Ponham a Anacom no Porto e deixem o Infarmed em Lisboa


Não faz sentido a Anacom estar à procura de novas instalações em Lisboa quando pode ser deslocalizada


1. É escusado andar a dourar a pílula com patéticos relatórios oficiais para justificar a trasladação do Infarmed para o Porto, numa compensação bacoca por termos perdido a vinda para Portugal da Agência Europeia do Medicamento. O projeto inicial era a agência vir para Lisboa, sabendo-se que foi a súbita decisão portuguesa de propor o Porto que contribuiu para inviabilizar uma operação que estava bem encaminhada. O Porto deveria realmente ter sido a escolha inicial. Aí, sim, haveria hipóteses de ganho de causa. O processo de troca a meio, por pressão de Rui Moreira, demonstrou falta de sensibilidade, de competência e de firmeza do governo. Tentar remendar com a mudança do Infarmed é absurdo, é caro e é lesivo da operacionalidade do instituto. É assim e ponto final.

Mas, entretanto, soube-se que a Anacom, a entidade reguladora das comunicações (coisa que regula mal, ao ponto de nem conseguir impor uma razoável cobertura da TDT para que todos os portugueses possam ter televisão sem cabo), anda à procura de uma nova sede em Lisboa, e logo com 4500 metros quadrados. Ora, se é mesmo preciso mudar, então que se ponha a Anacom no Porto e se deixe em Lisboa o Infarmed. Os custos de mudança da Anacom são, pelos vistos, uma necessidade objetiva (será que são?), ao contrário do que sucede com o Infarmed, que está bem sediado. Percebendo a frustração que reina na Invicta, podia-se deslocar a entidade que supostamente regula as comunicações para lá. Em circunstâncias normais de descentralização, o ideal seria pensar, porventura, em Coimbra, numa cidade da Beira, do Minho ou do Alentejo. Mas uma vez que está criado um problema, pois que se o resolva a bem, compensando o Porto. Sempre era melhor do que criar um problema que nos irá custar milhões e que se arrisca a estragar a reconhecida eficácia do Infarmed. Obviamente que é preciso estar preparado para a catadupa de razões que vão chover para explicar que a Anacom não pode sair da capital. Mas a verdade é que pode, desde que se queira. Já agora, alguém explica por que razão os anúncios dando conta da procura de um novo espaço para a Anacom têm um prazo tão curto de resposta? Será só uma formalidade para justificar uma solução já encontrada?

2. Santana Lopes anunciou que não vai voltar a fazer política dentro do PSD. Veremos se é desta. Mais uma vez, sente-se a tentação de Santana de fundar um partido ou um movimento onde ponha e disponha. Dizer hoje uma coisa e amanhã outra está no ADN de Santana. Num certo sentido, faz lembrar Bruno de Carvalho, com a diferença de que este outro ex-presidente do Sporting muda de opinião duas vezes ao dia ou até mais, enquanto em PSL as mudanças são mais ou menos trimestrais. E é pena porque, como político, tem qualidades. Só que quer ser sempre ele o presidente da junta, como diria Herman José.

3. Segundo contas do “Público”, o calote deixado à banca (e, desde logo, aos portugueses que a financiam) pela Ongoing de Nuno Vasconcelos e Rafael Mora é de 700 milhões de euros. BCP e Novo Banco foram os esmifrados, certamente com o aval dos seus gestores da época. Criada a partir de uma empresa de recursos humanos e lobismo, a Ongoing cresceu loucamente à conta de sucessivas manobras. Uma delas foi criar o Compromisso Portugal, onde se juntaram e lançaram dezenas de gestores neoliberais que formaram uma plataforma sistemática de troca de negócios e promoções pessoais e políticas, sob a batuta de Vasconcelos e de Mora. Estranhamente, alguns desses gestores ainda aí andam a destruir valor de empresas da esfera do Estado onde se pavoneiam. Foi tudo à barba longa numa sucessão de histórias sinistras que vamos pagando, sem que ninguém esteja a ser responsabilizado pela justiça da dra. Joana.

4. Sistematicamente perseguidos pelos esbirros da EMEL e de Fernando Medina, os lisboetas ficaram enojados com o aluguer provisório de uma garagem a Madonna com espaço para 15 carros, nas Janelas Verdes, por 750 euros mensais (a pechincha do século). A diva paga dez vezes menos por hora do que um cidadão badameco numa zona vermelha. O mais grave é que a primeira ideia do subserviente Medina e dos seus serviços foi ceder o parque do Museu Nacional de Arte Antiga (o nosso pequeno Louvre) à pop star. Valeu o diretor da instituição, que se opôs e que deu a notícia à câmara de que ela própria tinha ali um sítio ao lado, o que aparentemente não sabia. António Filipe Pimentel, assim se chama este herói improvável que não deve ter ganho simpatias no poder.

5. Era uma vez um ministro chamado Siza Vieira. Era muito amigo do chefe Costa e tido como um grande sábio em leis. Simplesmente, esqueceu-se que não podia ter fundado uma empresa na véspera de ir para o governo e ser seu gerente. E também não lhe ocorreu que era incompatível trabalhar dossiês no executivo nos quais tinha intervindo como causídico. O caso deu brado. Pensou-se que a criatura poderia ter de sair do governo. Mas não. Está lá, mas nunca mais foi visto em público. Que andará ele a fazer?

 

Jornalista