Novichok. Londres acusa Moscovo   de envenenar   casal britânico

Novichok. Londres acusa Moscovo de envenenar casal britânico


O ministro do Interior britâncio, Sajid Javid, garantiu que o executivo britânico tomará ações contra quem ameaçar a segurança nacional  


O governo britânico acusou ontem a Rússia de ter envenenado um casal britânico, Dawn Sturgess e Charlie Rowley, com o agente nervoso “Novichok” em Amesbury, o mesmo com que o ex-espião russo e a sua filha, Sergei e Yulia Skripal, foram envenenados há quatro meses. O casal encontra-se hospitalizado em estado crítico. 

“Chegou a hora de o Estado russo avançar e explicar exactamente o que aconteceu”, afirmou o ministro do Interior britânico, Sajid Javid, na Câmara dos Comuns. “A nossa forte convicção é que eles [Dawn Sturgess e Charlie Rowley] entraram em contacto com o agente nervoso num local diferente dos que faziam parte da operação inicial de limpeza”, referindo-se aos sítios onde os Skripal poderão ter sido envenenados. 

O governo britânico considera “totalmente inaceitável que o povo [britânico] seja deliberadamente ou acidentalmente alvo ou que as suas ruas, parques ou vilas sejam locais de despejo de veneno”, garantindo que o executivo tomará ações contra quem ameaça a segurança nacional britânica. Entretanto, o executivo está a contactar os seus aliados para concertarem posições perante a Rússia. 

A polícia de Amesbury ainda não conseguiu perceber o porquê do casal britânico ter sido envenenado, aderindo à tese de que poderá ter sido uma consequência do primeiro envenenamento. “Não tenho quaisquer informações ou provas de que foram alvos de alguma forma”, explicou Neil Basu, responsável pelas operações contra-terroristas. Ainda que já saibam qual o agente nervoso responsável pelo estado crítico do casal, as autoridades ainda não conseguiram apurar se o agente nervoso deste caso faz parte do mesmo lote que o utilizado há meses. Ainda assim, os investigadores apuraram que “foram expostos a um agente enervante após terem manipulado um objeto contaminado”. 

A investigação conta com a colaboração de mais de 100 agentes a cargo do ramo anti-terrorista da Scotland Yard, enquanto a polícia vedou vários locais por onde o casal passou nos últimos dias, como uma farmácia e igreja batista. Amesbury situa-se a 11 quilómetros de Salisbury, onde os Skripal foram encontrados inconscientes num banco de jardim depois de serem envenenados.

Rússia reage

O ministério dos Negócios Estrangeiros russo não tardou a reagir às acusações britânicas. A porta-voz do ministério, Maria Zakharova, apelou à polícia britânica para não se deixar enredar no “jogo político sujo” e afirmou estar confiante de que Londres irá pedir desculpas a Moscovo pela acusação. Como sinal da sensibilidade da situação, o porta-voz pessoal do presidente Vladimir Putin, Dimitry Peskov, negou quaisquer responsabilidades russas tanto neste envenenamento como no dos Skripal e mostrou-se preocupado com o uso deste envenamento em solo europeu. “Claro que estamos preocupados que estas substâncias estejam a ser usadas repetidamente na Europa”, garantiu, acrescentando que a Rússia não tem informações sobre que “substâncias foram usadas ou como o foram”. O porta-voz referiu ainda que a Rússia sempre se mostrou disponível para participar nas investigações, mas que Londres sempre o recusou. 

Este novo incidente veio ressuscitar as tensões entre Londres e aliados com Moscovo. Há quatro meses, as relações diplomáticas atingiram o ponto mais baixo desde o fim da Guerra Fria, com mais de 150 diplomatas russos a serem expulsos de 28 Estados. Em resposta, Moscovo também expulsou 59 diplomatas de 23 Estados.