Mário Centeno é um homem de uma educação irrepreensível e afabilidade notável; o seu antecessor no Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, era um grande malcriadão com tentações xenófobas. Infelizmente, com um ou com outro, o Eurogrupo é o mesmo.
E isso viu-se novamente ontem, quando Mário Centeno foi ao Parlamento Europeu na sua primeira intervenção enquanto presidente do Eurogrupo. O que disse Centeno e o que teria dito o holandês que o governo chegou a querer ver afastado do Eurogrupo foi exatamente o mesmo no conteúdo, que não na forma. E se a forma conta, o drama que persiste na zona euro é exclusivamente de conteúdo.
Ao contrário da ideia que certa propaganda se encarregou de distribuir, o ministro das Finanças português não estava destinado a mudar o que quer que fosse no Eurogrupo, a não ser a simpatia. Sim, o Eurogrupo é hoje uma assembleia liderada por um homem mais simpático e doce, mais agradável de ver na televisão. Mas Centeno não mudou nada porque as coisas não se fazem assim, e quem julgou que ia mudar ou era ingénuo ou estava a fazer publicidade enganosa.
Atente-se ao que Mário Centeno mandou os gregos fazerem: “flexibilizar” o mercado de trabalho e continuar as políticas da troika que levaram a Grécia ao esgotamento. Sim, isto foi dito pelo ministro das Finanças de um governo que só existe porque tem o apoio dos comunistas e do Bloco de Esquerda. Aliás, enquanto o comissário Moscovici admitiu em Atenas alguma “flexibilidade”, Centeno opôs-se terminantemente.
Além de ter mandado os gregos flexibilizar e fazer reformas na administração pública – de facto, usando uma linguagem comum à direita e à generalidade dos socialistas europeus –, o ministro das Finanças apoiado pelo PCP e Bloco pede à
Grécia para não se desviar das políticas da troika. É esta a quadratura do círculo, este “mito” que o secretário-geral do PCP declarou estar morto. Mas em política há ressurreições. A ver vamos.