O Antigo Egito continua, nos dias de hoje, a ser motivo de fascínio, não apenas pela sua beleza como também pelos mistérios de que a sua história é feita. Na última semana, uma descoberta relacionada com uma das maiores atrações do Egito despertou atenções um pouco por todo o mundo e é mais uma carta no baralho das pistas para uma melhor compreensão daquela que foi uma das mais importantes civilizações de sempre.
A dois passos das famosas Pirâmides de Gizé, uma equipa de arqueólogos descobriu vestígios de duas casas onde residiam responsáveis pela alimentação de um corpo paramilitar e dos trabalhadores que erigiam a Pirâmide de Miquerinos, a mais pequena das três e a última a ser construída. As duas residências encontradas estão localizadas perto de um conjunto de estruturas designadas como “galerias” e que podem ter albergado um corpo paramilitar em Gizé que integrava mais de mil pessoas.
Ao i, o arqueólogo Mark Lehner – que tem passado os últimos 30 anos a trabalhar naquelas paragens e está a dirigir as escavações –, explica que esta descoberta “é muito importante” porque, até aqui, “não se sabia como é que as pessoas que construíram as pirâmides viviam e se organizavam”. Segundo as conclusões da equipa da Ancient Egypt Research Association, organização à frente das escavações e de que Lehner é diretor, uma das estruturas seria a residência de um funcionário responsável por supervisionar o abate dos animais para alimentação. Quanto ao ocupante da outra casa, as suspeitas recaem sobre um padre que integrava uma antiga instituição designada “wadaat” – cujos sacerdotes seriam, acredita-se, funcionários de alta patente no governo. Isso é, pelo menos, o que sugerem os selos encontrados próximo da estrutura, que mencionam a instituição.
A casa, explica Lehner, está ligada a uma estrutura que pode ter sido usada para maltagem, o que levanta a possibilidade de quem lá residia ter como função o supervisionamento do fabrico de cerveja e da confeção de pão.
A cidade perdida dos construtores das pirâmides As duas casas agora encontradas pelo grupo de arqueólogos situam–se num antigo porto descoberto recentemente, em 2014. Era, segundo Mark Lehner, “o porto nacional da época”.
O conjunto destas estruturas – e de outras que têm vindo a ser encontradas ao longo dos anos – sugere que naquele local, há mais de 4500 anos, quando se construía a última das pirâmides – durante o reinado do faraó Menkauré, que ocupou o trono entre aproximadamente 2490 a.C. e 2472 a.C. –, havia uma cidade atualmente batizada como “cidade perdida dos construtores da pirâmide”.
As residências encontradas esta semana, de resto, não foram as primeiras a ser descobertas na área das Pirâmides de Gizé. Já em 2014, o mesmo grupo de arqueólogos tinha encontrado vestígios de uma mansão com pelo menos 21 quartos onde se acredita que dormissem oficiais de alta patente que comeriam e se vestiriam como a realeza. Porquê? A hipótese é sugerida pela existência de ossos de gado jovem – que, segundo os investigadores, teria no máximo 18 meses – e dois dentes de leopardo na casa, bem como dois outros num monte relativamente próximo.
No ano passado, a descoberta da chave de um mistério relacionado com as pirâmides tão repetido quanto antigo causou uma onda de entusiasmo entre arqueólogos de todo o mundo. De que forma tinham conseguido os egípcios transportar os blocos de pedra para a construção das pirâmides por mais de 800 quilómetros? Construindo canais de água e carregando os blocos em barcos construídos para esse efeito.
A revelação foi feita graças a outra descoberta da equipa do norte-americano Lehner: um papiro redigido pelo encarregado da construção no local. A par do papiro, a equipa descobriu também restos de barcos e evidências do que terão sido canais de água.
Ao i, Lehner confirmou que as escavações vão continuar até fevereiro de 2019. Enquanto isso, resta esperar pela próxima revelação.