acompanha: uma vez deram-lhe por engano um bilhete VIP e apenas se apercebeu dentro do avião, quando teve direito às regalias todas.
Para António, a paixão nasceu de um inevitável acaso: entre 1964 e 1966 foi combatente na Guerra Colonial, em Angola. Ainda que a deslocação fosse por questões militares, afirma que teve uma pequena noção do que seria viajar de barco e, sobretudo, gostou de “estar numa terra que não conhecia”.

Flora Contin, 65 anos, também só há um ano decidiu arriscar, quando fez o seu primeiro mochilão, até Machu Picchu, no Perú. A viagem foi em agosto do ano passado e a brasileira considera que foi o ato mais corajoso que fez: sem companhia, concretizou um sonho. Mas nem sempre foi fácil – só quando aterrou no Perú é que se apercebeu da “loucura” que estava prestes a fazer.

Turismo sénior é cada vez mais uma aposta Os reformados que procuram estas viagens querem aventura e sentirem-se ativos. Mas descobrir o mundo pelo próprio pé pode ter as suas dificuldades e representar medos. É talvez por isso que muitos procurem viajar em grupo.

A empresa Trans Serrano é uma das que garante experiências únicas a este segmento. Com o slogan “leva-o onde mais ninguém o leva”, organiza excursões, visitas e atividades em Portugal e no estrangeiro desde 1999. 
Também o padre Silvano Gonçalves tem conseguido reunir os fiéis da paróquia da Calheta, na Madeira, para ir às cidades que são o rosto da igreja católica como Roma e Fátima, proporcionando a quem tem mais idade este tipo de experiências.

Já Francisco Madelino, Presidente da Fundação Inatel, explicou ao i que o programa INATEL 55+.pt tem marcado a diferença por descentralizar a população. Além disso, este programa destina-se também a uma população mais desfavorecida, estando agora focado em dar a conhecer os locais afetados pelos incêndios de 2017. 

A agência de viagens TOP Atlântico também tem apostado nesta área, afirmando que recebe com muito apreço a população sénior: “É uma geração que gosta de partilhar, explorar e aproveitar os bons momentos da vida”. 
Fonte oficial afirma que “os novos 65 são os 45 de há uns anos”, descrevendo pessoas que não se deixam condicionar pela idade que têm. *Editado por Carlos Diogo Santos