Joaquim Manuel Sampaio Silva: o Quim. Às vezes, nos nossos tempos de seleção, ficava tanto tempo sem falar que alguém perguntava, na brincadeira: “Estás aí, Quim?”
Ele sorria e roía as unhas. Todos nós temos vícios, eu também sofro desse.
Há vários anos almocei no Guincho com dois grandes guarda-redes do Benfica, Preud’Homme e Ovchinikov. Horas a fio falando de futebol e de balizas. E os dois de acordo: dos mais novos, o melhor era o Quim. O Quim do Braga, nesse tempo.
Tempo: tempo que passa voando como pássaros apressados. Aos 42 anos, o Quim decidiu que não quer mais ficar naquele retângulo que sobra entre a trave e os postes. Vai seguir outra vida, feliz certamente, porque o merece, gente séria, homem bom, profissional exemplar.
Tempo de falar com ele, portanto.
Tempo de saber aquilo que guardou, em dois Europeus e um Mundial.
Estive com ele em 2004 e 2006: testemunhei a sua disponibilidade de estar sempre pronto mesmo não sendo titular.
E a mágoa que lhe ficou de fazer uma qualificação para o Mundial da Coreia e do Japão e não ter sido correspondido com a natural convocatória.
Sentiste que era chegada a altura de deixares o futebol porquê?
Olha, alguma vez teria de ser. Cheguei aos 42 anos. Vencemos a final da Taça de Portugal, um troféu que ainda não fazia parte dos que ganhei entretanto. Pensei que chegou a altura certa. É sempre bom sair por cima.
Foste sempre, ou quase sempre, uma escolha de todos os selecionadores, mas não jogaste nas fases finais de campeonatos da Europa e de campeonatos do mundo. Confessa: isso incomoda-te?
De maneira alguma! E estou a ser muito sincero. Ter sido chamado tantas vezes, para mim, já era um privilégio. Felizmente estive em grandes momentos da seleção nacional mesmo não jogando. Isso tem de ser um motivo de orgulho e nunca de frustração. Vivi com os meus companheiros da equipa de Portugal momentos fantásticos.
Quais são as tuas melhores recordações da seleção nacional? Que competição viveste com maior intensidade?
Não consigo fazer essa escolha. Todas as minhas chamadas à seleção foram importantes. De cada vez que fui convocado ia com um entusiasmo enorme, acredita. O simples facto de ser chamado para ser um dos representantes de Portugal foi um sonho para mim!
Que prova escolherias para ficar para sempre na tua carreira?
Assim de repente, a fase final do campeonato da Europa, em Portugal, em 2004. Foi um momento extraordinário para todos nós em todos os aspetos. E os adeptos viveram connosco sensações que não se repetem. Ficou a mágoa da final perdida frente à Grécia. Mas o futebol é mesmo assim, tem alegrias e tristezas.
(Em 2004 trabalhei na seleção nacional com Ricardo, Quim e Moreira; em 2006, Ricardo e Quim voltaram a estar presentes, bem como o Paulo Santos. Não tenho dúvidas em dizer que tenho, com todos eles, uma camaradagem indestrutível, por mais que os anos vão correndo nas folhas do calendário.)
Quais são as memórias mais fortes que guardas dos teus tempos na seleção portuguesa?
Não sei, não consigo dizer-te. É praticamente impossível escolher porque todas foram vividas como um sonho.
Sentes saudades?
Saudades? Claro que sinto saudades! Foram momentos únicos dos quais me orgulho muito. Mesmo muito!
Se tivesses de escolher um momento da tua vida como internacional, qual escolhias?
Vou voltar a repetir-me e falar do Euro 2004, sem dúvida. Algo de absolutamente único para todos nós!
Como vês a nossa seleção nacional dos dias de hoje?
Para mim é fantástica! Grandes jogadores individualmente, capazes de se organizarem também como equipa, lutando por um objetivo comum. Sinto que temos uma seleção formidável!
O que sentes que nos faltou para termos sucesso em 2004 e 2006, nesse tempo em que trabalhámos juntos?
Vendo bem, praticamente nada. Talvez aquela pontinha de sorte que os campeões costumam ter. Tivemos tudo para ganhar o Europeu de 2004, mas não conseguimos. Não retira um milímetro à qualidade daquela equipa.