Por favor, não enxotem a Madonna


Se Madonna pode ter 15 automóveis no centro de Lisboa, que moral há para nos remeterem para transportes públicos sem qualidade, regularidade e sintonia com as necessidades dos utentes? 


Não compreendo o alarido gerado em torno do regime especial de estacionamento concebido pela Câmara Municipal de Lisboa para a cantora Madonna. Há meses que a novela das circunstâncias das suas aparições em território nacional suscita as melhores atenções dos poderes públicos e dos média, sem que a sua maior relevância tenha sido sublinhada. Afinal, Madonna está a tratar de abrir a porta ao acesso ou à conquista de novos direitos para os portugueses e para os não nacionais. Senão vejamos.

Na fase de procura de casa, enunciaram-se as diversas possibilidades, reais ou virtuais, que sublinharam a especulação imobiliária e as exorbitâncias que se vivem na região de Lisboa para quem quer casa para arrendar ou comprar. Madonna sublinhou a importância de serem construídas soluções acessíveis para quem integra a mole descapitalizada da classe média. Se até os que podem têm dificuldades, o que não acontecerá aos restantes.

Na fase da instalação em território nacional enunciaram-se diversos estados de alma da cantora sobre as burocracias para adquirir a autorização de residência que possibilitasse a realização de um quotidiano sem sobressaltos alheios originados pelos zeladores do Estado de direito. Nada que não seja desejado por quem procura uma autorização de residência ou por quem quer usufruir da vida com o equilíbrio adequado entre os direitos e os deveres. Madonna sublinhou a importância de as burocracias colocarem o cidadão no centro do seu funcionamento, com proximidade, agilidade e eficácia, em detrimento do exercitar dos pequenos poderes das quintinhas das áreas de influência.

Em todas as fases, as experiências lusas de Madonna projetaram a cidade de Lisboa e o país no mundo, num contributo positivo que não deve deixar de ter no horizonte a possibilidade de a relação esfriar ou de ocorrer uma mudança de azimute. Como há muito dizemos, será um erro considerar estruturais algumas das circunstâncias que enfunam as velas do turismo português para a relevância central no crescimento económico do país. Aliás, bastará verificar os impactos negativos que se registam na procura com a reabertura de mercados no Médio Oriente e norte de África e com a contração turística dos britânicos.

Mesmo a prorrogativa de estacionamento de 15 veículos automóveis no Palácio Pombal, concedida pela Câmara Municipal de Lisboa, constitui uma nova referência para a mobilidade e para o estacionamento na cidade. Significa que o abominado e proscrito automóvel, fustigado por obras que encurtam as faixas viárias, por sinalização semafórica obsoleta, perseguido pela polícia política do contra-automóvel, a EMEL, e por parques que mais parecem sorvedouros bancários tais são os preços praticados, está em vias de ser resgatado das terras do demo em que foi colocado. Se Madonna pode ter 15 automóveis no centro de Lisboa, que moral há para nos remeterem para transportes públicos sem qualidade, sem regularidade e sem sintonia com as necessidades dos utentes? Se temos a presença de tão faustosa frota automóvel, certamente que aumentará a atenção para a falta de manutenção dos tapetes betuminosos de várias ruas, os buracos que resistem à passagem do tempo e as obras que foram adiadas, gerando situações que colocam em risco a segurança rodoviária como acontece, por exemplo, na Segunda Circular.

Se a lusa candura dos bons costumes e de uma certa anestesia que caracteriza a nossa relação, como povo, com os poderes e as realidades teima em não despertar por sobressaltos, injustiças agravadas e reiteradas faltas de senso, Madonna tem a virtude de nos acordar para a necessidade de nos inspirarmos nas prerrogativas concedidas para reivindicar, no mínimo, os mesmos direitos. Podemos até assegurar que promoveremos Portugal no mundo através do Instagram ou noutras oportunidades que se entendam por convenientes. É que passada a espuma dos dias, sem cuidar da sustentabilidade das opções, em qualquer um dos casos sobrará muito pouco de estrutural.

