“É essencial conciencializar os mais jovens porque é mais difícil mudar comportamentos nos adultos”

“É essencial conciencializar os mais jovens porque é mais difícil mudar comportamentos nos adultos”


Graça Rebocho, diretora-geral da Fundação PT, falou com o i sobre a importância da ação de limpeza de praia, iniciativa que está a decorrer durante a Liga MEO Surf 2018


A Liga MEO Surf elegeu a sustentabilidade ambiental como tema transversal da edição de 2018. Pela primeira vez, Portugal está a ter uma iniciativa de limpeza de praia concertada a nível nacional e, para isso, a Associação Nacional de Surfistas conta como principal parceiro ambiental com a Fundação PT. O objetivo é contribuir para a limpeza das praias por onde a Liga passa, e, simultaneamente, gerar uma maior consciencialização no que toca à problemática do lixo marinho e ao papel que cada um de nós pode desempenhar. Após já ter recolhido 680 kg de lixo durante as três primeiras etapas do ano, esta iniciativa caminha a grande velocidade para atingir a tonelada. Esse objetivo pode ser já alcançado este fim de semana, na Praia Grande, onde a ação vai contar com a presença de cerca de 300 crianças, entre os seis e os 15 anos, de instituições do concelho de Sintra. A elas juntam-se alguns surfistas e personalidades conhecidas, como os atores Pedro Lima, Tiago Teotónio Pereira e Manuel Sá Pessoa. Porém, ainda antes de arrancar aquela que será a quarta ação de limpeza de praia no âmbito nacional, Graça Rebocho, diretora-geral da Fundação PT, explica ao i a importância deste tipo de iniciativas.

Como surgiu a ideia de criar esta iniciativa?

Esta iniciativa surge de um pedido da Associação Nacional de Surfistas [ANS]. Primeiro, porque já estamos ligados ao surf através da Altice e, depois, porque têm conhecimento do trabalho desenvolvido pela Fundação PT ao nível da responsabilidade social, designadamente ligada ao surf. Nós, hoje, já apoiamos diversas iniciativas para crianças institucionalizadas terem, através do surf, uma educação e inclusão social. A ANS considerou que seríamos o parceiro ideal para esta iniciativa de sustentabilidade, que envolve também alunos que são voluntários. É uma iniciativa ligada à educação, que é uma das nossas áreas prioritárias de atuação.

É a primeira vez que a Liga Nacional de Surf aposta intensamente na sustentabilidade ambiental e conta com a Fundação PT. No entanto, a Fundação já tinha várias iniciativas relacionadas com esta área. Foi por esse motivo que foram “os escolhidos” pela ANS?

Sim, nós temos desenvolvido várias iniciativas no que diz respeito à sustentabilidade ambiental, com voluntários colaboradores da Altice, por exemplo, na limpeza de praias, reflorestação e limpeza das matas. Esta é mais uma iniciativa, mas que envolve estudantes, jovens e municípios e está diretamente ligada ao surf. É a primeira vez que fazemos esta iniciativa com voluntários que acabam por não ser colaboradores da PT. De qualquer forma, como a educação é também para nós uma área prioritária, ao envolvermos os alunos, professores e munícipes – através da parceria com os municípios – estamos a contribuir para uma consciencialização ambiental que para nós faz todo o sentido. Com a participação de crianças e jovens estamos a motivar os mais novos a adotarem este tipo de comportamentos ligados à preservação ambiental, acabando também por dar um exemplo para os menos jovens.

Já foram recolhidos cerca de 680 kg de lixo desde a primeira etapa da Liga Meo Surf e espera-se que se chegue a uma tonelada até ao final da etapa na Praia Grande (penúltima etapa da Liga). Tinham alguma expetativa de resultados para esta iniciativa?

A iniciativa está a correr muito bem porque tem envolvido muitos jovens. Neste momento já ocorreram três etapas [Liga Meo Surf]. A primeira, talvez por ter sido na Ericeira, envolveu mais alunos, mas curiosamente não foi o sítio onde se apanhou mais lixo. Na Ericeira, com 181 alunos, chegámos perto dos 100 kg mas, por exemplo, na Figueira da Foz, com 50 alunos, apanhámos mais de 317 quilos. Não tem que ver com o número de voluntários, mas sim com o lixo que existe em cada zona. Até agora apanhámos 680 kg, mas na sexta-feira [hoje] estamos a contar com 300 alunos envolvidos e é muito provável que se chegue à tonelada, que era o nosso objetivo final. E ainda falta uma etapa [Bom Petisco Cascais Pro, última etapa da da Liga MEO Surf 2018].

Como funciona esta iniciativa no terreno?

Primeiro envolvemos o município que, posteriormente, contacta as escolas, e os alunos “inscrevem-se”, não sendo necessária uma inscrição formal. Neste momento, já temos a garantia de que vão estar presentes na praia 300 alunos de várias escolas de Sintra, uma vez que esta etapa decorre na Praia Grande. Chegam à praia por volta das 9h30/10 horas, é feito um enquadramento com a associação Plastic Sun Days e, a partir desse momento, dão início à limpeza da praia. Mas primeiro é feito esse enquadramento para explicar qual o objetivo, o porquê desta ação, qual o impacto e o seu contributo.

Através do feedback que a Fundação PT teve das etapas anteriores, conseguem afirmar que os jovens já estão mais consciencializados para a importância da preservação/sustentabilidade do ambiente? 

Sim, sim, claramente. Nas escolas, os professores já vão alertando para este tipo de necessidades ligadas ao ambiente, nomeadamente na poupança da água. Já reparei também que os jovens têm cuidados que os mais velhos não têm, designadamente no uso do plástico. Os jovens já têm uma consciência diferente. Depois, chegarem à praia e começarem a explicar-lhes que a quantidade – facto que também eu desconhecia – de cotonetes e de palhinhas que se encontram é uma coisa sem explicação deixa os miúdos alarmados. Como pode ser o cotonete um dos principais lixos nas nossas praias? Ao levarem este tipo de preocupação para casa, os jovens alertam depois os seus encarregados de educação para este problema. É uma consciencialização dos mais novos que, por sua vez, passa essa responsabilidade aos mais velhos.

Esta iniciativa voltará a acontecer na próxima temporada da Liga (2019)?

Sim! Com os resultados que estão a ser atingidos e por acharmos que este tipo de iniciativas ligadas à educação, voluntariado e também à arte – sendo um dos objetivos utilizar o lixo apanhado para fazer alguns troféus de material reciclado – são precisamente as áreas prioritárias de atuação da Fundação PT. Toda esta envolvência na sustentabilidade ambiental, para nós, faz sentido e, portanto, acreditamos que é uma iniciativa para continuar! Estamos a fazer esta ação na praia, mas são iniciativas que podem ocorrer em qualquer lugar, designadamente nas florestas. É essencial consciencializar as crianças e os jovens porque é mais difícil mudar comportamentos nos adultos que nas crianças. Este tipo de iniciativas para nós, Fundação PT e Altice, são para continuar! Seja nas praias, florestas ou qualquer outra área que tenha impacto na sustentabilidade.