Tudo é dimensão na epopeia de Joana Vasconcelos. Para a exposição do Guggen-heim foram produzidas 14 obras de raiz de um total de 35, incluindo uma máscara veneziana elaborada com 231 molduras de duplo espelho e que tem um peso aproximado de 2,5 toneladas.
A peça é o chamariz de uma mostra que junta “peças muito significativas de toda a trajetória de Joana Vasconcelos, mas também trabalhos novos”, explicou o comissário do museu, Enrique Juncosa, que olha para a obra como o casamento do “muito sofisticado com o popular”.
Nesse compromisso entre o inédito e o moderno está a instalação de grande porte “Egéria”, concebida especificamente para ficar suspensa no pátio central (átrio) do museu, onde irá interagir com os complexos espaços desenhados pelo arquiteto do edifício, Frank Gehry.
Obras icónicas como o “Pop Galo”, um enorme Galo de Barcelos em azulejos e luzes LED – que iniciou no final de 2016, em Lisboa, uma simbólica itinerância por várias cidades do mundo –, “A Noiva”, um candelabro feito com tampões, “Marilyn”, um par de sapatos de salto alto feito com panela, e peças selecionadas das séries “Urinóis”, “Pinturas em crochet” e “Bordalos” fazem com que uma parcela de “I’m Your Mirror” seja um retrovisor para a memória – a peça mais antiga data de 1997.
O título da exposição “é também uma homenagem a Nico [voz da canção com o mesmo nome dos Velvet Underground]”. No título, o verbo é usado no futuro (”serei o teu espelho”), mas no da exposição a conjugação é alterada para o presente do indicativo (”sou o teu espelho”) porque a mostra “espelha o presente, não o futuro”. “Um reflexo do mundo que a rodeia”, reflete o comissário.
A primeira exposição em nome próprio de uma artista portuguesa num dos panteões da arte “insere-se na linha de pensamento curatória do Museu Guggen-heim Bilbao, iniciada há quatro anos, de grandes exposições de mulheres artistas”, justificou Petra Joos, também ela comissária da mostra, na apresentação à imprensa.
Para Juan Ignacio Vidarte, o diretor do museu, Joana Vasconcelos foi convidada para expor a sua obra naquela instituição por ser “artista contemporânea relevante” e a sua obra encaixar na programação da instituição. “É uma artista contemporânea relevante e uma das linhas de programação do museu é apresentar ao nosso público a obra de artistas contemporâneos que são relevantes”, comentou.
“Através da construção de imagens chocantes, festivas e diretas que se referem a assuntos sociopolíticos próprios das sociedades consumidoras, pós-coloniais e globalizadas, Joana Vasconcelos aborda temas que vão desde a imigração até à violência de género”, reforça o museu. E não por acaso, a exibição começa com algumas peças emblemáticas dos anos inaugurais como “Cama Valium” (1998), “Burka” (2002) e “A Noiva” (2001-2005), em que aborda questões sensíveis sobre a identidade feminina, ora na esfera privada ora na esfera política e social.
Depois de Bilbao, onde a mostra fica patente até 11 de novembro, está a ser “preparada uma itinerância”, estando “Petra Joos a trabalhar com Serralves e Roterdão para que a acolham”. As enormes proporções da “Egéria” não a deixarão viajar para o Porto. De resto, todas as exposições serão iguais a este regresso com lugar para a partida.
Nada de novo no cacilheiro dos Descobrimentos de Joana Vasconcelos. Em 2005 participou na Bienal de Veneza com a “A Noiva”. Em 2012, foi a primeira mulher e artista mais jovem a expor obras no Palácio de Versalhes, em Paris. E um ano depois representou oficialmente Portugal na Bienal de Arte de Veneza, num projeto comissariado por Miguel Amado que levou um cacilheiro, transformado em obra de arte, ao recinto principal da mostra internacional de arte contemporânea.