Pelo que conquista e que podemos almejar ao abrigo do princípio da igualdade, se dentro da legalidade, e pelo sobressalto cívico que gera perante tantos adormecimentos, impõe-se um estratégico grito lancinante: por favor, não enxotem a Madonna!

 

NOTAS FINAIS

Like a virgin A política é feita de escolhas. Há dias, Cavaco Silva eclodiu para enunciar que Portugal não precisava de mais autoestradas, mais pavilhões gimnodesportivos e mais campos de futebol, mas de mais crianças. Como se tivesse acautelado em algum momento as dinâmicas de natalidade que ocorrem em Portugal há anos. E mesmo nas infraestruturas e equipamentos, o mais fácil é construir. Manter é que é o diabo.

 

Frozen A política é feita de opções, agora como em 2015. O primeiro-ministro descobriu em 2018 que, para requalificar o IP3, não tem recursos financeiros para garantir as evoluções nas carreiras ou os vencimentos. “Não é possível fazer tudo ao mesmo tempo.” Mas não foi sempre assim, mesmo quando se gerava a ideia de que tudo era possível em matéria de reversões e reposições de rendimentos e de direitos?

 

La Isla Bonita Por que carga de água o Estado, através da Autoridade Tributária e Aduaneira, tem de me impor uma caixa de email numa entidade privada, os CTT, para comunicar comigo na qualidade de contribuinte? Será que esta parceria público-privada das caixas postais não choca os indignados das restantes PPP? Como é possível que num dia enunciem uma tempestade de multas porque alguns não se alojaram nas residências digitais dos CTT e no dia seguinte já não seja bem assim? E, pelo meio, o Estado comunica fiscalmente para os emails pessoais que constam das plataformas das finanças.

 

CHERISH A eleição de António Vitorino para diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM) é mais um momento de afirmação internacional das capacidades nacionais, numa área em que muito será precisa a nossa tradicional habilidade para gerar diálogo e soluções.

 

Escreve à quinta-feira


Por favor, não enxotem a Madonna


Se Madonna pode ter 15 automóveis no centro de Lisboa, que moral há para nos remeterem para transportes públicos sem qualidade, regularidade e sintonia com as necessidades dos utentes? 


Não compreendo o alarido gerado em torno do regime especial de estacionamento concebido pela Câmara Municipal de Lisboa para a cantora Madonna. Há meses que a novela das circunstâncias das suas aparições em território nacional suscita as melhores atenções dos poderes públicos e dos média, sem que a sua maior relevância tenha sido sublinhada. Afinal, Madonna está a tratar de abrir a porta ao acesso ou à conquista de novos direitos para os portugueses e para os não nacionais. Senão vejamos.

Na fase de procura de casa, enunciaram-se as diversas possibilidades, reais ou virtuais, que sublinharam a especulação imobiliária e as exorbitâncias que se vivem na região de Lisboa para quem quer casa para arrendar ou comprar. Madonna sublinhou a importância de serem construídas soluções acessíveis para quem integra a mole descapitalizada da classe média. Se até os que podem têm dificuldades, o que não acontecerá aos restantes.

Na fase da instalação em território nacional enunciaram-se diversos estados de alma da cantora sobre as burocracias para adquirir a autorização de residência que possibilitasse a realização de um quotidiano sem sobressaltos alheios originados pelos zeladores do Estado de direito. Nada que não seja desejado por quem procura uma autorização de residência ou por quem quer usufruir da vida com o equilíbrio adequado entre os direitos e os deveres. Madonna sublinhou a importância de as burocracias colocarem o cidadão no centro do seu funcionamento, com proximidade, agilidade e eficácia, em detrimento do exercitar dos pequenos poderes das quintinhas das áreas de influência.

