Diário de Notícias muda para “recuperar a identidade”

Diário de Notícias muda para “recuperar a identidade”


O jornal centenário só sai em papel uma vez por semana, mas quer presença diária na internet 


Desde o início do ano que se dizia aqui e ali que o jornal “Diário de Notícias” iria mudar. Perto de completar 154 anos, a notícia oficial chegou e pôs fim aos boatos e especulações: o jornal ia passar a apostar numa presença mais assídua no meio digital, com a versão impressa a ser publicada apenas uma vez por semana.

E a mudança já começou – a primeira edição semanal chegou às bancas no passado domingo, dia 1 de julho. 

Mas então este “Diário de Notícias” passará a semanário? No último mês, a diretora executiva do jornal, Catarina Carvalho, garantiu em entrevista à Lusa que o título não se cingirá apenas a isso: “Não. Não vamos ter o jornal a passar a semanário. O DN vai ser mais diário do que nunca foi, ou seja, vai ter é uma transição digital, que é aquilo que existe hoje em dia no mundo todo. Vai ter uma edição diária online, uma edição ao minuto ou ao segundo online, e uma edição em papel que sai ao domingo”, explicou, adiantando que o que estão a fazer é “a pôr o digital em primeiro lugar”, porque é o que os leitores mais procuram.

E o objetivo, explicou, é que mesmo sem papel, as capas não desapareçam do dia-a-dia. “O DN vai ter uma edição diária digital que não é uma mera newsletter, vai ter uma capa associada com o objetivo de dar uma certa curadoria ao leitor daquilo que é importante nesse dia, mas que lhe chega onde ele quer estar”, revelou. 

Catarina Carvalho considera que estas mudanças vão ajudar a recuperar a identidade do jornal. “Acho que este projeto vai recuperar a identidade do DN”, disse, assumindo que “existiu algum corte nos últimos tempos”, mas que o jornal já voltou às suas origens, passando novamente a ser “um jornal sério, conservador, sem ofender as pessoas e com bastante atenção àquilo que são os polos de decisão do país.”

“Não vamos fazer jornalismo engraçadinho, não vamos fazer ideias cómicas porque somos giros. Não vamos ser isso, o DN não é isso, o DN é um jornal com 154 anos, que sempre foi sério, que sempre foi conservador, que sempre foi um bocado o contrário de todo o buzz de lixo informativo que existe hoje em dia na internet”, rematou.

Mais de 100 anos de história O “Diário de Notícias” está há mais de 100 anos em circulação em Portugal e é um dos poucos jornais que sobreviveram a três séculos diferentes – esteve, no entanto, suspenso durante menos de um mês, entre 26 de novembro e 21 de dezembro de 1975.

Foi fundado a 29 de dezembro de 1864 – segunda metade do séc. xix – por Eduardo Coelho, jornalista e escritor, e por Thomaz Quintino Antunes, dono de uma tipografia, mantendo-se em circulação até aos dias de hoje. Apesar de a primeira publicação do jornal ter saído em 1865, no ano anterior já tinham sido publicados dois números-modelo.

Pela sua direção passaram vários nomes, como é o caso de José Saramago, que se tornou diretor adjunto após o 25 de Abril e se manteve até ao fim do chamado Verão Quente de 1975. A chegada do escritor à direção aconteceu após Vasco Gonçalves, que liderava o i Governo Provisório, ter mudado a administração do jornal e ter nomeado Luís de Barros como diretor e Saramago como seu adjunto. Para além disso, várias personalidades colaboraram com o jornal, como é o caso dos escritores Ramalho Ortigão, Eça de Queiroz e Pinheiro Chagas.

O “Diário de Notícias” teve também vários proprietários, pertencendo atualmente à Global Notícias, tendo Ferreira Fernandes como diretor. 

 Ao longo dos anos, o título sobreviveu a vários marcos importantes da História: fim da monarquia e implementação da República, Estado Novo e a censura, assistiu de perto à Revolução dos Cravos, noticiou as duas guerras mundiais e várias revoluções tecnológicas. 

Em dezembro, o jornal completa 154 anos de existência.