Chama-se Nour Machlah e, depois de fazer um post nas redes sociais sobre o povo português e Cristiano Ronaldo, várias pessoas dos quatro cantos do mundo renderam-se às suas palavras. O i falou com este jovem refugiado que veio estudar para Portugal, em 2014, graças a uma bolsa de estudo conseguida através da Plataforma de Apoio Global a Estudantes Sírios, dirigida por Jorge Sampaio.
Questionado acerca da sua intenção com a publicação no Facebook, Nour afirmou que apenas queria “mostrar às pessoas que não são portuguesas o que realmente é Portugal”, já que não entendiam a razão do jovem estar no nosso país, focando-se apenas “em questões económicas”.
Depois disso, aconteceu o que já todos sabemos: as mensagens multiplicaram-se e chegaram palavras um pouco de todo o mundo. “Recebi muitas mensagens de imigrantes, de países como o Canadá e Austrália, ficaram felizes com o que leram. Até recebi mensagem de uma pessoa mais velha do Porto a convidar-me para ir ter com ele comer uma francesinha. São coisas que me tocam, normalmente as pessoas têm medo do desconhecido e sendo eu um refugiado sírio, uma pessoa estranha que não conhecem, foi algo especial para mim”, disse ao i.
Mas nem sempre a vida de Nour Machlah teve um rumo fácil e feliz. Antes de começar a guerra “tinha um vida normal como qualquer outro estudante, vivia uma vida calma, ia para a universidade, estava com a família”, mas o conflito fê-lo “experienciar coisas que nunca tinha vivido”. Com receio de ser forçado a entrar no exército, algo comum na Síria, o jovem arquiteto deixou “a família para trás, mãe, pai, irmãos e irmãs” e saiu do país “sem saber para onde ia”.
Até chegar a Portugal, mais especificamente a Évora, onde está a acabar o seu mestrado, Nour viveu no Líbano e na Turquia alguns meses. Apesar do “receio” sentido no início desta aventura, o jovem sírio afirma que se começou a sentir “integrado na comunidade”- não conhecia muita coisa sobre Portugal, mas havia uma pessoa em particular que levava o nome do país além-fronteira e que fez com que soubesse mais um pouco sobre a nossa cultura: Cristiano Ronaldo. Com o tempo tudo mudou e hoje trata este pequeno território à beira-mar por “casa”.
Em junho do ano passado, em Portugal, o jovem voltou a reencontrar a mãe, cinco anos após a separação em Allepo.
Atualmente, além da arquitetura, Nour quer fazer a diferença através do seu exemplo e é conselheiro político e membro do Conselho Consultivo para os assuntos da imigração, uma das ações levadas a cabo pela Comissão Europeia. O jovem intervém relativamente à migração a nível europeu e mais recentemente a nível nacional.
“Os portugueses são os melhores no que toca a questões diplomáticas e políticas”
Acerca de toda esta crise de migrações que está a ser vivida na Europa, o jovem refugiado garante que não é “uma crise de migração, mas sim uma crise política”. “Todos sabem que um dos pontos de entrada na Europa de imigrantes é em Itália. Tendo em conta os valores que a Europa segue, sinto que alguns destes imigrantes deviam ser recebidos. Mas o mais importante para mim é a forma como são recebidos, de que forma são integrados, se for um trabalho mal feito, pode criar outra crise no futuro. Isto é importante e é por isto que tenho este trabalho na Comissão Europeia”.
Questionado acerca da eleição de António Vitorino para a Organização Internacional das Migrações, Nour Machlah garante que “os portugueses são os melhores no que toca a questões diplomáticas e políticas” e deu o exemplo de António Guterres na ONU. Apesar de não “conhecer Vitorino pessoalmente, acompanho o que tem feito e acho que vai fazer um bom trabalho”.
Editado por Joana Marques Alves