Em todas as fases, as experiências lusas de Madonna projetaram a cidade de Lisboa e o país no mundo, num contributo positivo que não deve deixar de ter no horizonte a possibilidade de a relação esfriar ou de ocorrer uma mudança de azimute. Como há muito dizemos, será um erro considerar estruturais algumas das circunstâncias que enfunam as velas do turismo português para a relevância central no crescimento económico do país. Aliás, bastará verificar os impactos negativos que se registam na procura com a reabertura de mercados no Médio Oriente e norte de África e com a contração turística dos britânicos.

Mesmo a prorrogativa de estacionamento de 15 veículos automóveis no Palácio Pombal, concedida pela Câmara Municipal de Lisboa, constitui uma nova referência para a mobilidade e para o estacionamento na cidade. Significa que o abominado e proscrito automóvel, fustigado por obras que encurtam as faixas viárias, por sinalização semafórica obsoleta, perseguido pela polícia política do contra-automóvel, a EMEL, e por parques que mais parecem sorvedouros bancários tais são os preços praticados, está em vias de ser resgatado das terras do demo em que foi colocado. Se Madonna pode ter 15 automóveis no centro de Lisboa, que moral há para nos remeterem para transportes públicos sem qualidade, sem regularidade e sem sintonia com as necessidades dos utentes? Se temos a presença de tão faustosa frota automóvel, certamente que aumentará a atenção para a falta de manutenção dos tapetes betuminosos de várias ruas, os buracos que resistem à passagem do tempo e as obras que foram adiadas, gerando situações que colocam em risco a segurança rodoviária como acontece, por exemplo, na Segunda Circular.

Se a lusa candura dos bons costumes e de uma certa anestesia que caracteriza a nossa relação, como povo, com os poderes e as realidades teima em não despertar por sobressaltos, injustiças agravadas e reiteradas faltas de senso, Madonna tem a virtude de nos acordar para a necessidade de nos inspirarmos nas prerrogativas concedidas para reivindicar, no mínimo, os mesmos direitos. Podemos até assegurar que promoveremos Portugal no mundo através do Instagram ou noutras oportunidades que se entendam por convenientes. É que passada a espuma dos dias, sem cuidar da sustentabilidade das opções, em qualquer um dos casos sobrará muito pouco de estrutural.

Pelo que conquista e que podemos almejar ao abrigo do princípio da igualdade, se dentro da legalidade, e pelo sobressalto cívico que gera perante tantos adormecimentos, impõe-se um estratégico grito lancinante: por favor, não enxotem a Madonna!

 

NOTAS FINAIS

Like a virgin A política é feita de escolhas. Há dias, Cavaco Silva eclodiu para enunciar que Portugal não precisava de mais autoestradas, mais pavilhões gimnodesportivos e mais campos de futebol, mas de mais crianças. Como se tivesse acautelado em algum momento as dinâmicas de natalidade que ocorrem em Portugal há anos. E mesmo nas infraestruturas e equipamentos, o mais fácil é construir. Manter é que é o diabo.

 

Frozen A política é feita de opções, agora como em 2015. O primeiro-ministro descobriu em 2018 que, para requalificar o IP3, não tem recursos financeiros para garantir as evoluções nas carreiras ou os vencimentos. “Não é possível fazer tudo ao mesmo tempo.” Mas não foi sempre assim, mesmo quando se gerava a ideia de que tudo era possível em matéria de reversões e reposições de rendimentos e de direitos?

 

La Isla Bonita Por que carga de água o Estado, através da Autoridade Tributária e Aduaneira, tem de me impor uma caixa de email numa entidade privada, os CTT, para comunicar comigo na qualidade de contribuinte? Será que esta parceria público-privada das caixas postais não choca os indignados das restantes PPP? Como é possível que num dia enunciem uma tempestade de multas porque alguns não se alojaram nas residências digitais dos CTT e no dia seguinte já não seja bem assim? E, pelo meio, o Estado comunica fiscalmente para os emails pessoais que constam das plataformas das finanças.

 

CHERISH A eleição de António Vitorino para diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM) é mais um momento de afirmação internacional das capacidades nacionais, numa área em que muito será precisa a nossa tradicional habilidade para gerar diálogo e soluções.

 

Escreve à quinta-feira